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Notícias

Raposa: índios pretendem eliminar plantações de arroz

14/12/2008

Fonte: O Globo, O País, p. 8-9



Raposa: índios pretendem eliminar plantações de arroz
Sem a prática da produção em grande escala, donos da reserva falam em manter apenas agricultura de subsistência; projetos turísticos podem ser desenvolvidos

Evandro Éboli
Enviado especial

Futuros donos da imensa área da reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima, os índios ligados ao Conselho Indígena de Roraima (CIR) já decidiram que o plantio de arroz será mantido apenas para subsistência. Eles pretendem acabar com os imensos campos de arroz dos não-índios que serão obrigados a deixar a reserva. No lugar, vão replantar árvores e usar as florestas para caça e pesca, mantendo costumes que os acompanham há séculos.
Segundo o coordenador-geral do CIR, Dionito José de Souza, não há interesse em continuar com as plantações de arroz porque os indígenas não têm prática de produção agrícola em grande escala:
- Não é porque dá muito dinheiro que vamos continuar com aqueles arrozais. Aquele plantio destruiu o meio ambiente, acabou com a floresta e matou animais. Não temos interesse nessas práticas. No máximo, vamos plantar para nós mesmos, para consumo interno.
Os quase 17 mil índios macuxi, taurepang, wapichana, pantamona e ingaricó, portanto, não darão continuidade à exploração comercial do produto, que dá milhões de reais aos fazendeiros. Os não-índios cultivam apenas 27 mil hectares dentro da área de 1,7 milhão de hectares da reserva.
A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que deve ser confirmada em 2009, é de homologar Raposa Serra do Sol em área contínua, o que obrigará os fazendeiros a sair da terra. O julgamento foi suspenso esta semana por um pedido de vista do ministro Marco Aurélio Mello, e só volta à pauta ano que vem. Mas oito dos 11 ministros já se manifestaram a favor dos índios e contra a presença dos arrozeiros.
Índios acham viável a exploração turística
Dionito Souza disse que eles pensam em explorar comercialmente a reserva, mas desde que haja um projeto de desenvolvimento sustentável. Ele citou como exemplo o turismo, uma atividade que pode ser desenvolvida na reserva:
- Temos parques, matas, cachoeiras. Toda uma beleza natural que pode atrair turistas, desde que entrem legalmente, com autorização. Nada de clandestinos na Raposa, nunca mais. Isso vai acabar.
Os índios pretendem usar as áreas hoje em poder dos grandes arrozeiros para caçar animais como paca, tatu e capivara. Querem também pescar curimatã, tambaqui e jacaré. Dionito disse que já iniciou contatos com técnicos da Embrapa para que eles ajudem no plantio correto de verduras, frutas, legumes e cereais:
- Não queremos agrotóxico e vamos produzir de forma manual mesmo. Já temos índios formados como técnicos, e eles poderão nos ajudar.
Para replantar os arrozais, os índios da Raposa deverão contar com apoio de técnicos do Ibama.
Algumas fazendas, como a do líder dos arrozeiros, Paulo César Quartiero, já foram autuadas várias vezes pelo Ibama por cometer ilegalidades como o desvio de um rio para o cultivo do arroz.
Para os empresários, a saída dos arrozeiros é um risco para a economia do estado. O presidente da Federação das Indústrias de Roraima (Fier), Rivaldo Fernandes Neves, defendeu a manutenção das áreas produtivas na reserva e afirmou que a decisão do STF é uma agressão aos princípios de justiça e igualdade:
- A retirada dos arrozeiros de Raposa Serra do Sol vai bloquear o desenvolvimento econômico do estado por vários motivos, entre os quais a perda dos investimentos feitos pelos agricultores. Eles levarão muito tempo até se instalar em outra área, o que exigirá novos esforços e investimentos financeiros.
O presidente da Fier disse que a indústria arrozeira representa 13% do PIB de Roraima, e que a produção abastece não só o mercado local mas também Amazonas, Pará e Amapá. Segundo Neves, a indústria do arroz cria cerca de sete mil empregos diretos e indiretos em Roraima.
- Com a homologação, teremos sete mil pessoas desempregadas em menos de um ano.

O Globo, 14/12/2008, O País, p. 8-9
 

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