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OPERAÇÃO UPATAKON III - Produtores fazem protesto no Palácio

03/03/2008

Autor: Rebeca Lopes

Fonte: Folha de Boa Vista




Com a confirmação da Polícia Federal de que vai executar a Operação Upatakon III, para retirada de não-índios da reserva Raposa Serra do Sol, os produtores de arroz fecharam os estabelecimentos em Boa Vista na manhã de sábado e montaram acampamento na Praça do Centro Cívico, na frente do Palácio Senador Hélio Campos. Eles permaneciam no local até a noite de ontem. O protesto deverá continuar hoje.

O presidente da Associação dos Rizicultores de Roraima, Paulo César Quartiero, disse que empresários e funcionários farão uma série de ações para resistir à ação de retirada. Entre as medidas, está o fechamento dos estabelecimentos em Boa Vista e deslocamento do pessoal para as áreas de produção. Durante o final de semana era aguardada a entrada dos agentes, mas nada aconteceu.

Nesse movimento de resistência, foi organizada uma reunião no sábado à noite, com carro de som e telão, na frente do Palácio do Governo, na qual participaram algumas dezenas de pessoas. A intenção foi sensibilizar e arregimentar o maior número de pessoas para que participem do movimento de resistência. Essas pessoas também serão levadas para áreas de produção, onde muitos já estariam.

"Isso é para dificultar a ação das tropas invasoras. São brasileiros, trabalhadores que querem ver esse Estado com futuro e que estão cansados da perseguição dos governos Federal, Estadual e Municipal. Quando as instituições falham, sobra ao povo lutar pela sobrevivência e consequentemente pelo Brasil", disse, estimando que continuem dentro da reserva cerca de 20 produtores.

Conforme Quartiero, foram encaminhadas cartas ao superintendente da Polícia Federal, delegado Cláudio Lima e ao governador de Roraima, Anchieta Júnior (PSDB). Em resumo, o documento responsabiliza o superintendente por qualquer violência, derramamento de sangue ou perda de vidas nessa operação.

"Implantaram no Estado o clima de guerra civil. O senhor governador será responsabilizado por crime de omissão. Ele (Anchieta) premia a pessoa que está fazendo a operação. Houve traição da vontade popular expressa nas urnas contra a política do presidente Lula. Nem esperaram Ottomar esfriar na cova e já traíram os ideais dele", criticou, referindo-se ao convite de Anchieta para que Cláudio Lima assuma a Secretaria de Segurança Pública de Roraima.

PM não participará da operação, garante governador

O governador de Roraima, Anchieta Júnior (PSDB), esteve reunido na noite da última sexta-feira com o Comando da Polícia Militar de Roraima. Na conversa, a ordem do chefe do Executivo é que nenhum dos policiais militares do Estado participe de qualquer operação de retirada dos não-índios da terra indígena Raposa Serra do Sol.

A informação foi repassada pelo secretário de Comunicação Social do Palácio Senador Hélio Campos, Ruy Figueiredo. Na coletiva dada à imprensa na semana passada, o superintendente da PF em Roraima, Cláudio Lima, confirmou que a operação já está em andamento e que a Força Nacional de Segurança foi designada para acompanhar os agentes federais.

Quanto à participação dos policiais de Roraima que integram a Força Nacional, o secretário de Comunicação afirmou que o governador vai conversar com o ministro da Justiça, Tarso Genro, para que nem eles participem da Upatakon III. Espera-se a presença de pelo menos 300 homens durante a operação. (RL)

Alojamentos do Exército ainda não foram solicitados

Através da 5ª Seção de Comunicação Social, o Comando da 1ª Brigada de Infantaria de Selva informou que até agora o Exército não recebeu nenhuma solicitação oficial para que os alojamentos das unidades militares sejam usados pelos agentes federais que vão participar da Operação Upatakon 3, para retirada dos não-índios de dentro da terra indígena Raposa Serra do Sol.

Segundo a Seção de Comunicação, o Exército não vai participar da operação. Quanto ao apoio logístico, devido à incorporação dos novos integrantes (recrutas), que aconteceu no último sábado em todas as unidades, como 7º Bis, G.A.C. e BEC, os espaços estão ocupados, uma vez que no processo de incorporação os recrutas passam de duas a três semanas em regime de internato.

Fontes extra-oficiais dão conta de que o alojamento do 6º BEC (Batalhão de Engenharia e Construção), que está todo arrumado como se fosse receber ‘alguém’, estaria reservado para abrigar os policiais que deverão chegar a Roraima a qualquer momento. (RL)

Foco do CIR é assembléia, diz coordenador

A 37ª Assembléia dos Tuxauas acontece na aldeia do Barro, a cerca de dez quilômetros das maiores lavouras de arroz irrigado da terra indígena Raposa Serra do Sol. O coordenador-geral do Conselho Indígena de Roraima, Dionito José de Souza, afirmou que a preocupação nesse momento é apenas organizar a chegada dos mais de mil participantes do encontro.

Mesmo com a orientação da Polícia Federal de não realizar a assembléia anual, ela vai ocorrer de 6 a 10 de março e terá como tema "Organizados, Unidos e Fortalecidos". Índios e convidados começam a chegar no dia 5, quarta-feira.

A estimativa da organização é levar ao encontro mais de 1.100 indígenas e representantes de 30 instituições governamentais e não-governamentais. Segundo Dionito, os índios não vão se envolver no trabalho de desintrusão, a não ser que os agentes federais precisem de algum apoio logístico, que será dado. "Vamos apoiar a Polícia Federal, Força Nacional para que façam justiça para o povo indígena que espera há muito tempo essa desintrusão. (RL)

Moradores do São Bento usam protesto para reclamar de moradias

Os moradores do bairro São Bento aproveitam a manifestação dos arrozeiros para pedir do governador Anchieta Júnior, hoje, uma definição sobre o local para onde serão levadas as 300 famílias que moram em áreas de preservação ambiental. Eles exigem ainda o início da construção das casas populares no local.

Os detalhes do protesto que deverá ser feito hoje em frente ao Palácio do Governo foram tratados ontem, durante mobilização realizada no final da tarde na frente do bairro, na BR-174. Cerca de 200 moradores participaram. Segundo Faradilson Mesquita, presidente da Famer (Federação das Associações de Moradores de Bairro de Roraima), o grupo quer a garantia do governador de que todos terão local para morar.
 

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