De Povos Indígenas no Brasil

Notícias

Bugreiros e o Supremo

11/12/2008

Autor: Jessé Souza *

Fonte: Folha de Boa Vista - www.folhabv.com.br



Embora ainda falte concluir o julgamento e necessite ainda da publicação do acórdão, a questão Raposa Serra do Sol está consumada. Não cabe mais bravata, não existe mais monstro de internacionalização nem discursos fajutos de falso nacionalismo e soberania controversa.

O Supremo Tribunal Federal (STF) consagrou o que está escrito na Constituição Federal, mais precisamente nos artigos 231 e 232, reconhecendo definitivamente o direito dos índios sobre as terras tradicionais que ocupam.

Por longos anos, os políticos locais usaram a questão indígena para esconder suas incompetências e desleixo com as grandes causas desse Estado. Pouquíssimos podem bater no peito e dizer que fizeram algo de importante pelo desenvolvimento de Roraima.

A História é rica de relatos, desde o período colonial, em que o governo brasileiro sempre se valeu da estratégia de transformar os índios em "marcos de fronteira". E hoje, um punhado de gente que acha que 100 anos são uma eternidade, se elege como os senhores de tudo e impõe aos índios a pecha de entulho e entreguistas.

Criaram falsos heróis de arroz-de-festa, como se eles estivessem lutando realmente pela soberania brasileira e pelo bem da coletividade de Roraima. Quem leu o mínimo da História do Brasil sabe que essas bravatas e esses falsos heróis são seculares, não são de agora. Muitos acham que esses heróis de mentira surgiram agora, com a questão da Raposa.

Desde o Brasil Império, esses falsos heróis surgiam com o discurso de eliminar os índios em nome do desenvolvimento do Brasil (leia: latifúndios, empreendimentos governamentais, avanço da agricultura a qualquer custo etc etc).

Se hoje os anti-indígenas se travestem de "nacionalistas" e "fomentadores do desenvolvimento econômico", no passado eram os "bugreiros", a serviço do colonizador que chegava para ocupar as terras.

"Eram os bugreiros, impiedosos e reverenciados como heróis. O bugreiro, transformado em defensor do colono, exercia essa atividade como profissional (...) Dispunha também de ajuda econômica governamental" (Gagliardi, 1989, p. 66 " do livro O Rio Branco se enche de História, p. 151).

Os "defensores do desenvolvimento" hoje usam bravatas. Mas, no passado, usavam armas e "defendiam a morte dos nativos, quando eles fossem obstáculos ao desenvolvimento e ao progresso, assim como aqueles que diagnosticavam o fim inexorável desses povos" (Gagliardi, 1989, Ribeiro, 1961 - do livro O Rio Branco se enche de História, p. 154).

Mas o STF veio corrigir tudo isso, com bem disse o ministro Ayres Britto: "A partir de nossa decisão, o Brasil vai se olhar no espelho da história e não mais vai corar de vergonha. O Brasil, agora, com esta decisão, resgata a sua dignidade, tratando os índios brasileiros como nossos irmãos queridos".

* Jornalista
 

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