De Povos Indígenas no Brasil
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Notícias

Os migrantes do clima estão entre nós

19/01/2025

Autor: MADALOSSO, Giovana

Fonte: FSP - https://www1.folha.uol.com.br/



Os migrantes do clima estão entre nós
Conheci gente que migrou para Curitiba em busca de uns graus Celsius a menos

Giovana Madalosso

19/01/2025

Como muitos leitores sabem, tenho vivido entre São Paulo e Curitiba. E, nesta segunda cidade, venho assistindo a uma onda migratória peculiar, diferente de qualquer outra que acompanhei até então.

A primeira vez que vislumbrei a onda foi num jantar. Curitiba não é como São Paulo ou Rio, em que as mesas reúnem comensais egressos dos quatro cantos. É raro se ouvir um sotaque diferente entre as araucárias e, de repente, o de um casal chamou a minha atenção. Eram dois artistas manauaras que tinham acabado de se mudar para a capital paranaense. Perguntei por que tinham feito isso. Para fugir do calor, o manauara respondeu, argumentando que a capital do Amazonas nunca esteve tão quente.

Nos meses seguintes, descobri que aquele não era um caso único. Ao lado de imigrantes venezuelanos, cubanos e haitianos, que costumam optar por Curitiba por motivos de natureza política ou econômica, os brasileiros chegam buscando mais qualidade de vida e -aí vem a novidade- às vezes uns graus Celsius a menos, como outra família que conheci, vinda do Espírito Santo.

Isso sem falar nos gaúchos que, traumatizados com a catástrofe climática que destruiu Porto Alegre e com a inépcia do governo em preparar a cidade para um possível novo episódio, escolheram mudar de vez para esta outra capital do sul.

Faço ioga com uma paulistana recém-chegada que não mencionou a crise climática como motivo para ter saído de São Paulo. No entanto, entre um movimento de braço e outro, ela disse que migrou por conta do caos, dando como exemplo a fumaça das queimadas que rebaixaram o ar da pauliceia ao pior do mundo (olha a crise climática aí) e as quedas prolongadas de luz que lhe fizeram perder trabalho e dinheiro (olha a crise climática aí de novo, somada à inépcia de Enel).

E o que dizer de Santa Catarina nos últimos dias? E de Los Angeles? Quantas pessoas, neste exato momento, não cogitam deixar suas cidades? Os habitantes das ilhas Tuvalu não podem nem se dar ao luxo de cogitar. A chance de as ilhas desaparecerem é tão concreta que a Austrália já estuda um acordo para receber esses imigrantes.

Tirando casos agudos, a escolha de migrar ou não migrar acaba por ser um privilégio de classe. Nos próximos anos, assistiremos ao triste espetáculo dos ricos migrando para áreas mais seguras e amenas. Ou instagramando fotos de seus bunkers.

Para a maioria dos cidadãos, e logo mais para todos, restará a aventura de viver em um planeta colapsado pela emissão de carbono, onde não existe mais lugar seguro e, em breve, não haverá mais tantos lugares segurados -algumas empresas já cancelaram apólices em áreas passíveis de incêndios e outros desastres climáticos.

O que fazer com a nossa trouxinha de roupa? Se possível, manter onde está e lutar para que o município que habitamos, onde estão as pessoas que amamos, seja preparado para as condições extremas.

É muito mais caro criar novos povoamentos do que preparar as cidades que já existem para o enfrentamento climático. Mas é preciso cobrar os prefeitos, que, em sua grande maioria, seguem cimentando as cidades sem nenhum critério ambiental, enquanto o Brasil e outros países abrem novos poços de petróleo, garantia de que dias piores, infelizmente, virão.

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/giovana-maladosso/2025/01/os-migrantes-do-clima-estao-entre-nos.shtml
 

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