De Povos Indígenas no Brasil
Notícias
Pior ameaça na Amazônia é miséria, indica estudo
01/09/2011
Fonte: OESP, Nacional, p. A13
Pior ameaça na Amazônia é miséria, indica estudo
Segundo levantamento do IISS, apesar de ''paranoia'' com temor de invasão por potência estrangeira, Brasil corre maior risco com avanço da pobreza
Jamil Chade
É a miséria, e não falta de tropas ou de um novo sistema de radares, que está transformando a Amazônia em uma das principais rotas do tráfico internacional de armas e drogas no mundo. A constatação é do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), sigla em inglês.
Para a entidade, o projeto do governo brasileiro de investir R$ 10 bilhões para proteger as fronteiras amazônicas do País tem grande chance de fracassar enquanto a pobreza não for erradicada nas comunidades que vivem na região. Segundo os especialistas, apesar da "paranoia" brasileira sobre o risco de uma suposta invasão da região por potências estrangeiras, a realidade é que o Brasil abandonou a Amazônia, militarmente e principalmente socialmente.
O IISS é um dos principais centros de estudos sobre estratégia no mundo, com sede em Londres, e acaba de publicar um novo levantamento sobre a situação das fronteiras no Brasil. Segundo o estudo, a Estratégia Nacional de Defesa de 2008 foi "incapaz" de conter o tráfico de armas e drogas na Amazônia e acusa o País de ainda ter uma avaliação estratégica "ultrapassada" sobre os riscos que a região enfrenta. Enquanto o Brasil insiste que o maior perigo é a invasão da Amazônia por outro governo, a realidade é que a floresta já está sendo ocupada por "grupos armados ilegais".
Rota. Os especialistas afirmam que, apesar dos esforços brasileiros nos últimos anos, a Amazônia passou a ser rota do tráfico internacional, mantendo uma relação direta com a violência nas favelas do Rio de Janeiro e de São Paulo e um caminho cada vez mais frequente para a droga que sai da Bolívia e do Peru.
Parte da inclusão da Amazônia na rota ocorreu pela mudança no padrão de demanda mundial. Houve queda no consumo americano, mas na Europa o volume explodiu em uma década.
Existem ainda fatores locais que explicam a nova tendência. Um deles é o "sucesso do governo da Colômbia na luta contra as Farc, que forçou o grupo a cruzar a fronteira com o Brasil". O estudo cita uma série de reportagens do Estado nesse sentido.
O IISS admite que, no fim do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, houve uma maior atenção à questão das fronteiras, o que seria confirmado com Dilma Rousseff e seu plano de gastar R$ 10 bilhões até 2019 e quase dobrar soldados na região para patrulhar os limites do Brasil. Mas o levantamento alerta que a meta de lidar com o tráfico apenas com essas medidas pode não dar os resultados esperados.
"Parar a infiltração na floresta tropical, porém, é uma meta ambiciosa e ainda é incerto se as políticas anunciadas serão suficientes", disse a entidade. Para os especialistas, a luta contra o tráfico terá de ser também uma luta contra a pobreza na região.
"A pobreza é generalizada, o que significa que o envolvimento de grupos estrangeiros ilegais pode ser uma maneira atrativa de ganhar a vida", avaliam. Os estrategistas citam como indígenas da tribo Tikuna aceitaram atuar como "mulas" para produtores de drogas da Bolívia e do Peru. Apontam ainda a situação de pobreza dos índios que vivem na reserva Raposa Serra do Sol (RR).
A Estratégia de Defesa Nacional reconhece a relação entre a segurança e o desenvolvimento sustentável da Amazônia. "Mas os brasileiros estão tomando apenas passos tímidos na direção de lidar com a exclusão social e miséria que permitem que grupos armados estrangeiros se proliferem pela Amazônia", afirma o IISS.
Tecnologia do tráfico
Segundo o IISS, traficantes conseguiram até modificar geneticamente a planta da coca para permitir sua produção nas zonas úmidas da Amazônia brasileira, e não apenas na região andina.
IISS vê País com visão estratégica ultrapassada
De acordo com o levantamento do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS) sobre a situação das fronteiras no Brasil, a pobreza afeta 42% da população na Amazônia, ante apenas 28% em média no resto do Brasil. Apenas um terço da população que vive na região do mundo com mais recursos hídricos tem acesso a água limpa.
"Apesar do plano de levar mais tropas e equipamento, gangues nacionais continuarão a encontrar um santuário entre a população local empobrecida", afirmam os especialistas da IISS. "O próximo desafio que as autoridades terão de encarar é como equilibrar a luta contra as gangues da droga com políticas de desenvolvimento social e proteção ambiental."
"Paranoia". Para superar esse problema, os estrategistas ressaltam que o Brasil ainda terá de lidar com "paranoia" nacional de que região está sob a ameaça de ser invadida por uma potência estrangeira. "O maior sinal de como o pensamento estratégico do Brasil está ultrapassado é a obsessão dos militares com uma potencial invasão por potência estrangeira", afirmam.
Em 2008, plano estratégico nacional mantinha essa visão, que consiste em preparar o Exército para uma "guerra assimétrica contra um inimigo com um capacidade militar amplamente superior". Os especialistas afirmam que isso foi classificado por americanos como "imaturidade política".
O problema é que essa visão estaria enraizada. Um levantamento feito pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT) em 2007 indicou que 83% do militares têm a visão de que a Amazônia pode ser invadida por outro governo. Essa visão é mantida por 73% dos civis, enquanto ministros do governo Lula fizeram questão de repetir o mantra.
Os especialistas, no entanto, afirmam que o discurso da classe política brasileira não condiz com realidade. Em 11 mil quilômetros de fronteira na região, o País tem menos de mil agentes da Polícia Federal e apenas 13% das Forças Armadas. "Além disso, metade do equipamento militar nacional está em condição ruim e não é utilizável", conclui o estudo.
OESP, 01/09/2011, Nacional, p. A13
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,pior-ameaca-na-amazonia-e-miseria-indica-estudo,766826,0.htm
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,iiss-ve-pais-com-visao-estrategica-ultrapassada,766827,0.htm
Segundo levantamento do IISS, apesar de ''paranoia'' com temor de invasão por potência estrangeira, Brasil corre maior risco com avanço da pobreza
Jamil Chade
É a miséria, e não falta de tropas ou de um novo sistema de radares, que está transformando a Amazônia em uma das principais rotas do tráfico internacional de armas e drogas no mundo. A constatação é do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), sigla em inglês.
Para a entidade, o projeto do governo brasileiro de investir R$ 10 bilhões para proteger as fronteiras amazônicas do País tem grande chance de fracassar enquanto a pobreza não for erradicada nas comunidades que vivem na região. Segundo os especialistas, apesar da "paranoia" brasileira sobre o risco de uma suposta invasão da região por potências estrangeiras, a realidade é que o Brasil abandonou a Amazônia, militarmente e principalmente socialmente.
O IISS é um dos principais centros de estudos sobre estratégia no mundo, com sede em Londres, e acaba de publicar um novo levantamento sobre a situação das fronteiras no Brasil. Segundo o estudo, a Estratégia Nacional de Defesa de 2008 foi "incapaz" de conter o tráfico de armas e drogas na Amazônia e acusa o País de ainda ter uma avaliação estratégica "ultrapassada" sobre os riscos que a região enfrenta. Enquanto o Brasil insiste que o maior perigo é a invasão da Amazônia por outro governo, a realidade é que a floresta já está sendo ocupada por "grupos armados ilegais".
Rota. Os especialistas afirmam que, apesar dos esforços brasileiros nos últimos anos, a Amazônia passou a ser rota do tráfico internacional, mantendo uma relação direta com a violência nas favelas do Rio de Janeiro e de São Paulo e um caminho cada vez mais frequente para a droga que sai da Bolívia e do Peru.
Parte da inclusão da Amazônia na rota ocorreu pela mudança no padrão de demanda mundial. Houve queda no consumo americano, mas na Europa o volume explodiu em uma década.
Existem ainda fatores locais que explicam a nova tendência. Um deles é o "sucesso do governo da Colômbia na luta contra as Farc, que forçou o grupo a cruzar a fronteira com o Brasil". O estudo cita uma série de reportagens do Estado nesse sentido.
O IISS admite que, no fim do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, houve uma maior atenção à questão das fronteiras, o que seria confirmado com Dilma Rousseff e seu plano de gastar R$ 10 bilhões até 2019 e quase dobrar soldados na região para patrulhar os limites do Brasil. Mas o levantamento alerta que a meta de lidar com o tráfico apenas com essas medidas pode não dar os resultados esperados.
"Parar a infiltração na floresta tropical, porém, é uma meta ambiciosa e ainda é incerto se as políticas anunciadas serão suficientes", disse a entidade. Para os especialistas, a luta contra o tráfico terá de ser também uma luta contra a pobreza na região.
"A pobreza é generalizada, o que significa que o envolvimento de grupos estrangeiros ilegais pode ser uma maneira atrativa de ganhar a vida", avaliam. Os estrategistas citam como indígenas da tribo Tikuna aceitaram atuar como "mulas" para produtores de drogas da Bolívia e do Peru. Apontam ainda a situação de pobreza dos índios que vivem na reserva Raposa Serra do Sol (RR).
A Estratégia de Defesa Nacional reconhece a relação entre a segurança e o desenvolvimento sustentável da Amazônia. "Mas os brasileiros estão tomando apenas passos tímidos na direção de lidar com a exclusão social e miséria que permitem que grupos armados estrangeiros se proliferem pela Amazônia", afirma o IISS.
Tecnologia do tráfico
Segundo o IISS, traficantes conseguiram até modificar geneticamente a planta da coca para permitir sua produção nas zonas úmidas da Amazônia brasileira, e não apenas na região andina.
IISS vê País com visão estratégica ultrapassada
De acordo com o levantamento do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS) sobre a situação das fronteiras no Brasil, a pobreza afeta 42% da população na Amazônia, ante apenas 28% em média no resto do Brasil. Apenas um terço da população que vive na região do mundo com mais recursos hídricos tem acesso a água limpa.
"Apesar do plano de levar mais tropas e equipamento, gangues nacionais continuarão a encontrar um santuário entre a população local empobrecida", afirmam os especialistas da IISS. "O próximo desafio que as autoridades terão de encarar é como equilibrar a luta contra as gangues da droga com políticas de desenvolvimento social e proteção ambiental."
"Paranoia". Para superar esse problema, os estrategistas ressaltam que o Brasil ainda terá de lidar com "paranoia" nacional de que região está sob a ameaça de ser invadida por uma potência estrangeira. "O maior sinal de como o pensamento estratégico do Brasil está ultrapassado é a obsessão dos militares com uma potencial invasão por potência estrangeira", afirmam.
Em 2008, plano estratégico nacional mantinha essa visão, que consiste em preparar o Exército para uma "guerra assimétrica contra um inimigo com um capacidade militar amplamente superior". Os especialistas afirmam que isso foi classificado por americanos como "imaturidade política".
O problema é que essa visão estaria enraizada. Um levantamento feito pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT) em 2007 indicou que 83% do militares têm a visão de que a Amazônia pode ser invadida por outro governo. Essa visão é mantida por 73% dos civis, enquanto ministros do governo Lula fizeram questão de repetir o mantra.
Os especialistas, no entanto, afirmam que o discurso da classe política brasileira não condiz com realidade. Em 11 mil quilômetros de fronteira na região, o País tem menos de mil agentes da Polícia Federal e apenas 13% das Forças Armadas. "Além disso, metade do equipamento militar nacional está em condição ruim e não é utilizável", conclui o estudo.
OESP, 01/09/2011, Nacional, p. A13
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,pior-ameaca-na-amazonia-e-miseria-indica-estudo,766826,0.htm
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,iiss-ve-pais-com-visao-estrategica-ultrapassada,766827,0.htm
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