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RAPOSA SERRA DO SOL - Dois homens são feitos reféns em Surumu

03/04/2008

Autor: Andrezza Trajano

Fonte: Folha de Boa Vista




O clima permanece tenso na Vila Surumu, entrada principal à terra indígena Raposa Serra do Sol. Ontem dois homens foram feitos reféns na região por manifestantes contrários à homologação e favoráveis à permanência dos arrozeiros na reserva.

Os dois homens ficaram detidos por cerca de duas horas até que fosse feita a identificação deles. Alegaram que estariam na região a trabalho e disseram ser funcionários da Companhia Energética de Roraima (CER). Devido à demora na confirmação das informações, os manifestantes os liberaram.

Horas depois veio a confirmação de que eles não trabalham na empresa. "Nós sabíamos, eram espiões da Polícia Federal, dessa vez vacilamos, mas não haverá uma próxima", disse um manifestante que não quis se identificar.

A CER, por meio da Assessoria de Comunicação, confirmou que os homens que disseram se chamar "Kélsio e Marcelo" não são funcionários da estatal. A PF negou que estes homens fossem membros da instituição.

MAIS AGENTES - Ontem mais policiais chegaram em um avião Embraer 145 da PF e também em aeronaves de empresas comerciais. De acordo com a Polícia Federal, os agentes continuarão a chegar até que o quadro de policiais necessário para agir na retirada de habitantes não-índios da Raposa Serra do Sol esteja completo.

Ao mesmo tempo, a coordenação regional da Upatakon 3 negou que exista alguma investigação ou pedido de prisão preventiva em andamento contra o presidente da Associação de Rizicultores, Paulo César Quartiero.

Manifestantes recuam e desistem de bloquear mais estradas na região

As ameaças de bloqueios nas estradas de Roraima, programadas para ontem, não aconteceram. O presidente da Associação dos Criadores de Gado do Estado de Roraima, José Luiz Zago, que havia anunciado para quarta-feira o bloqueio de todas as estradas principais e secundárias que dão acesso a Roraima, suspendeu a ação. "Estamos nos organizando melhor, esperando uma ação da Polícia Federal. São os passos deles que ditarão os nossos", ameaçou.

A chegada de 300 indígenas da Comunidade do Flechal, também prevista para ontem, para dar apoio ao "movimento de resistência" pela Sociedade dos Índios em Defesa de Roraima (Sodiur), igualmente não ocorreu. "Não podemos ter todos os militantes na linha de frente, eles atuarão na retaguarda. Quando for necessário, estarão prontos para agir", disse um representante da Sodiur.

Na terça-feira, indígenas ligados ao CIR transportaram cerca de 200 índios da região das serras para dar apoio na Vila Surumu, onde segmentos contra e a favor à permanência de produtores de arroz se concentram.

HISTÓRICO - Com a retomada das atividades da Upatakon 3, na última quinta-feira, diversas manifestações contrárias à operação foram realizadas no Estado. As mobilizações começaram no domingo passado quando manifestantes bloquearam por mais de 2 horas a ponte do Cauamé na BR-174, a 5 quilômetros de Boa Vista, pedindo a retirada imediata dos policiais federais no Estado.

Na segunda-feira, as atividades de manifestação se concentraram na Raposa Serra do Sol. A ponte de madeira do Araçá, que liga Pacaraima à Vila do Surumu foi queimada, iniciando uma série de manifestações na área. Ninguém assumiu a autoria pelo crime.

No mesmo dia a ponte do Surumu, feita de concreto, com aproximadamente 100 metros, na entrada da vila, foi bloqueada por indígenas contrários à homologação, apoiados por rizicultores. Cinco grandes máquinas agrícolas foram colocadas em cima da ponte impedindo o acesso ao local.

A Polícia Federal chegou à ponte com intenção de desobstruí-la, mas, segundo o coordenador regional da Upatakon 3, delegado Fernando Romero, ao verificar a presença de mulheres e crianças, desistiu da ação. No entanto, ele e seus agentes teriam sido hostilizados e desacatados pelo rizicultor Paulo César Quartiero, o qual foi preso em flagrante.

Ao mesmo tempo, o filho do arrozeiro, Renato Quartiero, foi ferido na mão, tórax e no rosto por um artefato explosivo. A PF negou que tenha arremessado alguma bomba em Renato.

Na terça-feira, a ponte do Araujinho, que fica poucos quilômetros depois da ponte do Araçá, também foi incendiada. Lideranças indígenas trocam acusações sobre a autoria.

Ainda na terça-feira, os manifestantes favoráveis à homologação bloquearam a ponte do rio Cotingo, que fica localizada na Vila do Contão, a 25 quilômetros do Surumu. Com estas novas ações, o acesso à Vila Surumu, pela BR-174, a rodovia mais importante do Estado, ficou impossível.

Forças Armadas negam que atuarão na Upatakon

O Exército e Força Aérea Brasileira (FAB) negam que vão atuar na Operação Upatakon 3. O rizicultor Paulo César Quartiero e o deputado federal Márcio Junqueira (DEM) têm cobrado apoio das Forças Armadas, alegando que a Polícia Federal não possui condições de atuar na operação.

De acordo com o Exército, mesmo que o Governo do Estado declarasse a segurança pública estadual incapaz de atuar na desintrusão, "a tropa do Exército só poderia ser empregada sob ordem do presidente da República".

Já a Força Aérea Brasileira, que leva médicos e alimentação a comunidades indígenas, afirmou que continua com as suas atividades normalmente.
 

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