De Povos Indígenas no Brasil
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Notícias
Roraima: Eu votei
30/06/2008
Autor: Egon Dionísio Heck *
Fonte: Adital - www.adital.org.br
Dourados é a "Bosnia brasileira", o genocídio planejado.(Joel Pizzini - cineasta, Campo Grande, 27-06-08)
Madrugada agradável em Campo Grande. Estrelas brincam entre nuvens escorregadias e apressadas. Antes que o dia amanheça mergulhei no ritual da comunicação virtual. Dentre os e-mails, um me chamou especial atenção. Indicava a possibilidade de votar a respeito da demarcação contínua ou em ilha, da Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Era um site do Governo do Estado de Roraima. Fiquei estimulado a exercitar o tão raro ato de cidadania e democracia.
Depois de fazer o x veio o agradecimento formal: obrigado por ter votado. Conferi a estatística. Meu voto foi o 1.011 registrado às 5,05 horas. No gráfico indicava - 828 votos a favor da terra contínua, ou seja, 81,9% e 159 pela demarcação em ilhas, ou seja, 15,7%. A pesquisa foi lançada dia 26 de março. Portanto, depois de três meses o governo que certamente esperava ter mais um argumento "democrático" a seu favor, dever estar se arrependendo de fazer essa pesquisa através de seu site. Não duvido que logo mais deixe de existir. Pelo menos fica esse registro. De minha parte a satisfação de ter contribuído para o direito constitucional dos Indígenas da Raposa Serra do Sol de Terem sua terra reconhecida e os invasores retirados.
Cultura como arma, memória, beleza e luta
Enquanto isso, Campo Grande foi palco de uma das mais importantes iniciativas de visibilização da arte, cultura e luta dos povos indígenas no país. Foi o "Vídeo Índio Brasil 2008". Foi uma semana movimentada e intensa, com cem atividades,entre exibição de filmes e vídeos, seminário, palestras e debates. Diretores, antropólogos, jornalistas, acadêmicos e lideranças indígenas, propiciaram uma importante movimentação simultaneamente em Campo Grande, Dourados e Corumbá. Na capital as atividades foram em espaços diferentes, desde cinemas, escolas até aldeias urbanas. Um momento ímpar para dar visibilidade e debater uma realidade tão desafiadora, brutal e promissora. Mato Grosso do Sul, a terra dos contrastes, deu mostra de que das entranhas da violência brota a força e flor de rara beleza, da resistência e construção de um futuro melhor para todos.
Nos debates, no quais estavam presentes diversos diretores de filmes sobre a temática, vida, cultura e luta dos povos indígenas no Brasil, além de intelectuais e acadêmicos de várias áreas e instituições, uma das realidades sobre a qual várias vezes foram feitas indignadas e preocupantes referências foi a situação da Raposa Serra do Sol. Foi sugerido um documento específico de apoio à luta e direito constitucional desses povos de terem suas terras demarcadas e livres dos arrozeiros. "No momento em que o Brasil discute questões fundamentais que dizem respeito aos povos indígenas, como a demarcação das terras, direitos culturais dos índios e acesso à saúde e educação, o que está em jogo é construirmos um país que contempla ou não a sua diversidade e pluralidade étnica e cultural"(Apresentação das atividades)
Apesar do número de participantes deixar a desejar, exceto na noite de abertura, merece destaque a participação indígena nas atividades. Vicent Carelli, idealizador de Vídeo nas Aldeias, destacou: Fiquei impressionado com a participação indígena nos debates. Fizemos iniciativa semelhante em Manaus, e ficamos decepcionados com a quase ausência indígena.O mesmo autor em tom de desabafo a partir da questão Raposa Serra do Sol observou que "se criou um clima de terror. Existe um verdadeiro surto anti indígena na mídia, racista, denotando total desprezo pelos povos indígenas e chamando a gente de idiota, palhaço". O cineasta Joel Pizzini, natural de Dourados, autor de 500 almas, mostrando a saga dos Guató, lembrou seu tempo de militância junto aos Kaiowá Guarani e seu esforço atual de lutar através da linguagem da imagem, do cinema. Falou da dificuldade de lidar com a diversidade de linguagens e formas de luta. Terminou sua fala lembrando que não é o caso de demonizar determinados aspectos e formas de luta, lembrando a contribuição do Cimi, por exemplo no caso do reconhecimento do povo Guató. "É melhor errar arriscando do que acertar copiando", finalizou.
No debate sobre a realidade dos povos indígenas do Mato Grosso do Sul e suas perspectivas, o dep. Pedro Kemp falou da guerra da terra, lembrando que "vamos ter momentos difíceis pela frente", fazendo referência à vinda dos Grupos de Trabalho para identificação das Terras Kaiowá Guarani e Terena. Nem sequer os trabalhos começaram e já estão sendo obstaculizados em nível judicial. Falou que os inimigos dos direitos indígenas estão muito bem articulados, desde as organizações patronais, municípios, Assl. Legislativa e governo do Estado, todos unidos para impedir a legalização das terras indígenas. O representante do Cimi fez uma retrospectiva das lutas e conquistas indígenas no país e no continente. Porém não era possível ignorar a realidade que enfrentam as populações indígenas no Estado. Já são conhecidos os números da violência. Apenas ressaltou que num levantamento preliminar, dos 22 assassinatos de indígenas neste ano, 18 foram no MS. E dos 16 suicídios, todos foram Kaiowá Guarani. Porém lembrou também dos importantes avanços e exemplos que os povos indígenas no continente estão conquistando. Lembrou em especial a Bolívia, da qual estava participando a cineasta Aymara, Maria Morales. A prof. Dulce deu seu testemunho de quem trabalha vários anos com os Terena "Entre eles, apesar das aparências, está acontecendo uma desnutrição perniciosa, oculta, irreversível. Ela tem causado inúmeros óbitos, especialmente em adultos. Isso em decorrência das doenças novas como, diabete, derrames...O Terena está enfartando. A hipertensão entre os Terena é cinco vezes maior do que na população não indígena. Claudionor Terena, atual administrador regional em Campo Grande, lembrou a luta desigual, sendo que MS é o Estado que sedia articulações nacionais contra os direitos indígenas e que pagam índios para serem espiões. Ressaltou as estratégias Terena de se qualificarem nas diversas áreas de conhecimento "Nós fomos muito estudados. Agora nossa gente está indo para a universidade".
Louvável sob todos os aspectos a iniciativa e promoção do Cine Cultura e da Associação de amigos do CineCultura e de toda uma ampla gama de apoios e colaboradores.
Campo Grande, 30 de junho de 2008
Madrugada agradável em Campo Grande. Estrelas brincam entre nuvens escorregadias e apressadas. Antes que o dia amanheça mergulhei no ritual da comunicação virtual. Dentre os e-mails, um me chamou especial atenção. Indicava a possibilidade de votar a respeito da demarcação contínua ou em ilha, da Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Era um site do Governo do Estado de Roraima. Fiquei estimulado a exercitar o tão raro ato de cidadania e democracia.
Depois de fazer o x veio o agradecimento formal: obrigado por ter votado. Conferi a estatística. Meu voto foi o 1.011 registrado às 5,05 horas. No gráfico indicava - 828 votos a favor da terra contínua, ou seja, 81,9% e 159 pela demarcação em ilhas, ou seja, 15,7%. A pesquisa foi lançada dia 26 de março. Portanto, depois de três meses o governo que certamente esperava ter mais um argumento "democrático" a seu favor, dever estar se arrependendo de fazer essa pesquisa através de seu site. Não duvido que logo mais deixe de existir. Pelo menos fica esse registro. De minha parte a satisfação de ter contribuído para o direito constitucional dos Indígenas da Raposa Serra do Sol de Terem sua terra reconhecida e os invasores retirados.
Cultura como arma, memória, beleza e luta
Enquanto isso, Campo Grande foi palco de uma das mais importantes iniciativas de visibilização da arte, cultura e luta dos povos indígenas no país. Foi o "Vídeo Índio Brasil 2008". Foi uma semana movimentada e intensa, com cem atividades,entre exibição de filmes e vídeos, seminário, palestras e debates. Diretores, antropólogos, jornalistas, acadêmicos e lideranças indígenas, propiciaram uma importante movimentação simultaneamente em Campo Grande, Dourados e Corumbá. Na capital as atividades foram em espaços diferentes, desde cinemas, escolas até aldeias urbanas. Um momento ímpar para dar visibilidade e debater uma realidade tão desafiadora, brutal e promissora. Mato Grosso do Sul, a terra dos contrastes, deu mostra de que das entranhas da violência brota a força e flor de rara beleza, da resistência e construção de um futuro melhor para todos.
Nos debates, no quais estavam presentes diversos diretores de filmes sobre a temática, vida, cultura e luta dos povos indígenas no Brasil, além de intelectuais e acadêmicos de várias áreas e instituições, uma das realidades sobre a qual várias vezes foram feitas indignadas e preocupantes referências foi a situação da Raposa Serra do Sol. Foi sugerido um documento específico de apoio à luta e direito constitucional desses povos de terem suas terras demarcadas e livres dos arrozeiros. "No momento em que o Brasil discute questões fundamentais que dizem respeito aos povos indígenas, como a demarcação das terras, direitos culturais dos índios e acesso à saúde e educação, o que está em jogo é construirmos um país que contempla ou não a sua diversidade e pluralidade étnica e cultural"(Apresentação das atividades)
Apesar do número de participantes deixar a desejar, exceto na noite de abertura, merece destaque a participação indígena nas atividades. Vicent Carelli, idealizador de Vídeo nas Aldeias, destacou: Fiquei impressionado com a participação indígena nos debates. Fizemos iniciativa semelhante em Manaus, e ficamos decepcionados com a quase ausência indígena.O mesmo autor em tom de desabafo a partir da questão Raposa Serra do Sol observou que "se criou um clima de terror. Existe um verdadeiro surto anti indígena na mídia, racista, denotando total desprezo pelos povos indígenas e chamando a gente de idiota, palhaço". O cineasta Joel Pizzini, natural de Dourados, autor de 500 almas, mostrando a saga dos Guató, lembrou seu tempo de militância junto aos Kaiowá Guarani e seu esforço atual de lutar através da linguagem da imagem, do cinema. Falou da dificuldade de lidar com a diversidade de linguagens e formas de luta. Terminou sua fala lembrando que não é o caso de demonizar determinados aspectos e formas de luta, lembrando a contribuição do Cimi, por exemplo no caso do reconhecimento do povo Guató. "É melhor errar arriscando do que acertar copiando", finalizou.
No debate sobre a realidade dos povos indígenas do Mato Grosso do Sul e suas perspectivas, o dep. Pedro Kemp falou da guerra da terra, lembrando que "vamos ter momentos difíceis pela frente", fazendo referência à vinda dos Grupos de Trabalho para identificação das Terras Kaiowá Guarani e Terena. Nem sequer os trabalhos começaram e já estão sendo obstaculizados em nível judicial. Falou que os inimigos dos direitos indígenas estão muito bem articulados, desde as organizações patronais, municípios, Assl. Legislativa e governo do Estado, todos unidos para impedir a legalização das terras indígenas. O representante do Cimi fez uma retrospectiva das lutas e conquistas indígenas no país e no continente. Porém não era possível ignorar a realidade que enfrentam as populações indígenas no Estado. Já são conhecidos os números da violência. Apenas ressaltou que num levantamento preliminar, dos 22 assassinatos de indígenas neste ano, 18 foram no MS. E dos 16 suicídios, todos foram Kaiowá Guarani. Porém lembrou também dos importantes avanços e exemplos que os povos indígenas no continente estão conquistando. Lembrou em especial a Bolívia, da qual estava participando a cineasta Aymara, Maria Morales. A prof. Dulce deu seu testemunho de quem trabalha vários anos com os Terena "Entre eles, apesar das aparências, está acontecendo uma desnutrição perniciosa, oculta, irreversível. Ela tem causado inúmeros óbitos, especialmente em adultos. Isso em decorrência das doenças novas como, diabete, derrames...O Terena está enfartando. A hipertensão entre os Terena é cinco vezes maior do que na população não indígena. Claudionor Terena, atual administrador regional em Campo Grande, lembrou a luta desigual, sendo que MS é o Estado que sedia articulações nacionais contra os direitos indígenas e que pagam índios para serem espiões. Ressaltou as estratégias Terena de se qualificarem nas diversas áreas de conhecimento "Nós fomos muito estudados. Agora nossa gente está indo para a universidade".
Louvável sob todos os aspectos a iniciativa e promoção do Cine Cultura e da Associação de amigos do CineCultura e de toda uma ampla gama de apoios e colaboradores.
Campo Grande, 30 de junho de 2008
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