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MPF processa 'antropólogo dos ruralistas' por atos racistas contra cacique Raoni
19/09/2022
Autor: Paulo Assad
Fonte: O Globo: https://oglobo.globo.com
Órgão pede R$ 100 mil de indenização; conduta de Edward Luz, que já foi detido por invadir terra indígena, foi classificada como 'assédio sistemático'
O Ministério Público Federal ajuizou, na última quinta-feira, uma ação civil pública contra Edward Mantonelli Luz, a quem se referiu como o 'antropólogo dos ruralistas'. O órgão pede R$ 100 mil reais por atos classificados como racistas realizados pelo homem contra o cacique Raoni Metuktire, do povo Kayapó Mebengokrê, durante um evento em Altamira em novembro de 2020.
A conduta do antropólogo durante o evento foi classificada como assédio sistemático contra o líder indígena pelo MPF. Procurado pelo GLOBO, Edward Luz ainda não se manifestou.
A ação também pede que o antropólogo faça um pedido de desculpas pelas redes sociais em que teria caluniado a liderança indígena. Há ainda pedidos do MPF para que o conteúdo ofensivo ao cacique seja retirado das redes dentro de um prazo de 48 horas.
Em novembro de 2020, o município de Altamira recebeu o evento o Amazônia Centro do Mundo, em que Raoni foi o convidado de honra. Pelas redes, Edward Luz atacou a organização do evento por um suposto conluio entre ONGs e indígenas contra a soberania nacional.
No dia 18 de novembro, conforme o relato do MPF, Edward Luz e mais 15 fazendeiros locais compareceram ao campus da UFPA, onde o evento acontecia, iniciando um tumulto e pedindo pela execução do hino nacional. Eles empurraram pessoas que se manifestavam no local contra o grupo.
O cacique Raoni teria pedido para que membros de sua tribo não reagissem às provocações e avisou a Edward Luz que tivesse respeito pelos indígenas. O grupo liderado por Luz, segundo o MPF, agrediu um professor da instituição e acabou sendo retirado do local pela Polícia Federal.
Nos dias seguintes, áudios começaram a circular em Altamira acusando o cacique Raoni de ter ordenado atos de violência dos participantes do evento contra o grupo de Luz. Segundo relataram testemunhas ao MPF, o antropólogo chegou a ir ao hotel em que o indígena estava hospedado para confrontá-lo - Raoni, no entanto, já estava pernoitando em outro local.
Antes mesmo do evento, o assédio de Edward Luz a Raoni fez a liderança indígena ser obrigada a mudar de hotel mais de uma vez, segundo contou a antropóloga Thais Montavanelli, que acompanhava o cacique e prestou parecer técnico ao MPF sobre o caso.
Vídeos divulgados nas redes sociais mostram o momento em que o antropólogo é expulso do evento:
Para o MPF, a "atribuição de qualificações negativas a um líder de grupo de indivíduos, como a realizada pelo demandado, com intuito evidentemente discriminatório, atinge a dignidade deste grupo perante a sociedade, o que constitui abuso do direito de expressar-se livremente". O episódio foi assim classificado como um caso de preconceito étnico racial pelo MPF e incentivo à discriminação. Ainda de acordo com o órgão, os ataques de Edward Luz ao cacique criam o risco de "dano irreparável", dado ser um estímulo a violência contra indígenas.
Três vezes detido
O antropólogo foi detido pelo menos três vezes em situações semelhantes e responde a outras três ações penais, todas do MPF. Ele foi detido pelas autoridades ao tentar invadir terra indígena e por impedir o trabalho de agentes do IBAMA. A sua última prisão foi em julho de 2022, e ele acabou solto e é atualmente monitorado por tornozeleira eletrônica.
Uma das detenções de Edward Luz aconteceu em fevereiro de 2020. Nesse episódio, ele foi advertido inicialmente por agentes do IBAMA por adentrar a Terra Indígena Itauna-Itatá, que abrange áreas dos municípios de Altamira e Senador José Porfírio. Ele alegava estar no local para para cumprir um acordo firmado entre o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e o Ministério Público Federal (MPF) contra a destruição de "patrimônio de população em situação de fragilidade". Na época, Salles negou conhecer o antropólogo.
Luz teria se recusado a deixar o local mesmo após as ordens dos dois agentes do Ibama alegando que os fiscais não teriam ordem de prisão nem poder para prendê-lo, já que eram servidores do Instituto. Um dos agentes, então, alega que a situação é um flagrante delito e decreta a prisão.
A Polícia Federal declarou através de uma nota que Luz "estaria impedindo a fiscalização do órgão público federal na área da Terra Indígena Ituna/Itata". Ele foi preso pelo crime de desobediência após ser advertido e não atender a reiteradas ordens para se retirar do local. Ele foi liberado após se comprometer a comparecer em audiência marcada pela Justiça Federal.
https://oglobo.globo.com/brasil/noticia/2022/09/mpf-processa-antropologo-dos-ruralistas-por-atos-racistas-contra-cacique-raoni.ghtml
O Ministério Público Federal ajuizou, na última quinta-feira, uma ação civil pública contra Edward Mantonelli Luz, a quem se referiu como o 'antropólogo dos ruralistas'. O órgão pede R$ 100 mil reais por atos classificados como racistas realizados pelo homem contra o cacique Raoni Metuktire, do povo Kayapó Mebengokrê, durante um evento em Altamira em novembro de 2020.
A conduta do antropólogo durante o evento foi classificada como assédio sistemático contra o líder indígena pelo MPF. Procurado pelo GLOBO, Edward Luz ainda não se manifestou.
A ação também pede que o antropólogo faça um pedido de desculpas pelas redes sociais em que teria caluniado a liderança indígena. Há ainda pedidos do MPF para que o conteúdo ofensivo ao cacique seja retirado das redes dentro de um prazo de 48 horas.
Em novembro de 2020, o município de Altamira recebeu o evento o Amazônia Centro do Mundo, em que Raoni foi o convidado de honra. Pelas redes, Edward Luz atacou a organização do evento por um suposto conluio entre ONGs e indígenas contra a soberania nacional.
No dia 18 de novembro, conforme o relato do MPF, Edward Luz e mais 15 fazendeiros locais compareceram ao campus da UFPA, onde o evento acontecia, iniciando um tumulto e pedindo pela execução do hino nacional. Eles empurraram pessoas que se manifestavam no local contra o grupo.
O cacique Raoni teria pedido para que membros de sua tribo não reagissem às provocações e avisou a Edward Luz que tivesse respeito pelos indígenas. O grupo liderado por Luz, segundo o MPF, agrediu um professor da instituição e acabou sendo retirado do local pela Polícia Federal.
Nos dias seguintes, áudios começaram a circular em Altamira acusando o cacique Raoni de ter ordenado atos de violência dos participantes do evento contra o grupo de Luz. Segundo relataram testemunhas ao MPF, o antropólogo chegou a ir ao hotel em que o indígena estava hospedado para confrontá-lo - Raoni, no entanto, já estava pernoitando em outro local.
Antes mesmo do evento, o assédio de Edward Luz a Raoni fez a liderança indígena ser obrigada a mudar de hotel mais de uma vez, segundo contou a antropóloga Thais Montavanelli, que acompanhava o cacique e prestou parecer técnico ao MPF sobre o caso.
Vídeos divulgados nas redes sociais mostram o momento em que o antropólogo é expulso do evento:
Para o MPF, a "atribuição de qualificações negativas a um líder de grupo de indivíduos, como a realizada pelo demandado, com intuito evidentemente discriminatório, atinge a dignidade deste grupo perante a sociedade, o que constitui abuso do direito de expressar-se livremente". O episódio foi assim classificado como um caso de preconceito étnico racial pelo MPF e incentivo à discriminação. Ainda de acordo com o órgão, os ataques de Edward Luz ao cacique criam o risco de "dano irreparável", dado ser um estímulo a violência contra indígenas.
Três vezes detido
O antropólogo foi detido pelo menos três vezes em situações semelhantes e responde a outras três ações penais, todas do MPF. Ele foi detido pelas autoridades ao tentar invadir terra indígena e por impedir o trabalho de agentes do IBAMA. A sua última prisão foi em julho de 2022, e ele acabou solto e é atualmente monitorado por tornozeleira eletrônica.
Uma das detenções de Edward Luz aconteceu em fevereiro de 2020. Nesse episódio, ele foi advertido inicialmente por agentes do IBAMA por adentrar a Terra Indígena Itauna-Itatá, que abrange áreas dos municípios de Altamira e Senador José Porfírio. Ele alegava estar no local para para cumprir um acordo firmado entre o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e o Ministério Público Federal (MPF) contra a destruição de "patrimônio de população em situação de fragilidade". Na época, Salles negou conhecer o antropólogo.
Luz teria se recusado a deixar o local mesmo após as ordens dos dois agentes do Ibama alegando que os fiscais não teriam ordem de prisão nem poder para prendê-lo, já que eram servidores do Instituto. Um dos agentes, então, alega que a situação é um flagrante delito e decreta a prisão.
A Polícia Federal declarou através de uma nota que Luz "estaria impedindo a fiscalização do órgão público federal na área da Terra Indígena Ituna/Itata". Ele foi preso pelo crime de desobediência após ser advertido e não atender a reiteradas ordens para se retirar do local. Ele foi liberado após se comprometer a comparecer em audiência marcada pela Justiça Federal.
https://oglobo.globo.com/brasil/noticia/2022/09/mpf-processa-antropologo-dos-ruralistas-por-atos-racistas-contra-cacique-raoni.ghtml
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