De Povos Indígenas no Brasil
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Notícias

Debate sobre a demarcação de terras indígenas realizado na PUC

10/06/2008

Autor: Sérgio Lobo de Cerqueira

Fonte: CMI Brasil - Central de Mídia Independente - www.midiaindependente.org



Breve relato do debate realizado na PUC sobre a demarcação da reserva indígena Serra do Sol.

Nesta segunda-feira, realizaram-se na PUC dois importantes debates acerca da demarcação das terras indígenas no Brasil - em especial, as da reserva Raposa Serra do Sol em Roraima. A primeira mesa ocorreu no período da manhã, contando com a mediação da antropóloga Lúcia Helena Rangel (PUC) e com a participação dos seguintes debatedores: Deputado Aldo Rebelo (PCdoB/SP); Deputado Ivan Valente (Psol/SP); José Augusto Sampaio (antropólogo/ANAÍ); Ana Lúcia Amaral (procuradora/MPF-SP).

A segunda mesa se deu durante a noite, durando das 20hs até mais ou menos às 22hs e 30 min. Sob a coordenação da antropóloga Vanessa Caldeira (NEMA), participaram do debate a já citada professora Lúcia Helena Rangel, o advogado Antonio Ribas e José Augusto Sampaio, antropólogo e diretor da ONG ANAÍ.

Tive a oportunidade de assistir somente ao segundo debate, mas acredito que, tanto quanto este, o debate da parte da manhã tenha sido bastante caloroso e tenha dado a oportunidade de se observar o que realmente está por trás dos surtos nacionalistas por parte que são contra a demarcação da Raposa Serra do Sol.
A professora Lúcia Helena Rangel foi a primeira a expor sua posição. Com um visível engajamento intelectual, a antropóloga iniciou enfaticamente a sua fala pontuando a necessidade de se convercer as pessoas a respeito da precedência dos direitos indígenas sobre a terra. Dando continuidade a sua exposição, ela esclareceu a situação dos povos da Raposa Serra do Sol, os quais têm sido vítima da ação perniciosa dos brancos latifúndiários que têm usado até a pinga como forma de deterioração das relações dos índios entre si e com a sociedade nacional. A despeito disso (talvez, por isso mesmo), os índigenas daquela região há anos vêm se organizando, e, como resultado de sua luta, conseguiram fazer com que o gado, trazido pelos fazendeiros para dentro da reserva, venha sendo tratado por eles próprios. Por fim, a professora, de maneira breve, desbancou todos aqueles argumentos que servem como pretexto para se barrar os direitos dos índios à terra, a saber: a idéia de que que os índios já estão integrados na sociedade brasileira, ou já estão desaculturados, etc.

Em seguida, foi a vez do José Augusto Sampaio, dirigente da ONG ANAÍ, que trouxe uma profunda contribuição para o debate, argumentando de início que estavam ali em jogo dois projetos de Brasil: o primeiro seria quele ancorado na idéia de que o Brasil é "um só povo", é "um país grandioso" e é marcado pela harmonia entre os diversos povos que o compõem. Nesta primeira idéia de país, segundo o antropólogo, aos índios restam apenas a integração, ou melhor, a sua dissolução no Brasil. Por outro lado, há um projeto de país que, ao invés de fazer subsssumir em si todas as diferenças, valoriza as pluralidades, que devem ser contempladas e respeitadas. O antropólogo não deixou de explicitar o fato de que a demarcação de terras indígenas entra em choque com o primeiro projeto, ligado ao capitalismo, concentrador de terras e de renda.

Após essas duas brilhantes e profundas colocações, o Senhor Doutor Antonio Ribas Paiva esbanjou aquele nacionalismo furado e que não cola mais! Mostrou todo o seu preconceito e o seu racismo ao dizer: "Nós temos o direito de manter pessoas na idade da pedra lascada?". Prosseguindo na sua "argumentação", bateu várias vezes na tecla de que as riquezas do Brasil estão na mira dos estrangeiros e, no caso, os índios seriam uma espécie de puleiro para tal pretensão. Em um ceto momento do debate ele disse as seguintes palavras: "Esta etnia tem o direito de entrar no terceiro milênio". Francamente, onde já se viu tanto preconceito e tanta ignorância?. Além de outras pérolas, ele ainda foi capaz de mostrar a sua ideologia bandeirantista, ao dizer, mais ou menos assim: "Preservemos o nosso território, amemos o nosso país e honremos os nosso antepassados que conquistaram o território nacional".

Não é nem preciso dizer como a platéia vaiou e deu muita risada diante de tantas besteiras proferidas por uma só pessoa.

Para terminar, não posso deixar de mencionar a presença de pessoas que são contra a demarcação da Raposa Serra do Sol. Estavam lá em peso e bem articuladas. Não saíram contentes de lá, não! Vi no final um senhor dizendo o seguinte: "Sabia que ia dar nisso daí!" Diante da afirmação da Lúcia Rangel de que a demarcação é uma questão fundiária, e, não de soberania, este mesmo senhor ainda esbravejou: "Já sabia que eles iam cair nesse negócio de terra, latifúndio...".
 

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