De Povos Indígenas no Brasil
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Notícias
OPERAÇÃO UPATAKON 3 - Raposa Serra do Sol vive clima de tensão
01/04/2008
Autor: Andrezza Trajano
Fonte: Folha de Boa Vista
Localizada a 120 quilômetros de Boa Vista, a Vila do Surumu, no Município de Pacaraima, dentro da terra indígena Raposa Serra do Sol, vive momentos de tensão. Desde que a área foi homologada pelo presidente Lula, em 2005, a região tem se tornado palco de confrontos entre índios favoráveis e contrários à homologação, além de rizicultores.
A tensão na região aumentou a partir de quinta-feira, 27, quando policiais federais de diversas partes do país desembarcaram em Boa Vista para dar continuidade à Operação Upatakon 3, que visa a retirada de não-índios da Raposa Serra do Sol.
Na madrugada de ontem, quando a ponte de madeira do Araçá, que liga Pacaraima a Vila do Surumu foi queimada, iniciou uma série de ações. Uma ponte menor, a ponte Araujinho, que fica a poucos quilômetros depois da ponte do Araçá, também foi incendiada, ficando parcialmente destruída.
A Folha esteve na região e ouviu moradores, indígenas e o deputado federal Márcio Junqueira, que estava no local, segundo ele, como observador. A autoria do crime é divergente. De acordo com dois moradores, uma dupla com uma moto cada foi vista na madrugada ateando fogo nas pontes.
Alguns moradores disseram que índios ligados ao Conselho Indígena de Roraima (CIR) teriam queimado a ponte. "Eu sei quem foi, eu vi. Presenciei na hora em que estavam queimando, são parentes meus, indígenas ligados ao CIR que querem o isolamento, mas muitos de nós não concordamos com a postura deles", disse um índio Macuxi que pediu anonimato.
Um outro morador de Surumu, que também não quis se identificar, creditou o crime aos rizicultores e disse também ter visto dois motoqueiros na região logo que as pontes foram queimadas. "Foram eles, os arrozeiros, que ficam nos incitando. Destruíram um bem público e prejudicaram toda a comunidade", disse.
Ponte bloqueada foi local de explosão de bomba e prisão
A ponte do Surumu, feita de concreto, com aproximadamente 100 metros, na entrada da Vila, foi bloqueada por indígenas contrários à homologação, apoiados por rizicultores. Duas grandes colheitadeiras foram colocadas em cima da ponte impedindo o acesso ao local.
Por volta das 13h a Polícia Federal chegou à ponte com intenção de desobstruí-la. Mas, segundo o delegado Fernando Romero, ao verificar a presença de mulheres e crianças, desistiu da ação. No entanto, ele e seus agentes teriam sido hostilizados e desacatados pelo presidente da Associação dos Rizicultores, Paulo César Quartiero, tendo-o preso em flagrante no local.
Ao mesmo tempo, o filho de Quartiero, identificado por Renato, foi ferido na mão e no rosto por um artefato explosivo. A PF negou que tenha arremessado alguma bomba em Renato. Funcionários de Quartiero e alguns moradores atribuíram a culpa a índios do CIR, que por sua vez nega qualquer ação violenta.
Enquanto Paulo César era trazido preso para a sede da Superintendência da Polícia Federal, seu filho foi encaminhado a um hospital de Boa Vista, em um avião agrícola para receber atendimento médico. Os manifestantes permaneceram no local e colocaram mais um trator em cima da ponte, visando aumentar o bloqueio.
Segundo o deputado federal Márcio Junqueira, a partir de hoje, membros da Federação da Associação dos Moradores do Estado de Roraima (Famer) e da Associação das Microempresas do Estado de Roraima (Amer), além de indígenas "favoráveis ao desenvolvimento", vão continuar fechando não só a entrada do Surumu, bem como todas as saídas e entradas do Estado.
CIR - Por telefone, o coordenador do Conselho Indígena de Roraima, Dionito José de Souza, disse que o CIR não tem nenhuma ligação com as manifestações que vêm ocorrendo na região.
"Não queimamos ponte, isso é errado e não concordamos com isso. Estão nos caluniando, humilhando e pressionando o nosso povo. A única coisa que nosso povo almeja é respeito e paz", disse. Sobre a denúncia de que algum indígena ligado ao CIR teria jogado um artefato explosivo em Renato Quartiero, Dionito negou o crime.
DIVISÃO - Quem chega à Vila Surumu logo se depara com uma separação entre os povos. Do lado direito, moram os índios contrários à homologação e que são favoráveis à permanência dos não-índios, principalmente dos arrozeiros. Do lado esquerdo da vila, vivem os índios apoiados pelo Conselho Indígena de Roraima (CIR), favoráveis à homologação e que defendem a terra como um bem exclusivo dos índios.
Acesso ficou difícil para a região
Com a ponte do Araçá queimada, para chegar ao Surumu tornou-se uma tarefa difícil. Primeiro é preciso atravessar o igarapé do Araçá a pé ou em carro tracionado. E com a ponte do Surumu bloqueada, o acesso à vila só é possível a pé.
A família do índio Macuxi Alberto Ramos, que na sexta-feira passada se deslocou até a Maloca do Guariba, na região de Sorocaima, teve dificuldades para retornar para casa. Desde o meio-dia desta segunda-feira que eles quebravam pedras e colocavam outras rochas e piçarra no rio Araçá, na tentativa de passar o veículo. Ramos estava acompanhado de quatro familiares, sendo três adultos e uma criança.
Quando a Folha passou de volta pelo local, às 17h, Alberto Ramos ainda tentava voltar para casa. "Fomos a uma conferência religiosa e quando estávamos voltando para casa nos deparamos com essa situação. A ponte é um bem público e nós temos o direito de ir e vir quando quisermos", lamentou.
A prefeita de Uiramutã, Florany Mota (PT), disse que uma criança moradora de Água Fria havia sofrido um acidente doméstico na tarde de ontem, enquanto mexia em uma arma de fogo. A criança foi baleada. Com o bloqueio da ponte o salvamento da criança estava comprometido.
"Teremos que esperar amanhecer o dia para enviar um avião e deslocar a criança até Boa Vista, já que o socorro via terrestre está comprometido. Estão impedindo o nosso direito constitucional de ir e vir", reclamou.
A tensão na região aumentou a partir de quinta-feira, 27, quando policiais federais de diversas partes do país desembarcaram em Boa Vista para dar continuidade à Operação Upatakon 3, que visa a retirada de não-índios da Raposa Serra do Sol.
Na madrugada de ontem, quando a ponte de madeira do Araçá, que liga Pacaraima a Vila do Surumu foi queimada, iniciou uma série de ações. Uma ponte menor, a ponte Araujinho, que fica a poucos quilômetros depois da ponte do Araçá, também foi incendiada, ficando parcialmente destruída.
A Folha esteve na região e ouviu moradores, indígenas e o deputado federal Márcio Junqueira, que estava no local, segundo ele, como observador. A autoria do crime é divergente. De acordo com dois moradores, uma dupla com uma moto cada foi vista na madrugada ateando fogo nas pontes.
Alguns moradores disseram que índios ligados ao Conselho Indígena de Roraima (CIR) teriam queimado a ponte. "Eu sei quem foi, eu vi. Presenciei na hora em que estavam queimando, são parentes meus, indígenas ligados ao CIR que querem o isolamento, mas muitos de nós não concordamos com a postura deles", disse um índio Macuxi que pediu anonimato.
Um outro morador de Surumu, que também não quis se identificar, creditou o crime aos rizicultores e disse também ter visto dois motoqueiros na região logo que as pontes foram queimadas. "Foram eles, os arrozeiros, que ficam nos incitando. Destruíram um bem público e prejudicaram toda a comunidade", disse.
Ponte bloqueada foi local de explosão de bomba e prisão
A ponte do Surumu, feita de concreto, com aproximadamente 100 metros, na entrada da Vila, foi bloqueada por indígenas contrários à homologação, apoiados por rizicultores. Duas grandes colheitadeiras foram colocadas em cima da ponte impedindo o acesso ao local.
Por volta das 13h a Polícia Federal chegou à ponte com intenção de desobstruí-la. Mas, segundo o delegado Fernando Romero, ao verificar a presença de mulheres e crianças, desistiu da ação. No entanto, ele e seus agentes teriam sido hostilizados e desacatados pelo presidente da Associação dos Rizicultores, Paulo César Quartiero, tendo-o preso em flagrante no local.
Ao mesmo tempo, o filho de Quartiero, identificado por Renato, foi ferido na mão e no rosto por um artefato explosivo. A PF negou que tenha arremessado alguma bomba em Renato. Funcionários de Quartiero e alguns moradores atribuíram a culpa a índios do CIR, que por sua vez nega qualquer ação violenta.
Enquanto Paulo César era trazido preso para a sede da Superintendência da Polícia Federal, seu filho foi encaminhado a um hospital de Boa Vista, em um avião agrícola para receber atendimento médico. Os manifestantes permaneceram no local e colocaram mais um trator em cima da ponte, visando aumentar o bloqueio.
Segundo o deputado federal Márcio Junqueira, a partir de hoje, membros da Federação da Associação dos Moradores do Estado de Roraima (Famer) e da Associação das Microempresas do Estado de Roraima (Amer), além de indígenas "favoráveis ao desenvolvimento", vão continuar fechando não só a entrada do Surumu, bem como todas as saídas e entradas do Estado.
CIR - Por telefone, o coordenador do Conselho Indígena de Roraima, Dionito José de Souza, disse que o CIR não tem nenhuma ligação com as manifestações que vêm ocorrendo na região.
"Não queimamos ponte, isso é errado e não concordamos com isso. Estão nos caluniando, humilhando e pressionando o nosso povo. A única coisa que nosso povo almeja é respeito e paz", disse. Sobre a denúncia de que algum indígena ligado ao CIR teria jogado um artefato explosivo em Renato Quartiero, Dionito negou o crime.
DIVISÃO - Quem chega à Vila Surumu logo se depara com uma separação entre os povos. Do lado direito, moram os índios contrários à homologação e que são favoráveis à permanência dos não-índios, principalmente dos arrozeiros. Do lado esquerdo da vila, vivem os índios apoiados pelo Conselho Indígena de Roraima (CIR), favoráveis à homologação e que defendem a terra como um bem exclusivo dos índios.
Acesso ficou difícil para a região
Com a ponte do Araçá queimada, para chegar ao Surumu tornou-se uma tarefa difícil. Primeiro é preciso atravessar o igarapé do Araçá a pé ou em carro tracionado. E com a ponte do Surumu bloqueada, o acesso à vila só é possível a pé.
A família do índio Macuxi Alberto Ramos, que na sexta-feira passada se deslocou até a Maloca do Guariba, na região de Sorocaima, teve dificuldades para retornar para casa. Desde o meio-dia desta segunda-feira que eles quebravam pedras e colocavam outras rochas e piçarra no rio Araçá, na tentativa de passar o veículo. Ramos estava acompanhado de quatro familiares, sendo três adultos e uma criança.
Quando a Folha passou de volta pelo local, às 17h, Alberto Ramos ainda tentava voltar para casa. "Fomos a uma conferência religiosa e quando estávamos voltando para casa nos deparamos com essa situação. A ponte é um bem público e nós temos o direito de ir e vir quando quisermos", lamentou.
A prefeita de Uiramutã, Florany Mota (PT), disse que uma criança moradora de Água Fria havia sofrido um acidente doméstico na tarde de ontem, enquanto mexia em uma arma de fogo. A criança foi baleada. Com o bloqueio da ponte o salvamento da criança estava comprometido.
"Teremos que esperar amanhecer o dia para enviar um avião e deslocar a criança até Boa Vista, já que o socorro via terrestre está comprometido. Estão impedindo o nosso direito constitucional de ir e vir", reclamou.
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