De Povos Indígenas no Brasil
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Notícias

Homenagem indígena ao jornalista Roberto Marinho durante o Quarup

16/08/2004

Fonte: Jornal Nacional-Rio de Janeiro-RJ



O parque indígena do Xingu, no norte do Mato Grosso, defende o paraíso há 40 anos: água, homem, bicho, tudo em paz.


As queimadas e os pastos moram ao lado. O desmatamento para plantar arroz e soja ameaça o Rio Xingu. Mas dentro de uma Aldeia Camaiurá, a vida segue quase igual à dos antepassados. Ou quase.

Depois de mais de um ano de reclusão, as adolescentes ainda passam pelo ritual da apresentação de oca em oca. Mas, agora, como em qualquer baile de debutantes, tem sempre alguém registrando, filmando.

Valorizar a cultura é, acima de tudo, preparar o Quarup - a grande festa dos mortos. É preciso pescar, fazer o beiju, decorar os troncos que representam quem morreu no último ano.

Ao lado dos troncos dos mortos, representados ali estavam quatro líderes indígenas do Xingu. O quinto era dedicado a um brasileiro de fora da aldeia: o jornalista Roberto Marinho.

O pajé Sapain diz que a idéia da homenagem veio num sonho."Roberto Marinho faleceu e meu espírito veio falar comigo.

Pajé sonhou que ele já faleceu", conta o pajé. Então, foi feita uma homenagem à opinião pública brasileira, porque eles sabem que é com a opinião pública que eles se defendem, que eles estão mais perto do Brasil", afirma Mércio Pereira, presidente da Funai.

Os índios do Xingu já fizeram homenagens como estas a pessoas de fora de suas aldeias no passado. Já houve Quarup também para o antropólogo Darcy Ribeiro e para os irmãos sertanistas Cláudio e Orlando Vilas Boas - as pessoas que praticamente criaram o parque indígena do Xingu.

Neste ano, o Ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, foi ao Xingu para a cerimônia. Cumprindo a tradição, a família Marinho participou do Quarup. O representante foi José Roberto Marinho, um dos três filhos do jornalista, vice-presidente das Organizações Globo e presidente da Fundação Roberto Marinho. Também vieram quatro netos do fundador da Globo.

Guerreiros camaiurás pintaram o visitante com jenipapo e urucum. Um ritual que, para os índios, começa a romper o luto. Depois, os Marinho compartilharam a longa cerimônia de despedida. Os índios atravessaram a noite chorando diante dos troncos do Quarup. O primeiro sol da manhã encerrou a tristeza.

Agora, as famílias dos homenageados no Quarup podem retomar suas rotinas. Podem voltar ao ritmo normal da vida, com muita festa e luta. O simbolismo é forte como os guerreiros do Xingu. O Quarup termina com a vitória da vida sobre a morte. A energia dos lutadores, os casamentos arranjados no meio da festa, tudo marca o eterno renascimento deste povo.

"Foi uma homenagem muito bonita para o meu pai. Você vê que, para eles, é uma festa muito importante, que acontece só uma vez por ano. Eles terminam o luto e vão para essa coisa enérgica que está aí, que é essa luta cheia de energia. Então, depois da perda, vem a celebração da vida", define José Roberto Marinho, vice-presidente das Organizações Globo.
 

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