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CIR e Alidecir brigam pela posse da área

22/01/2010

Fonte: Folha de Boa Vista - http://www.folhabv.com.br/fbv/noticia.php?id=78722




Um clima tenso vem se formando entre índios da comunidade Kaué, ligados à Aliança de Integração e Desenvolvimento das Comunidades Indígenas de Roraima (Alidecir), e indígenas de comunidades do Conselho Indígena de Roraima (CIR), localizados no município de Pacaraima, ao norte do Estado.

As 28 famílias que integram a comunidade Kaué, que fica a cerca de três quilômetros da sede do Município, entre a Raposa Serra do Sol e a reserva São Marcos, vêm desenvolvendo em uma área de três hectares e meio a agricultura mecanizada para o plantio de culturas como mandioca, feijão, melancia e tomate.

O problema é que a mesma extensão vem sendo pretendida por indígenas oriundos da terra indígena Raposa Serra do Sol para construção de um centro. Segundo o tuxaua da comunidade indígena que ocupa as terras atualmente, Anísio Pedrosa Lima, que também é vice-prefeito de Pacaraima, comunidades de índios próximas à área, como Novo Paraíso, Nova Vitória, São Miguel e Barro, ameaçam invadir o local.

"Estamos desenvolvendo a área que é de nossa jurisdição há anos. Temos planos para a terra, e isso vem gerando um problema sério com as comunidades que pertencem ao CIR. Eles têm mais de sete fazendas beneficiadas, com cerca, capim, que estão deixando para trás para querer pegar as que nós ocupamos", disse Pedrosa.

O tuxaua conta que, com a homologação da terra indígena, o clima ficou mais acirrado entre os ocupantes da região, que abrange a Raposa Serra do Sol e a reserva São Marcos. "Eles pensam que podem entrar em qualquer lugar agora", destacou Pedrosa.

Há cerca de um ano a comunidade Kaué era apenas uma colônia, fixada na área desde 1999. Devido à homologação da Raposa Serra do Sol, os 200 indígenas que moram na região decidiram tornar-se uma comunidade.

Na época em que estava em discussão o processo demarcatório da reserva indígena, a comunidade Kaué defendia o projeto de permanência dos não-índios na região, ou seja, da demarcação em ilhas e não em área contínua, como veio a ocorrer.

"O que nós queremos é desenvolver a terra, plantar, ter o sustento das nossas famílias. Fomos contrários à homologação em área contínua. Estávamos a favor das áreas produtivas, que desenvolvimento do Estado continuasse na forma que estava. Acho que, devido a isso, também os ânimos tenham se acirrado com os indígenas ligados ao CIR", comentou o tuxaua.

Para evitar a "invasão" na área ocupada, Anísio Pedrosa disse que a comunidade irá recorrer à Justiça. A Fundação Nacional do Índio (Funai) já foi avisada sobre o impasse. Os indígenas da localidade aguardam a visita do desembargador do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF), Jirair Menguerian, que coordenou o processo de retirada dos não-índios da Raposa Serra do Sol.

"Eles deixam as áreas deles para entrar na nossa, onde estamos trabalhando a tempo. Tem nossas famílias e projetos de construção de escolas, postos de saúde e muito mais. Não vamos aceitar a intervenção do CIR. O clima está tenso na região. Estamos recebendo ameaça de invasão e nos preocupamos porque temos criança e nossa criação. Esperamos que não aconteça nada", disse Pedrosa.

Assim que foi definida a desocupação da reserva indígena, foi assinada entre as organizações indígenas uma Carta Compromisso para que não houvesse conflito entre os indígenas. Mas, conforme o tuxaua, o documento nunca foi respeitado pelo Conselho.

Anísio Pedrosa conta que vários problemas já ocorreram na região da reserva. Para ele as comunidades ainda são muito desrespeitadas. "É preciso que haja um comprometimento maior, principalmente, do governo federal. Para nós, índios, que estamos na base é muito problemático este tipo de situação", concluiu.

CIR - O coordenador-geral do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Dionito José de Souza, disse que as terras são de todos os povos indígenas. O acordo feito entre as populações de índios que habitam a região é que não haveria impedimento nenhum para construções em qualquer lugar, apenas divisões das bem-feitorias que foram deixados pelos não-índios.

"A questão vem ocorrendo também por causa da bebida alcoólica. Continua a ideia de ganhar as coisas no grito, sem respeito. Isso é muito ruim para nós. Tem terra para produzir, vai ter terra para todo mundo. Esta é uma confusão sem fundamento", disse Souza.

FUNAI - O administrador regional da Funai, Gonçalo Teixeira dos Santos, disse ter tomado conhecimento da situação descrita como uma falta de entendimento entre os povos indígenas e já ter providenciado soluções. No início do mês uma equipe se deslocou para a região para que fosse feito um levantamento in loco do problema.

Um relatório será finalizado esta semana, e as medidas necessárias serão adotadas em conjunto com a Polícia Federal, prometeu Gonçalo.
 

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