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UPATAKON 3 - Produtores suspendem venda de arroz

07/04/2008

Autor: Tiana Brazão

Fonte: Folha de Boa Vista




Todas as usinas de beneficiamento de arroz do Estado estão de portas fechadas por tempo indeterminado. Com a suspensão no fornecimento do produto, pode faltar arroz nos supermercados do Estado.

O fechamento ocorreu na tarde de quinta-feira (03) e os empresários colocaram faixas na frente dos silos, pedindo desculpas aos clientes e informando que o protesto é pela retirada dos empresários das áreas de cultivo, localizadas na terra indígena Raposa Serra do Sol.

A empresária Izabel Itikawa explica que as vendas foram suspensas não só para o mercado roraimense, mas também para o Amazonas, Pará e Macapá. Entretanto, nenhum funcionário das empresas foi dispensando, pois o trabalho interno continua sendo realizado normalmente.

Ela afirmou que o fechamento não foi um protesto pela operação que a Polícia Federal realiza na terra indígena, mas para garantir a integridade dos funcionários que podem sofrer conseqüências graves pela situação criada neste momento no Estado.

Segundo ela, as vendas serão normalizadas apenas quando houver uma solução que seja viável para os produtores de arroz. "Infelizmente, nossos clientes serão penalizados por causa desta operação, que nos escorraça das áreas onde trabalhamos uma vida inteira. Mas se não fecharmos neste momento, em um futuro bem próximo fecharemos as portas para sempre" declarou.

O fechamento das usinas gerou muita preocupação, não só junto aos comerciantes locais, mas também para as pessoas que compram arroz no atacado, diretamente nas usinas, localizadas no Distrito Industrial e ao longo da BR-174.

Aurilene Dias de Sousa, dona de um restaurante, está preocupada, pois teme que a medida resulte em aumento do preço do arroz, caso as vendas sejam suspensas por mais tempo. "Aqui sempre compramos fardos de arroz para atender a clientela e, caso aumente o preço do produto, teremos que aumentar o preço da comida e correr o risco de perder clientes", lamentou.

Para a dona-de-casa Teresa Cristina de Alencar, a saída é ir aos supermercados antes de o produto sumir das prateleiras. "Aproveitei hoje para comprar 30 quilos. Não quero arriscar a pagar R$ 3,00 ou R$ 4,00 em um quilo de arroz", comentou.

A reportagem conversou ainda com alguns donos de supermercados que demonstraram sua preocupação com a possibilidade de desabastecimento. O empresário Alexandre Gomes foi taxativo ao afirmar que o fechamento das usinas por um período maior do que uma semana pode prejudicar o mercado local.

"A saída vai ser aumentar o preço, comprando arroz de outras regiões. Não posso ficar sem o produto e vou buscar uma forma de manter o preço atual. Se não der, o jeito vai ser reajustar o preço", declarou.

O presidente da Associação dos Donos de Supermercados de Roraima, Marcelo Freire, disse que os comerciantes não previram a possibilidade de fechamento das beneficiadoras de arroz, tanto que não se preocuparam em aumentar o estoque.

"O nosso estoque é suficiente para garantir o abastecimento durante uma semana. Acredito que o protesto não permanecerá por prazo superior a uma semana, mas caso isso ocorra, vai faltar arroz no mercado sim", advertiu.

Empresários amazonenses começam a comprar arroz de outros estados

De acordo com representantes comerciais no Amazonas, onde 80% do consumo de arroz são mantidos pelas empresas de Roraima, a preocupação é visível por parte dos comerciantes da região. Marcos Antonio Yamane disse que os clientes estão assustados com a situação em Roraima e já providenciam aquisição de arroz em outros estados.

"Na verdade, todos estão preocupados com o tempo em que as usinas estarão fechadas. Recebemos dezenas de ligações e os comerciantes querem comprar o arroz em volumes maiores que o normal. Todos estão apreensivos", disse. (T.B.)

Rizicultores produziram mais de 600 mil fardos em 2008

Somente nos primeiros meses de 2008, a produção de arroz no Estado atingiu 625.500 fardos, somando todas as empresas produtoras de grãos que atuam no setor.

Instaladas em Roraima há 30 anos, eles beneficiam diariamente 6.950 fardos, num total de 2.536.750 fardos anuais, retirados de uma área plantada de 20 mil hectares. Segundo informações da empresária Isabel Itikawa, diariamente são recolhidos R$ 10.866,00 de impostos, o que significa R$ 3.966.090,00 pagos anualmente em tributos federais e estaduais.

Devido ao fechamento das usinas, os produtores de arroz deixam de comercializar aproximadamente 6.950 fardos todo dia. Questionada sobre o prejuízo, ela enfatizou que caso sejam tirados das suas propriedades, o prejuízo será a cessação da produção primária, ocasionando a redução da capacidade produtiva e, por conseqüência, a diminuição do poder de concorrência que Roraima tem hoje.

"Tudo isso acarretará uma deficiência na oferta do arroz regional, oportunizando a vinda de produtos de outras regiões, a valores altos, visto que não haverá produto local para balizar preço", comentou.

A empresária destacou ainda as ações sociais mantidas pelas empresas no Estado, como a ajuda aos atletas da região, através de patrocínios em diversas modalidades e o fomento da atuação de empregados na sociedade. Além disso, relata que os arrozeiros são mantenedores do programa Mesa Brasil, da Associação Junior Achiviement e que oferece patrocínio a eventos culturais.

Ela cita ainda a manutenção das estradas que dão acesso às áreas de produção e às comunidades indígenas da Raposa Serra do Sol, onde são gastos aproximadamente R$ 200 mil por ano. A balsa do Passarão, que também atende aos indígenas, é mantida e abastecida pelos rizicultores.

Na Raposa Serra do Sol encontram-se as áreas mais produtivas do Estado, onde se produz arroz irrigado, soja e gado de corte de excelente qualidade e de produtividade durante todo o ano.

"Quando veio a demarcação, estávamos instalados há mais de 30 anos na reserva. A área foi ampliada e engoliu nossas propriedades, que geram cerca de 7 mil empregos diretos e indiretos. Mas não vamos demitir nossos funcionários, todos serão mantidos para nos ajudar a lutar pelo desenvolvimento", declarou. (T.B.)
 

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