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Cresce tensao em reserva de Rondonia

13/04/2004

Fonte: O Globo, O Pais, p.4

Cresce tensão em reserva de Rondônia Rodrigo Rangel BRASÍLIA. O ataque de índios a um garimpo clandestino na reserva Roosevelt, em Rondônia, abriu uma crise entre o governo federal e o governo do estado. O governador de Rondônia, Ivo Cassol (PSDB), acusou ontem as autoridades federais de não adotarem providências para reduzir a tensão entre índios e garimpeiros na região. Cassol repetiu o argumento dos garimpeiros, que dizem haver dezenas de desaparecidos dentro da reserva. Funai impede presença das polícias Militar e Civil As buscas estão sendo feitas apenas pela Polícia Federal, sob coordenação da Funai, que não permite a participação de policiais militares e civis na operação. O governo estadual acusa a Funai de ajudar os índios a esconder corpos de garimpeiros mortos. — Os órgãos do governo federal estão andando a passos de jabuti — reclamou Cassol. O governador disse que tentou discutir o assunto com o presidente da Funai, Mércio Pereira, com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas não conseguiu. Paulo Lustosa, da presidência da Funai, rebateu Cassol: — O governador está querendo caracterizar esses fatos como chacina, o que não é verdade. Os índios agiram em legítima defesa. Três corpos já foram resgatados no interior da reserva, que há anos desperta a cobiça de garimpeiros por abrigar as maiores jazidas de diamantes do país. Ontem, um dos mortos foi identificado como Francisco das Chagas Alves Saraiva. Os outros dois foram enterrados como indigentes. Um ofício enviado pelo Sindicato dos Garimpeiros ao governo de Rondônia e ao Ministério Público lista 14 desaparecidos e diz que o número pode chegar a 50. As buscas ainda não começaram por causa da tensão. A Funai diz que o ataque dos cinta-largas foi um revide a um tiro que teria sido disparado pelos garimpeiros durante uma fiscalização de rotina que os índios faziam na reserva. Em nota, o órgão comparou a Jesus o índio Marcelo Cinta-Larga, amarrado e espancado por garimpeiros no sábado. "A Funai vem a público protestar contra as ações da população daquele município, que humilhou, espancou, seviciou um ser humano da forma mais violenta possível, em pleno sábado de Aleluia, como se o professor Marcelo representasse uma imagem da figura do Cristo Crucificado, que também sofreu o martírio das dores físicas e da humilhação, em seu Calvário de sangue, há dois mil anos", diz a nota. Lula não deve homologar reserva em área contínua Após uma reunião no Palácio do Planalto sobre a reserva Raposa Serra do Sol, o secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci, disse que Lula optou por uma "solução integrada e global para Roraima". As declarações indicam que o governo não pretende homologar a demarcação da área contínua da reserva, como reivindicam ambientalistas e indigenistas. A decisão será anunciada em duas semanas. — A solução é levar em conta tanto os direitos dos cinco povos que vivem em Rondônia como os dos outros moradores. O presidente quer uma solução global — disse Dulci.

O Globo, 13/04/2004, p. 4

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