De Povos Indígenas no Brasil
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Notícias
Crise de humanismos ou crise humanitária?
17/12/2024
Autor: CESAR, José Renato de Castro
Fonte: FSP - https://www1.folha.uol.com.br/
Crise de humanismos ou crise humanitária?
Fogo maldito das queimadas simboliza ódio de certa gente aos defensores dos biomas nacionais
José Renato de Castro Cesar
Indigenista do Museu Nacional dos Povos Indígenas (Funai-RJ), é doutor em ciências ambientais e conservação (UFRJ)
17/12/2024
A crise da civilização ocidental foi muito bem delineada pelo saudoso mestre Padre Henrique C. de Lima Vaz (SJ, 1986, 1991, 1992) e, também, pelo professor Jacinto Choza (1988). E por outros expoentes da antropologia filosófica e da psicanálise.
Lima Vaz nos ensinou que "o humanismo teocêntrico é um seguro itinerário para a realização plena do ser humano em sua existência pessoal e social" (sic). O humanismo teocêntrico é o conhecimento sociocultural, filosófico, biológico e físico que coloca Deus como o centro da vida do Universo. Mesmo para os que não creem em Deus, esses ensinamentos permitem compreender como foi que a razão e a fé dos povos judaico-cristãos, diante de outras civilizações, formaram o que se convencionou denominar de "cultura ocidental" ou "civilização ocidental".
Não pensem os neófitos que outros povos estariam excluídos desse contexto civilizatório. As obras de Lima Vaz e de Jacinto Choza demonstram o que representa a razão e a fé dos povos árabes, judaico-cristãos, africanos, asiáticos e indígenas. O Ocidente não se resume, apenas, à Bíblia como desígnio da razão e da fé. Toda arte, ciência e política que a Humanidade construiu convergiu para o Ocidente.
Ora, o grande desafio do século 20 foi "analisar a realidade sociocultural contemporânea e a crise da modernidade sob os aspectos filosóficos, éticos, políticos e religiosos" (sic). A realidade sociocultural e ambiental contemporânea, portanto, pesa sobre nossos ombros de forma cruel, ameaçadora e medonha. Só nos resta a esperança de que conseguiremos superar os abismos humanitários que se interpõem à caminhada humana rumo à sua transcendência e imanência. E, para conseguirmos a nossa permanência na Terra como espécie que se diz inteligente, o que deveremos fazer?
A crise da civilização ocidental é humanitária. Sua seiva é a ignorância. Mais que a fome e a miséria. A ignorância acompanhada do fanatismo, do orgulho, do medo, do ódio, da preguiça e da inveja. A ignorância acompanhada da avareza e da ganância. Ignorância, medo e a ganância sórdida vão destruindo a natureza. E, nem sequer a conhecemos, em suas múltiplas paisagens, para saber "como" e "por que" devemos (ou não) agir sobre ela. A ignorância não nos permite deixar "o mato" proteger a água.
A história ("longue durée") das civilizações amazônicas ancestrais, com suas mais de 4.000 espécies de plantas úteis devidamente cultivadas como jardins florestais e invadidas pela Europa "moderna" de 1490, é emblemática e paradoxal para confrontarmos essa "crise de humanismos" (sic). É como se chegássemos ao último buraco do inferno: destruir uma floresta ajardinada de 6.000 anos para colocar bois e defender ali uma pecuária "sustentável". Isso não é apenas ignorância, é perversidade.
Depois de todas as façanhas de Nicholas Georgescu-Roegen, Herman Daly, Joseph Stiglitz, Robert Costanza, Cutler Cleveland, Richard Howarth e muitos outros cientistas de renome, ainda tem quem advogue e defenda a pecuária e o extrativismo mineral na Amazônia como sendo viáveis economicamente. Ainda tem quem advogue que se pode desmatar a Amazônia para plantar pasto e soja e faiscar ouro!
Os pérfidos interesses financistas que sustentam tal razão estão conduzindo a humanidade a uma crise irreversível. A fé cristã está ameaçada no seu âmago: nas virtudes teologais que ninguém mais conhece! Abomina-se a espiritualidade. O que vale é o materialismo, o consumismo, o solipsismo e a superficialidade das relações mundanas e frívolas.
Não podemos esquecer que as queimadas sem controle simbolizam o inferno! E que esse fogo maldito simboliza muito bem o ódio de certa gente ao humanismo que defende os biomas nacionais da ignorância, da ganância, do medo e da insensatez.
https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2024/12/crise-de-humanismos-ou-crise-humanitaria.shtml
Fogo maldito das queimadas simboliza ódio de certa gente aos defensores dos biomas nacionais
José Renato de Castro Cesar
Indigenista do Museu Nacional dos Povos Indígenas (Funai-RJ), é doutor em ciências ambientais e conservação (UFRJ)
17/12/2024
A crise da civilização ocidental foi muito bem delineada pelo saudoso mestre Padre Henrique C. de Lima Vaz (SJ, 1986, 1991, 1992) e, também, pelo professor Jacinto Choza (1988). E por outros expoentes da antropologia filosófica e da psicanálise.
Lima Vaz nos ensinou que "o humanismo teocêntrico é um seguro itinerário para a realização plena do ser humano em sua existência pessoal e social" (sic). O humanismo teocêntrico é o conhecimento sociocultural, filosófico, biológico e físico que coloca Deus como o centro da vida do Universo. Mesmo para os que não creem em Deus, esses ensinamentos permitem compreender como foi que a razão e a fé dos povos judaico-cristãos, diante de outras civilizações, formaram o que se convencionou denominar de "cultura ocidental" ou "civilização ocidental".
Não pensem os neófitos que outros povos estariam excluídos desse contexto civilizatório. As obras de Lima Vaz e de Jacinto Choza demonstram o que representa a razão e a fé dos povos árabes, judaico-cristãos, africanos, asiáticos e indígenas. O Ocidente não se resume, apenas, à Bíblia como desígnio da razão e da fé. Toda arte, ciência e política que a Humanidade construiu convergiu para o Ocidente.
Ora, o grande desafio do século 20 foi "analisar a realidade sociocultural contemporânea e a crise da modernidade sob os aspectos filosóficos, éticos, políticos e religiosos" (sic). A realidade sociocultural e ambiental contemporânea, portanto, pesa sobre nossos ombros de forma cruel, ameaçadora e medonha. Só nos resta a esperança de que conseguiremos superar os abismos humanitários que se interpõem à caminhada humana rumo à sua transcendência e imanência. E, para conseguirmos a nossa permanência na Terra como espécie que se diz inteligente, o que deveremos fazer?
A crise da civilização ocidental é humanitária. Sua seiva é a ignorância. Mais que a fome e a miséria. A ignorância acompanhada do fanatismo, do orgulho, do medo, do ódio, da preguiça e da inveja. A ignorância acompanhada da avareza e da ganância. Ignorância, medo e a ganância sórdida vão destruindo a natureza. E, nem sequer a conhecemos, em suas múltiplas paisagens, para saber "como" e "por que" devemos (ou não) agir sobre ela. A ignorância não nos permite deixar "o mato" proteger a água.
A história ("longue durée") das civilizações amazônicas ancestrais, com suas mais de 4.000 espécies de plantas úteis devidamente cultivadas como jardins florestais e invadidas pela Europa "moderna" de 1490, é emblemática e paradoxal para confrontarmos essa "crise de humanismos" (sic). É como se chegássemos ao último buraco do inferno: destruir uma floresta ajardinada de 6.000 anos para colocar bois e defender ali uma pecuária "sustentável". Isso não é apenas ignorância, é perversidade.
Depois de todas as façanhas de Nicholas Georgescu-Roegen, Herman Daly, Joseph Stiglitz, Robert Costanza, Cutler Cleveland, Richard Howarth e muitos outros cientistas de renome, ainda tem quem advogue e defenda a pecuária e o extrativismo mineral na Amazônia como sendo viáveis economicamente. Ainda tem quem advogue que se pode desmatar a Amazônia para plantar pasto e soja e faiscar ouro!
Os pérfidos interesses financistas que sustentam tal razão estão conduzindo a humanidade a uma crise irreversível. A fé cristã está ameaçada no seu âmago: nas virtudes teologais que ninguém mais conhece! Abomina-se a espiritualidade. O que vale é o materialismo, o consumismo, o solipsismo e a superficialidade das relações mundanas e frívolas.
Não podemos esquecer que as queimadas sem controle simbolizam o inferno! E que esse fogo maldito simboliza muito bem o ódio de certa gente ao humanismo que defende os biomas nacionais da ignorância, da ganância, do medo e da insensatez.
https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2024/12/crise-de-humanismos-ou-crise-humanitaria.shtml
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