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Projeto com etnia prova que é possível incrementar a renda dos índios sem mudar costumes ou danificar o ambiente

31/05/2004

Autor: MARIA ANGÉLICA OLIVEIRA

Fonte: Diário de Cuiabá-Cuiabá-MT



Os índios rikbaktsas estão encontrando na castanha uma alternativa viável para sua manutenção


Índios da etnia rikbaktsa, no noroeste do Estado, estão seguindo um caminho diferente na busca de geração de renda. Ao contrário de algumas etnias, como os parecis e os xavantes, que começaram a investir no plantio de soja e arroz, os rikbaktsas estão colhendo e vendendo de forma organizada a castanha-do-brasil, também conhecida como castanha-do-pará.

O Programa de Integração da Castanha, elaborado pelo Núcleo de Pesquisa, Natureza e Cultura (Gera) da UFMT, está munindo os índios com instrumentos e conhecimento necessários para comercializar a castanha de forma competitiva no mercado. "Antes o quilo era vendido a R$ 0,50. Na última coleta, saiu a R$ 1", comemora o antropólogo Gilton Mendes dos Santos, coordenador do programa.

Mas o maior trunfo do projeto é a conservação do meio ambiente. "Há diamantes e madeira na área, mas os índios nunca cederam às pressões dos grupos econômicos", afirma. "É preciso olhar de forma diferente. Muitos defendem o gado e a soja porque não conseguem ver algo novo. Não estamos reproduzindo o modelo da fronteira, que acha que o desmate significa progresso", completa.

Ele explica que antes o comércio era feito informalmente, na beira das estradas e em pequenas quantidades. Essa forma "pulverizada" e desorganizada de venda fazia com que os preços caíssem. Os índios chegaram a coletar 30 toneladas de castanha no período de novembro a março. A meta é conseguir ampliar a colheita para 50.

No início, foi feito um diagnóstico da área, identificando a estrutura social da etnia. São 1.260 índios, organizados em 25 aldeias, cada uma com 20 ou 30 pessoas. As aldeias formam cinco conglomerados, que possuem áreas de uso comum. Os conglomerados, por sua vez, se unem nas terras indígenas da etnia. Os pesquisadores se valeram dos laços sociais para construir o plano de ação e estreitar as distâncias. "Eles têm relações de parentesco mais coesas. Há um apoio mútuo entre sogros, genros, cunhados", define Gilton.

Em seguida, um mapeamento levantou a localização de diversos castanhais que se distribuem pelos 400 mil hectares da área dos rikbaktsas. Cada castanhal tem em média 20 a 30 árvores produtivas. "A maioria não era explorada porque os índios não tinham o acesso à mata e demanda suficiente", explica.

O programa aposta no potencial da região noroeste para se criar um pólo alternativo ao modelo econômico. A castanha está sendo vendida para Juína, Vilhena e Tangará da Serra. A expectativa é ampliar as vendas para Cuiabá, que compra o produto atualmente do Pará por R$ 2 o quilo. A renda gerada vai conservar a floresta e impedir que os índios abandonem as aldeias. Na opinião do coordenador, os reflexos vão além, estimulando os laços sociais e a integração das famílias no processo produtivo.

A idéia é respeitar o modo como os rikbaktsas se organizam. "O projeto é do jeito deles e não do nosso", afirma. Os barracões onde a castanha é armazenada foram construídos em cada conjunto de aldeias que os índios estabeleceram há séculos. As responsabilidades de organização da coleta foram divididas de acordo com o nível hierárquico do povo. Cada cacique se tornou o coordenador da aldeia. Ele acompanha a coleta, a quantidade, qualidade, organiza e entrega os sacos no barracão.

O controle da produção é feito com as fichas que cada família possui. Quando a castanha é vendida, cada representante pega o dinheiro e distribui entre as famílias. Os índios estão recebendo apoio para abrir picadas na mata, analisar e selecionar as castanhas, ensacar, contactar compradores, fazer encomendas etc.
 

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