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Notícias

Índios barram caminhões com cargas para arrozeiros

13/05/2008

Autor: Hudson Corrêa

Fonte: FSP, Brasil, p. A10



Índios barram caminhões com cargas para arrozeiros
"Posto de fiscalização" substitui bloqueio suspenso anteontem após acordo com a PF
Objetivo do grupo favorável à demarcação contínua da reserva em RR é impedir que cheguem alimentos, adubos, e ferramentas nas fazendas

Hudson Corrêa
Enviado especial à Raposa/Serra do Sol


Índios que lutam pela demarcação contínua da reserva Raposa/Serra do Sol (RR) montaram "um posto de fiscalização" na estrada conhecida como Transarrozeira para barrar caminhões e carretas que estejam levando carga para fazendas dos produtores de arroz.
As propriedades estão situadas dentro da área indígena. O "posto de fiscalização" foi montado em substituição a um bloqueio na estrada. Anteontem a Polícia Federal negociou a suspensão do bloqueio montado no último dia 5, mas os índios mudaram de tática.
O índio macuxi Nileno Galé, 54, um dos líderes do movimento, disse que a partir das 17h o tráfego na estrada é fechado até as 6h do dia seguinte.
Durante o dia, quando o tráfego está livre, os índios fiscalizam os caminhões e carretas para impedir que cheguem alimentos, adubos, ferramentas e materiais de construção nas fazendas dos arrozeiros. Instalado pela comunidade indígena Jauari, "o posto de fiscalização" tem cerca de 80 índios.
Ontem à tarde a Folha presenciou a ação deles. Foram montados quatro quebra-molas em terra batida. De uma margem a outra da estrada, em dois pontos, os índios estenderam arame farpado. Um grupo se concentra na estrada, quando avista os veículos.
Ontem uma carreta que levava 16 manilhas, além de cinco sacos de cimento, foi barrada. O caminhoneiro, que se identificou apenas como Pedro, afirmou que levava a carga para uma estrada em obras na região. "Nem sei quem é o dono da carga", disse.
É a segunda vez que os índios barram a carreta de Pedro. "A PF havia informado que eles liberaram a estrada. Só quero ganhar meu frete. Já perdi uns R$ 700", afirmou à Folha.
A carreta sem carga que vinha logo atrás passou, mas o motorista, acompanhado de um operador de máquinas agrícolas, foi repreendido. Os índios querem que passem apenas carretas vazias, e só com um motorista, para, nesses veículos, os produtores "tirarem suas coisas da fazenda".
Um dos alvos do "posto de fiscalização" é a fazenda Providência, de Paulo César Quartiero, que, além de arroz, tem 1.300 hectares de soja.
Líder dos produtores, Quartiero foi preso no último dia 6 suspeito de mandar atirar em índios que lutam pela demarcação da Raposa/Serra do Sol na Vila Surumu. O "posto de fiscalização" está a 90 km de Surumu, centro do conflito.
Próximos à vila, os índios aumentaram ontem ainda mais o acampamento montado na semana passada em frente a outra propriedade de Quartiero, a fazenda Depósito. Ao menos 150 indígenas já estão alojados em barracos de lona. Eles abriram espaço para um campo de futebol e uma quadra de vôlei.
Tanto o acampamento como o posto fazem parte da mobilização dos índios em defesa da demarcação contínua da reserva, o que levaria à retirada dos produtores de arroz da área.
Um grupo de índios contrários à demarcação de forma contínua, que chegou anteontem à Vila Surumu, não promoveu manifestações. Mas eles querem bloquear o acampamento dos índios.


Definição sobre reserva atrasará, afirma ministro

Da sucursal de Brasília

O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Carlos Ayres Britto, relator do caso Raposa/Serra do Sol (RR), afirmou que ficou "inviável" julgar o mérito sobre a demarcação da área antes da metade de junho.
Duas novas ações entraram no Supremo na semana passada, uma da Funai e outra do Estado de Roraima. Ambos pedem para que sejam incluídos como partes interessadas no processo, tornando válidos seus argumentos para o julgamento.
Até então, Britto prometia apresentar seu relatório até o início desta semana. Também dizia esperar que a questão estivesse resolvida até o final de maio.
Agora, porém, o processo deverá voltar ao Ministério Público, para que faça um novo parecer.
Britto avalia que o imprevisto deve atrasar o seu voto e, consequentemente, o julgamento, em pelo menos 15 dias, disse sua assessoria.
A ação que será debatida no plenário do STF foi movida pelos senadores Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR) e Augusto Botelho (PT-RR). Eles pedem a anulação do decreto de demarcação.

Prisão
O Ministério Público concedeu ontem parecer contrário ao relaxamento de prisão do líder arrozeiro e prefeito de Pacaraima (RR), Paulo César Quartiero (DEM), preso há uma semana acusado de liderar um ataque contra indígenas dentro da reserva Raposa/Serra do Sol, em Roraima.


Sem escritura, líder arrozeiro se ampara em ofício da Funai

Do enviado à Raposa/Serra do Sol

Sem ter escrituras de suas duas fazendas dentro da Raposa/Serra do Sol (RR), que somam 9.000 hectares, o produtor Paulo Cesar Quartiero usa um ofício de março de 1977 da Funai para questionar a demarcação da terra indígena.
O ofício da direção da Funai em Brasília responde a uma carta de líderes indígenas macuxis que, reunidos no posto indígena Raposa, pediram a criação de uma área indígena.
A direção da Funai diz que "as terras indígenas já devidamente demarcadas, da imensa fazenda São Marcos, estão praticamente vazias". E acrescenta: "Nosso parecer é que conviria melhor construir roças e dar razões para atração nas terras de São Marcos [terra vizinha à atual Raposa/Serra do Sol] para que os índios voluntariamente viessem, aos poucos, para dentro de seus limites".
Luiz Valdemar Albrecht, advogado de Quartiero, diz que o documento mostra que a demarcação da Raposa/Serra do Sol é uma fraude pois já em 1977 havia a informação de que a área não era habitada por indígenas. Quartiero chegou à região, segundo Albrecht, no começo da década de 70 e comprou as terras de pessoas que estavam na posse da área.
Dono de uma área de 6.000 hectares na Raposa/Serra do Sol, sem escrituras, o rizicultor Ivalcir Centenaro, 53, não quer falar na hipótese de receber indenização para deixar a área.
Centenaro afirmou que começou a comprar terras na região na década de 90.

FSP, 13/05/2008, Brasil, p. A10
 

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