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Notícias

PF amplia busca e corpos de garimpeiros em RO

12/04/2004

Fonte: O Globo, O Pais, p.5



PF amplia busca a corpos de garimpeiros em RO

Rodrigo Rangel. BRASÍLIA.

A Polícia Federal deve ampliar hoje de manhã em Rondônia as buscas na reserva Roosevelt, da tribo cinta-larga, para tentar localizar outros corpos de garimpeiros mortos pelos índios. As novas buscas serão feitas por terra e não mais de helicóptero. Garimpeiros que conseguiram fugir do ataque dos cintas-largas, na quarta-feira, afirmam que ainda há cerca de 50 desaparecidos. Ontem os corpos de três homens, assassinados quando trabalhavam num garimpo clandestino dentro da reserva, foram recuperados pela PF. Os corpos, em adiantado estado de decomposição, foram levados de helicóptero até uma cidade próxima e depois transportados num carro da polícia para o Instituto Médico-Legal (IML) de Ji-Paraná. Até o início da noite, eles não haviam sido identificados. — A partir de amanhã (hoje), faremos as buscas também por terra — disse o superintendente da Funai em Rondônia, Marco Aurélio Moura. Atraso na operação de busca causa tensão O atraso da operação de busca aumentou a tensão em Espigão d´Oeste, cidade a cerca de cem quilômetros da reserva, onde centenas de garimpeiros se concentram e ameaçam invadir as terras indígenas para procurar os corpos de outras vítimas. Os garimpeiros seqüestraram anteontem um índio que passava de táxi pela cidade e o mantiveram amarrado por quase doze horas. O índio, identificado como Marcelo Cinta-Larga, foi amarrado a uma árvore na praça central de Espigão d’Oeste. Ele chegou a ser espancado pelos garimpeiros, que só concordaram em libertá-lo pouco antes da meia-noite, após exaustiva negociação comandada pela PF. Marcelo foi levado para a delegacia federal de Ji-Paraná, onde seria entregue ainda ontem a funcionários da Funai. Para soltar o índio, os garimpeiros exigiam que a Funai autorizasse um grupo a acompanhar a recuperação dos corpos na reserva Roosevelt. O presidente da Funai, Mércio Pereira Gomes, disse ontem que vai processar os agressores do índio. — Foi uma agressão e os responsáveis terão que ser punidos — disse. A promotora de Justiça da comarca de Espigão, Conceição Forte Baena, acusou a Funai de atrasar a liberação da entrada de policiais na reserva, o que, segundo ela, acirrou ainda mais os ânimos dos garimpeiros. Ela acredita que o número de mortos seja maior e teme que, com a demora, os índios tenham desaparecido com corpos. — É como se eu tivesse matado diversas pessoas na minha casa, fizesse um muro alto para impedir a entrada da polícia, enterrasse os corpos numa fossa, fizesse um jardim em cima e só depois deixasse as autoridades entrarem. Se continuar assim, a situação na cidade vai piorar — disse a promotora. A Polícia Militar reforçou o efetivo na cidade, para evitar novos distúrbios. Há pelo menos três anos a exploração ilegal de diamantes tem provocado constantes conflitos entre índios e garimpeiros. E há meses o governo tenta achar uma solução para o problema. Uma das possibilidades em estudo é um decreto que regulamente a atividade de garimpo nas áreas indígenas. A última versão do texto, defendido pela Funai, prevê a liberação do garimpo apenas para índios, que teriam de vender os diamantes para a Caixa Econômica Federal. A medida está sendo discutida por uma comissão interministerial. Hoje, os índios já exploram as jazidas, consideradas as maiores do país. Mas a atividade foge do controle das autoridades, o que abre o flanco para garimpeiros e para traficantes internacionais de pedras preciosas. Desde o início da exploração desordenada de diamantes, 36 corpos de índios e garimpeiros já foram retirados da reserva. O mais recente confronto aconteceu em outubro de 2003, quando cinco garimpeiros foram mortos. Índios estariam bancando projetos da Funai Segundo o deputado Eduardo Valverde (PT-RO), o dinheiro proveniente da venda ilegal de diamantes pelos índios financia até projetos da Funai em aldeias. Devido ao atraso na liberação dos recursos federais, os índios patrocinam alguns programas, entre eles um de piscicultura, coordenado pelo assessor especial da presidência da Funai Walter Blós. O presidente da Funai diz desconhecer que os projetos sejam bancados com o dinheiro da venda de diamantes. — Esses projetos foram lançados ano passado e seriam executados com uma verba extra da Funai. Pode ser que o empenho do dinheiro tenha atrasado, mas desconheço isso — disse Mércio Gomes.
APOENA MEIRELLES ‘Tem que suspender a exploração’  O sertanista Apoena Meirelles participou do primeiro contato do homem branco com os cintas-largas em 1969 e foi ontem para Rondônia mediar o conflito. Ele critica a demora para se chegar a uma solução que acabe com a exploração desordenada na reserva. Que solução o senhor vê para o problema na região? APOENA MEIRELLES: Em 1969, meu pai e eu já imaginávamos que mais cedo ou mais tarde haveria problemas. Já havia garimpeiros, porque aquela é uma terra rica em minérios e também em madeiras nobres. Essa situação se agravou justamente por falta de uma definição de vários governos que se passaram. Eu costumo dizer que essa situação é igual a jogo de bicho, todo mundo sabe que é ilegal, que é ilícito, que existe, mas não se toma providências para regulamentar. Qual é a estratégia que o senhor vai usar para tentar resolver essa tensão entre os índios e os garimpeiros na região? APOENA: A lei proíbe a exploração de garimpo em área indígena, a não ser pelos próprios índios. Isso é uma coisa que tem que ser discutida dentro do Congresso, os políticos têm que discutir, fazer audiências públicas para tratar da questão. Diante desse problema atual, tem que suspender todas as atividades de exploração que estejam acontecendo nem que seja necessário reforçar o apoio policial, o apoio militar. Se necessário, até pedindo intervenção do Exército, das Forças Armadas, na área. O que o senhor sugere de imediato? APOENA: Conversar com o Ministério de Minas e Energia, a Funai, e também com os líderes indígenas, que têm que ter participação nessa decisão, para que possam desenvolver as suas atividades obedecendo à lei ambiental, com programas de recuperação de áreas degradadas, fazendo as suas atividades dentro da lei. O senhor defende a liberação da exploração? APOENA: O Ministério Público, a Funai e os órgãos de segurança têm que atuar em conjunto para verificar qual a forma de se explorar racionalmente os recursos naturais dessas áreas sem colocar em risco o índio, sem prejudicar o país e dando seqüência aos procedimentos legais que esses tipos de atividade exigem. ( Rodrigo Rangel )

O Globo, 12/04/2004, p. 5
 

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