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Notícias
Enfraquecer o Ibama é má política para o anfitrião da COP30
18/02/2025
Autor: CARVALHO, Ilona Szabó de
Fonte: FSP - https://www1.folha.uol.com.br/
Enfraquecer o Ibama é má política para o anfitrião da COP30
Pressão por petróleo na Foz do Amazonas pode tornar lenga-lenga a transição energética
Ilona Szabó de Carvalho
Presidente do Instituto Igarapé, membro do Conselho de Alto Nível sobre Multilateralismo Eficaz, do Secretário-Geral. da ONU, e mestre em estudos internacionais pela Universidade de Uppsala (Suécia)
18/02/2025
Dizem os dicionários que a expressão lenga-lenga se aplica a uma conversa enfadonha e longa. Quando aplicado ao processo do Ibama para autorizar a Petrobras a prospectar petróleo no litoral do Amapá, como fez o presidente Lula, o termo perde seu sentido pejorativo e ganha um grave sentido político.
O que a fala presidencial descortinou foi como as contradições internas no projeto brasileiro de transição verde podem reduzir a uma lenga-lenga a ambição do país de liderar pelo exemplo a urgente transformação da economia global em modelos sustentáveis e justos para as pessoas e para o planeta.
A pressão pública para que o Ibama decida logo em favor da exploração de petróleo na Foz do Amazonas é má ideia. Em meio à grave crise climática, o foco precisa ser em migrar os incentivos regulatórios e financeiros para uma transição que garanta a segurança energética nacional. Essa escolha -que está em nossas mãos- é determinante para que o Brasil não precise explorar petróleo na Foz do Amazonas.
Não se pode colocar a agenda de poder do Congresso Nacional e sua relação com interesses e ganhos privados, tanto eleitorais quanto da indústria do petróleo, acima da segurança climática da população.
A culpabilização do Ibama parece tentar mascarar o descompasso entre o anúncio de procurar petróleo em uma bacia na costa amazônica tão biodiversa e vulnerável e ser o anfitrião de uma conferência do clima decisiva, na mesma região. A Amazônia é chave para frear as mudanças climáticas e a perda de biodiversidade, e nossa liderança na COP30 demanda responsabilidade e coerência.
Nem o presidente Lula nega essa contradição, mas a decisão política passa por cima dela. E o que nós, brasileiros, esperamos é que seja resolvida, com base em um debate informado e com o interesse público no centro. O que é mais importante: continuar sendo um exportador de petróleo com vaga na Opep+ ou garantir uma transição verde e justa e um planeta habitável para a atual e as futuras gerações?
Os que defendem a exploração argumentam que o país não pode abrir mão de fazer dinheiro com o potencial das reservas de petróleo da Margem Equatorial e que esse dinheiro pagaria a nossa transição energética.
Esse argumento peca por considerar o petróleo a única riqueza economicamente possível, sem contabilizar os imensos subsídios recebidos pela indústria e suas "externalidades" não precificadas. E ainda coloca na equação a mesma desculpa de outros países produtores: a de que nossa produção atenderia a uma incerta demanda global remanescente de forma mais eficaz.
Temos em soluções baseadas na natureza e no clima -desde o restauro de biomas e o desenvolvimento de biocombustíveis ao investimento em biotecnologias, energias renováveis e na economia circular- caminhos para modelos econômicos viáveis e sustentáveis de baixo carbono.
Às portas da COP30, em Belém, o governo federal não pode se arrastar na questão dos combustíveis fósseis. Qual será o passo concreto para a transição gradual acordada na COP28?
Na coluna passada, disse que o mundo espera mágica do Brasil na COP30. E a credibilidade é a nossa varinha de condão. A hora é de fortalecer as instituições de proteção ambiental e de gestão sustentável dos recursos naturais e de liderar na direção de novos modelos econômicos que garantam a prosperidade e o bem-estar da população.
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/ilona-szabo/2025/02/enfraquecer-o-ibama-e-ma-politica-para-o-anfitriao-da-cop30.shtml
Pressão por petróleo na Foz do Amazonas pode tornar lenga-lenga a transição energética
Ilona Szabó de Carvalho
Presidente do Instituto Igarapé, membro do Conselho de Alto Nível sobre Multilateralismo Eficaz, do Secretário-Geral. da ONU, e mestre em estudos internacionais pela Universidade de Uppsala (Suécia)
18/02/2025
Dizem os dicionários que a expressão lenga-lenga se aplica a uma conversa enfadonha e longa. Quando aplicado ao processo do Ibama para autorizar a Petrobras a prospectar petróleo no litoral do Amapá, como fez o presidente Lula, o termo perde seu sentido pejorativo e ganha um grave sentido político.
O que a fala presidencial descortinou foi como as contradições internas no projeto brasileiro de transição verde podem reduzir a uma lenga-lenga a ambição do país de liderar pelo exemplo a urgente transformação da economia global em modelos sustentáveis e justos para as pessoas e para o planeta.
A pressão pública para que o Ibama decida logo em favor da exploração de petróleo na Foz do Amazonas é má ideia. Em meio à grave crise climática, o foco precisa ser em migrar os incentivos regulatórios e financeiros para uma transição que garanta a segurança energética nacional. Essa escolha -que está em nossas mãos- é determinante para que o Brasil não precise explorar petróleo na Foz do Amazonas.
Não se pode colocar a agenda de poder do Congresso Nacional e sua relação com interesses e ganhos privados, tanto eleitorais quanto da indústria do petróleo, acima da segurança climática da população.
A culpabilização do Ibama parece tentar mascarar o descompasso entre o anúncio de procurar petróleo em uma bacia na costa amazônica tão biodiversa e vulnerável e ser o anfitrião de uma conferência do clima decisiva, na mesma região. A Amazônia é chave para frear as mudanças climáticas e a perda de biodiversidade, e nossa liderança na COP30 demanda responsabilidade e coerência.
Nem o presidente Lula nega essa contradição, mas a decisão política passa por cima dela. E o que nós, brasileiros, esperamos é que seja resolvida, com base em um debate informado e com o interesse público no centro. O que é mais importante: continuar sendo um exportador de petróleo com vaga na Opep+ ou garantir uma transição verde e justa e um planeta habitável para a atual e as futuras gerações?
Os que defendem a exploração argumentam que o país não pode abrir mão de fazer dinheiro com o potencial das reservas de petróleo da Margem Equatorial e que esse dinheiro pagaria a nossa transição energética.
Esse argumento peca por considerar o petróleo a única riqueza economicamente possível, sem contabilizar os imensos subsídios recebidos pela indústria e suas "externalidades" não precificadas. E ainda coloca na equação a mesma desculpa de outros países produtores: a de que nossa produção atenderia a uma incerta demanda global remanescente de forma mais eficaz.
Temos em soluções baseadas na natureza e no clima -desde o restauro de biomas e o desenvolvimento de biocombustíveis ao investimento em biotecnologias, energias renováveis e na economia circular- caminhos para modelos econômicos viáveis e sustentáveis de baixo carbono.
Às portas da COP30, em Belém, o governo federal não pode se arrastar na questão dos combustíveis fósseis. Qual será o passo concreto para a transição gradual acordada na COP28?
Na coluna passada, disse que o mundo espera mágica do Brasil na COP30. E a credibilidade é a nossa varinha de condão. A hora é de fortalecer as instituições de proteção ambiental e de gestão sustentável dos recursos naturais e de liderar na direção de novos modelos econômicos que garantam a prosperidade e o bem-estar da população.
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/ilona-szabo/2025/02/enfraquecer-o-ibama-e-ma-politica-para-o-anfitriao-da-cop30.shtml
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