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Notícias

Manifestações marcam Dia do Índio no Surumu

21/04/2008

Autor: Andrezza Trajano

Fonte: Folha de Boa Vista




A ameaça de comemorar o Dia do Índio, no último sábado, com a retirada de habitantes não-índios, principalmente o prefeito de Pacaraima e rizicultor Paulo César Quartiero (DEM), da terra indígena Raposa Serra do Sol, feitas pelo Conselho Indígena de Roraima (CIR), na semana passada, não se concretizaram. As comemorações transcorreram sem gravidades.

Segundo informações do responsável pela Operação Upatakon 3 em Surumu, o delegado federal Guilherme Matos, o clima na região estava tenso durante o sábado, enquanto as lideranças indígenas realizavam as suas festas.

Logo cedo, índios ligados ao CIR realizaram uma passeata pelas ruas da vila, gritando palavras de ordem, exigindo a saída de não-índios da Raposa Serra do Sol. Ao parar em frente à Associação dos Moradores, onde se concentram os indígenas favoráveis à permanência dos não-índios na terra indígena, os ânimos teriam se acirrado. Houve apenas discussão, sem violência.

Os indígenas que se reuniram para os festejos transitavam pela vila com pedaços de pau na mão durante todo o dia. Eles chegaram a ameaçar as equipes de reportagem que estavam no local. O delegado Matos disse que o pau é um instrumento conhecido como "burduna", um objeto cultural dos índios e não um instrumento de violência.

BARREIRAS - Índios do CIR voltaram a fazer barreiras na Vila Surumu, delimitando o acesso ao local, conforme foi presenciado pela reportagem. Dois longos bloqueios foram feitos, nas principais vias de acesso da vila, onde fica localizada a maioria dos índios do CIR.

À tarde, índios da Sociedade dos Índios Unidos do Norte de Roraima (Sodiur) decidiram fazer suas manifestações, mas limitaram-se a pregar faixas e cartazes em frente à sub-administração da prefeitura, com frases contra a política indigenista brasileira e contra a retirada de moradores não-índios da terra indígena.

"Hoje [anteontem] consideramos ter passado por alguns problemas, os ânimos estiveram exaltados, mas estamos aqui para garantir a segurança. Existem muitos indígenas de outras comunidades, mas as lideranças estão conseguindo contornar a situação. Mas caso seja necessário, estamos prontos para agir a qualquer momento", disse Matos.

Para que a paz que reinava na região fosse mantida, o prefeito Paulo César que chegou à região no início da tarde, foi orientado pelos policiais para que se mantivesse distante da sede da Vila Surumu, recomendação esta que foi atendida.

"A orientação foi coerente, embora eu saiba que essa manifestação contrária a minha presença é motivada por indígenas que não moram aqui, sob influência de ONG’s", disse Quartiero.

Segurança na terra indígena foi reforçada

Conforme o delegado Guilherme Matos, devido ao possível conflito, a segurança no local foi reforçada. A Polícia Federal deslocou 50 homens para Surumu, 40 foram a Pacaraima e 50 permaneceram de prontidão em Boa Vista. Ao mesmo tempo, 70 homens da Força Nacional de Segurança também estiveram presentes no local, enquanto 31 soldados estavam de sobreaviso na Capital.

Homens do Batalhão de Operações Policiais Especiais da Polícia Militar (Bope) também foram destacados para atuar na operação, mas retornaram a Boa Vista no dia seguinte, já que não foi registrada nenhuma gravidade no local. Informações extra-oficiais dão conta de que militares do Exército estariam pela região, para reforçar a segurança em um possível conflito. O Exército negou essa informação e disse que sua presença na região deve-se apenas para transporte logístico dos policiais que se encontram no Pelotão de Fronteira de Uiramutã.

A primeira barreira de fiscalização que fica na região do Entroncamento, cerca de 20 quilômetros antes da entrada de Surumu, foi desativada pela manhã, para que todos os policiais reforçassem a segurança na sede da Vila Surumu. Retornando às atividades por volta das 16h, quando o clima no local estava tranqüilo. Já a barreira fixa, logo após a ponte de concreto sobre o rio Surumu, permaneceu ativada.

PRIVILÉGIO - Mas conforme presenciou a reportagem, o trabalho de revista, feito pela fiscalização dos policiais, não foi igual para todos. O tuxaua da comunidade do Entroncamento, Miracélio Peixoto, membro da Sodiur, teve que se identificar ao entrar na vila, além de ter o carro revistado quando passou pela barreira de fiscalização.

Fato diferente aconteceu com o coordenador do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Dionito Souza, que apenas baixou o vidro do seu veículo, para que os policiais o vissem, passando isento de qualquer fiscalização.

Questionado sobre o tratamento desigual, o delegado Guilherme Matos disse que o coordenador do CIR teria passado despercebido.

Caxiri na cuia e a dança do parixara embalaram os festejos

Durante todo dia, os índios do CIR realizaram as suas atividades na quadra municipal da região e nos arredores da vila. Eles participaram de campeonatos para saber quem bebe mais caxiri (bebida típica, feita com a fermentação da mandioca), dança do parixara, corrida de saco de farinha, entre outras ações culturais. O CIR proibiu os indígenas de concederem entrevista à Rede TV e à Folha.

O uso da quadra de esportes por pouco não provocou confusão entre os indígenas. Os índios da Sodiur alegavam ter reservado o espaço dias antes na administração da prefeitura, mas só puderam usar o local à noite, quando os índios do CIR saíram do local. Eles foram orientados pelos policiais a utilizar outro espaço, evitando assim qualquer conflito.

Conforme o tuxaua Miracélio Peixoto, as comemorações do Dia do Índio da Sodiur só começaram às 22h do sábado, nas dependências da escola Padre José de Anchieta, tendo em vista que a banda musical que iria animar a festa ficou retida pelos policiais desde as 16h, na barreira do Entroncamento, sendo liberada apenas neste horário.

Conforme moradores da Vila Surumu, as comemorações alusivas ao Dia do Índio se estenderam até o domingo, sem registro de violência.
 

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