De Povos Indígenas no Brasil
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Línguas indígenas sopradas, assobiadas e de sinais

Por Altaci Kokama

A fala modal não se constitui a única forma de fonação relevante para as expressões linguísticas importantes para os povos indígenas. Nos mitos, o canto é a vocalização por excelência da época em que ainda não havia a diferenciação entre humanos e animais. A aprendizagem de cantos é inclusive um dos principais vetores de sociabilidade entre os coletivos humanos e não-humanos, estando na origem de rituais, cerimônias e alianças. No que diz respeito ao xamanismo, o sopro, o murmúrio e outras modalidades vocais como a laringalização são fundamentais para a realização de benzimentos, cantos e negociações com os espíritos. Entre os Hup'däh no Alto Rio Negro, a fala soprada do xamanismo é considerada uma língua por si mesma.

Assim, considerar as distintas formas de fonação é importante para a compreensão das concepções de linguagem e a diversidade linguística presente nas línguas ameríndias.

Dentre as modalidades de fonação registradas entre os povos indígenas estão as línguas assobiadas. Povos indígenas no Brasil como os Ikolen (Família Tupi Mondé) e Pirahã (Família Mura) possuem línguas assim. Nas línguas assobiadas, os sons da línguas são realizados sob a forma de silvos, com redução dos movimentos articulatórios e predomínio da parte posterior do trato vocal para o mecanismo de sopro melódico que caracteriza o assobio. Nas línguas assobiadas, os traços acústicos desempenham papel importante na percepção dos segmentos e das palavras. De acordo com o linguista Andrew Nevis da Universidade Federal do Rio de Janeiro:

As línguas assobiadas se encontram entre as línguas mais ameaçadas do mundo.

O assobio é o recurso sonoro ideal para comunicação em grandes distâncias por sofrer menor degradação acústica que a fala. Os Ikolen possuem várias técnicas para potencializar as capacidades sônicas dos assobios. Para longas distâncias, ampliam a fricção da saída do ar utilizando o anteparo do dente (como ocorrem em algumas consoantes fricativas) ou folhas para intensificar o efeito. Também pressionam os lábios com as mãos para estreitar o orifício de passagem de ar, intensificando a estridência.

A fala assobiada dos Gavião de Rondônia é um exemplo impressionante de como as línguas indígenas se adaptam aos contextos específicos de seus territórios, demonstrando a profunda conexão entre linguagem, sobrevivência e cultura.

Mas no caso dos povos indígenas, as línguas assobiadas são usadas sobretudo em incursões na mata, como em situações de caça. A fonação modal da fala denunciaria os caçadores como humano enquanto a língua assobiada corresponderia à língua de bichos da floresta, que não se afugentariam com as conversas sibiladas. As distintas modalidades de fonação indicariam assim as diferenças linguísticas interespecíficas.

As línguas assobiadas não se restringem aos aspectos funcionais da comunicação, mas estão profundamente associadas às concepções cosmológicas e à ontologia da linguagem dos povos indígenas.

Línguas indígenas de sinais (LIS)

As línguas indígenas de sinais são profundamente conectadas aos territórios indígenas, se expressando no cheiro da terra, nos movimentos das árvores, dos peixes, das aves e das cobras, assim como na dança dos pássaros e em tantas outras manifestações da natureza.

No contexto da Década das Línguas Indígenas já foram documentadas 31 línguas indígenas de sinais, pelos pesquisadores indígenas David Kaique Rodrigues dos Santos, do povo Pataxó, e Saionara Figueiredo Santos, do povo ______ - responsáveis pelo Grupo de Pesquisa Línguas Indígenas de Sinais (LIS).

Entre 2008 e 2023, houve um avanço significativo nas pesquisas sobre línguas indígenas de sinais, ampliando conhecimento para além do povo Ka’apor - um dos primeiros a ser registrado.

  • Língua Indígena Akwe Xerente de Sinais
  • Língua Indígena Apinajé de Sinais
  • Língua Indígena Asurini de Sinais
  • Língua Indígena Apurinã de Sinais
  • Língua Indígena Caixana de Sinais
  • Língua Indígena Cinta Larga de Sinais
  • Língua Indígena Fulni-ô de Sinais
  • Língua Indígena Guarani Kaiowá de Sinais
  • Língua Indígena Hãtxa Kuin de Sinais
  • Língua Indígena Ka’apor de Sinais
  • Língua Indígena Kaingang de Sinais
  • Língua Indígena Kambeba de Sinais
  • Língua Indígena Macuxi de Sinais
  • Língua Indígena Marubo de Sinais
  • Língua Indígena Maxakali de Sinais
  • Língua Indígena Munduruku de Sinais
  • Língua Indígena Nambikwara de Sinais
  • Língua Indígena Paiter Suruí de Sinais
  • Língua Indígena Pankararu de Sinais
  • Língua Indígena Pataxó de Sinais
  • Língua Indígena Sateré-Mawé de Sinais
  • Língua Indígena Tapajó de Sinais
  • Língua Indígena Tapayuna de Sinais
  • Língua Indígena Tapeba de Sinais
  • Língua Indígena Tentehar de Sinais
  • Língua Indígena Terena de Sinais
  • Língua Indígena Tupinambá de Sinais
  • Língua Indígena Wapichana de Sinais
  • Língua Indígena Wauja de Sinais
  • Língua Indígena Xukuru do Ororubá de Sinais
  • Língua Indígena Xakriabá de Sinais
  • Língua Indígena Yanomami de Sinais