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COMANDANTE DO CMA AFIRMA: É impossível povoar Amazônia com grandes áreas institucionais

06/09/2007

Autor: Carvílio Pires

Fonte: Folha de Boa Vista




O general-de-Exército Raymundo Nonato de Cerqueira Filho vai deixar o Comando Militar da Amazônia. Ele visita as unidades sob seu comando e ontem presidiu solenidade em sua homenagem na 1ª Brigada de Infantaria de Selva. Em entrevista à Folha, disse ser impossível vivificar as fronteiras internacionais enquanto persistirem as grandes áreas institucionais.

Segundo o comandante do CMA, a região Norte do Brasil, particularmente Roraima, tornou-se estrategicamente importante com o advento da BR-174. Tanto por trazer desenvolvimento quanto pela ligação com outros países. Para os militares tem dimensão ainda maior, por acreditar-se que uma eventual invasão futura se daria através dessa rodovia.

A preocupação militar com a região vem desde que Pedro Teixeira navegou pelo rio Amazonas e foi fortalecida na década de 40, com a implantação dos pelotões de fronteira. A expectativa era que em torno dos núcleos militares surgissem comunidades civis. Para o general, a vivificação da fronteira é importante porque somente com gente nela morando se pode defender a Amazônia.

Conforme ele, a força militar estando presente desempenha o seu papel. Entretanto, na gigantesca área, 11 mil quilômetros desde o Amapá até Rondônia, quase todos em linha seca, não há adensamento de núcleos populacionais. O próprio comandante do CMA admite a dificuldade de vivificar a fronteira com a atual impossibilidade de surgirem cidades em áreas institucionais.

"Esse é um grande óbice. A demarcação de grandes áreas indígenas tem impedido que a população não índia se expanda, o que não ocorria na década de 50/60. A população nacional vive para habitar qualquer área. Hoje a demarcação de terras indígenas, unidades de conservação e parques ecológicos entre outras impedem o surgimento de núcleos populacionais. Com isso, acredito que será impossível povoarmos a Amazônia", declarou o general Cerqueira.

A modificação do cenário só ocorreria mediante alterações nas leis, viabilizando a delimitação de áreas menores ou o desenvolvimento de núcleos populacionais na faixa de fronteira. Para ele, na atual situação, o que existe permanecerá apesar da retirada de não-índios de determinadas áreas, mas não haverá expansão.

Ao falar da suposta resistência do Exército em apoiar a retirada de produtores rurais da Raposa Serra do Sol em Roraima, o general disse que a verdade não é essa. "Não é resistência. Esse é um problema de segurança pública e isso não faz parte da missão do Exército. Cabe a alguém ir lá com um mandado judicial e retirar quem estiver irregularmente ocupando a área. O máximo que podemos fazer é dar apoio logístico. Havendo conflito, aí sim, podemos evocar a garantia da lei e da ordem. Na situação atual, cabe aos órgãos de segurança pública cumprir os mandados judiciais", reforçou.

Mesmo com dois mil quilômetros de fronteiras internacionais, em Roraima existem apenas seis pelotões de fronteiras para guarnecer a aérea. Na avaliação do general o problema estratégico para o Exército não é somente aqui, mas na Amazônia como um todo, por causa do imenso vazio.

"Em Roraima são seis pelotões. Às vezes me pergunto se isso é suficiente. Fazendo cálculo matemático vê-se que não. Entretanto, não ousamos criar novas unidades se não tivermos recursos financeiros para criá-las e mantê-las. Pela série histórica os recursos orçamentários não aumentaram, são os mesmos de cinco/oito anos atrás", observou.

Apesar da falta de recursos financeiros, o comandante militar da Amazônia acredita ter logrado êxito em termos administrativos e operacionais. Isso pode ser avaliado pela Operação Solimões, a maior operação combinada (Exército, Marinha e Aeronáutica) já realizada na Amazônia.

Após deixar o Comando Militar da Amazônia, o general-de-Exército vai servir ao Departamento Logístico, em Brasília. Este órgão trata do apoio logístico a todo o Exército. "As demandas são muito grandes. Temos aproximadamente 200 mil homens, muita necessidade e pouco dinheiro. Levarei muita saudade da Amazônia, região que conheço desde 1966 e onde morei em duas ocasiões. Não me despeço com adeus, mas com até logo, porque daqui a pouco estarei de volta", disse o general Cerqueira.
 

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