De Povos Indígenas no Brasil
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Notícias
Versões diferentes sobre os conflitos na reserva
22/05/2008
Fonte: CB, Política, p. 6
Versões diferentes sobre os conflitos na reserva
Da redação
O senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR) e a ativista Joênia Wapichana, do Conselho Indigenista de Roraima, nunca tinham se encontrado embora militem no mesmo estado. Os dois representam as correntes antagônicas do debate sobre a demarcação da Reserva Raposa Serra do Sol. Ficaram frente a frente pela primeira vez ontem, durante a gravação do Correio Debate, programa de discussão sobre política veiculado pelo site do jornal. Desconfiados, cada um deles chegou carregando uma pilha de documentos. Eram relatórios sobre a demarcação da reserva, laudos antropológicos e mapas de Roraima. Os papéis contavam duas versões completamente diferentes. Para o senador, a demarcação é uma fraude, baseada em laudos falsificados e impulsionada por ONGs e governos estrangeiros, interessados na internacionalização da Amazônia. Para Wapichana, esses argumentos são racistas e negam aos índios os direitos fundamentais.
Mozarildo Cavalcanti comparou a criação da reserva ao que aconteceu com a república báltica do Kosovo. "Lá também foi criada uma área para abrigar uma etnia e depois ela se transformou em um país independente." Ele disse que apenas parte dos índios são a favor da demarcação contínua da reserva e que entre eles "muitos falam inglês ou espanhol, porque vieram da Venezuela e da Guiana". O senador afirma que parte dos indígenas da região resiste à presença das forças armadas brasileiras na área da reserva e que isso torna a Amazônia vulnerável a ataques externos.
Joênia Wapichana, que nasceu com o sobrenome Batista Carvalho mas adotou a identificação de sua etnia, a Wapichana, rebateu. "Somos brasileiros.
E se não fosse pelos indígenas, que escolheram ser brasileiros, o território de Roraima não pertenceria mais ao país." Ela classificou como "racista" o discurso que nega aos índios a condição de brasileiros. Também garantiu que a legislação de criação da reserva impede que os indígenas a entreguem para estrangeiros, ou façam exploração predatória dos recursos.
Laudo
O senador disse que "a reserva Raposa Serra do Sol é uma fraude". Segundo ele, o que aconteceu foi a união de duas áreas separadas, a Raposa e a Serra do Sol, onde viviam índios de etnias diferentes. "Para forçar a união entre as duas áreas foi feito um laudo falso." Entre outras acusações, diz que as assinaturas não correspondem às funções dos integrantes da equipe. Joênia Wapichana, por sua vez, contestou os laudos produzidos por uma comissão externa do Senado e duas da Assembléia Legislativa de Roraima, todas articuladas por Mozarildo. "Esses estudos foram feitos sem a participação de antropólogos", diz.
A violência na região, que tem sido palco de conflitos entre indígenas e plantadores de arroz , também foi motivo para discordância. Para Joênia Wapichana, quem patrocina a violência são os arrozeiros. "Nos últimos anos 21 pessoas foram mortas na região, sempre do lado dos indígenas." O senador atribui a responsabilidade a parte dos índios. "Se um grupo de índios invade uma fazenda produtiva, o que espera receber?", questionou.
Mozarildo Cavalcanti disse que a polêmica em torno da reserva "está fazendo surgir um ódio não apenas contra os índios, mas também entre eles. Muita gente evita comprar produtos deles ou entrar na área indígena e isso não é bom para ninguém".
Para a advogada Wapichana, a culpa por esse sentimento é dos "políticos que fazem um discurso contra os indígenas".
CB, 22/05/2008, Política, p. 6
Da redação
O senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR) e a ativista Joênia Wapichana, do Conselho Indigenista de Roraima, nunca tinham se encontrado embora militem no mesmo estado. Os dois representam as correntes antagônicas do debate sobre a demarcação da Reserva Raposa Serra do Sol. Ficaram frente a frente pela primeira vez ontem, durante a gravação do Correio Debate, programa de discussão sobre política veiculado pelo site do jornal. Desconfiados, cada um deles chegou carregando uma pilha de documentos. Eram relatórios sobre a demarcação da reserva, laudos antropológicos e mapas de Roraima. Os papéis contavam duas versões completamente diferentes. Para o senador, a demarcação é uma fraude, baseada em laudos falsificados e impulsionada por ONGs e governos estrangeiros, interessados na internacionalização da Amazônia. Para Wapichana, esses argumentos são racistas e negam aos índios os direitos fundamentais.
Mozarildo Cavalcanti comparou a criação da reserva ao que aconteceu com a república báltica do Kosovo. "Lá também foi criada uma área para abrigar uma etnia e depois ela se transformou em um país independente." Ele disse que apenas parte dos índios são a favor da demarcação contínua da reserva e que entre eles "muitos falam inglês ou espanhol, porque vieram da Venezuela e da Guiana". O senador afirma que parte dos indígenas da região resiste à presença das forças armadas brasileiras na área da reserva e que isso torna a Amazônia vulnerável a ataques externos.
Joênia Wapichana, que nasceu com o sobrenome Batista Carvalho mas adotou a identificação de sua etnia, a Wapichana, rebateu. "Somos brasileiros.
E se não fosse pelos indígenas, que escolheram ser brasileiros, o território de Roraima não pertenceria mais ao país." Ela classificou como "racista" o discurso que nega aos índios a condição de brasileiros. Também garantiu que a legislação de criação da reserva impede que os indígenas a entreguem para estrangeiros, ou façam exploração predatória dos recursos.
Laudo
O senador disse que "a reserva Raposa Serra do Sol é uma fraude". Segundo ele, o que aconteceu foi a união de duas áreas separadas, a Raposa e a Serra do Sol, onde viviam índios de etnias diferentes. "Para forçar a união entre as duas áreas foi feito um laudo falso." Entre outras acusações, diz que as assinaturas não correspondem às funções dos integrantes da equipe. Joênia Wapichana, por sua vez, contestou os laudos produzidos por uma comissão externa do Senado e duas da Assembléia Legislativa de Roraima, todas articuladas por Mozarildo. "Esses estudos foram feitos sem a participação de antropólogos", diz.
A violência na região, que tem sido palco de conflitos entre indígenas e plantadores de arroz , também foi motivo para discordância. Para Joênia Wapichana, quem patrocina a violência são os arrozeiros. "Nos últimos anos 21 pessoas foram mortas na região, sempre do lado dos indígenas." O senador atribui a responsabilidade a parte dos índios. "Se um grupo de índios invade uma fazenda produtiva, o que espera receber?", questionou.
Mozarildo Cavalcanti disse que a polêmica em torno da reserva "está fazendo surgir um ódio não apenas contra os índios, mas também entre eles. Muita gente evita comprar produtos deles ou entrar na área indígena e isso não é bom para ninguém".
Para a advogada Wapichana, a culpa por esse sentimento é dos "políticos que fazem um discurso contra os indígenas".
CB, 22/05/2008, Política, p. 6
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