De Povos Indígenas no Brasil
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Política educacional para os Ticuna de Vila de Betânia, no Amazonas
02/02/2015
Autor: Renan Albuquerque
Fonte: Amazônia Real (Manaus - AM) - http://www.amazoniareal.com.br
Os Ticuna de Benjamin Constant, a noroeste do Estado do Amazonas, procuram acompanhar evoluções técnico-científicas ocidentais e trazê-las para dentro das comunidades em amplas medidas, onde podem usufruir e compartilhar possibilidades comuns a partir de usos coletivos. A atitude, porém, chama atenção de não indígenas, que tendem a tecer críticas em razão de ressignificações sobre a realidade e diante das transformações do mundo.
Vila de Betânia é uma comunidade Ticuna que dispõe de razoável infraestrutura no Alto Solimões, mesorregião amazônica, em comparativo a demais aldeamentos orientados a partir de governança estatal, os quais possuem frágil acomodação de instituições públicas, como escola, praça, posto de saúde etc.
Na Vila, há ruas asfaltadas, atendimento médico, odontológico, residências, quadra poliesportiva, campos de futebol, comércios e escolas municipais e estaduais climatizadas. Além da esferal material, a comunidade procura estar envolvida com seu habitus, no sentido macro empregado por Pierre Bourdieu (1930-2002), mantendo relação comunal e de bem-estar.
Acerca do dia a dia escolar na localidade, durante a cheia a maioria do alunado deixa de ir à escola para tomar banho no rio, pescar e ir para a roça com os pais, fomentando envolvimentos socioculturais e familiares. No período da vazante (seca), a situação é amenizada.
A partir da observação, e ainda de acordo com a concepção de escola que respeita fatores culturais envolventes de indivíduos indígena, esse seria exemplo de postura acertada a adotar diante da realidade Ticuna, acoplando modelos educacionais a trajetórias de vida das pessoas.
Por outro lado, se a escola é considerada flexiva entre aldeados de Vila de Betânia, essa flexibilidade tende a fomentar controvérsias, tais como índices baixos em avaliações externas (estas frigorificadas em suas análises burocráticas); dificuldades na escrita e leitura do português; reprovação ou aprovação de alunos(as) sem conhecimento básico das disciplinas (organizadas segundo modelos de pessoas não tradicionais).
A essas questões, somam-se variáveis intervenientes relacionadas a homicídio entre jovens, consumo excessivo de psicotrópicos e álcool. São fatores concorrentes para rendimentos escolares ruins entre estudantes de diversas idades, sobretudo considerando-se que em ambientes indígenas Ticuna a idade de 11 a 12 anos já é considerada parcialmente emancipatória.
A partir da problemática descrita, observou-se a necessidade em 2013 da implantação de um Projeto Político Pedagógico (PPP) para a escola da Vila de Betânia, o que poderia ter entrado em vigor neste início de 2015. A atividade foi planejada a partir de leis socioculturais e considerando-se o status das pessoas que moram no lugar.
Elaborou-se, assim, planos de cursos diferenciados e calendários escolares de acordo com as tradições Ticuna. A proposta ainda está em análise pela Secretaria de Estado da Educação do Amazonas (Seduc) e há expectativas positivas de profissionais da instituição escolar indígena quanto à sua implantação.
A partir da proposta enviada, espera-se que similaridades e diferenças sejam problematizadas no intuito de identificar diagnósticos válidos para aquela área indígena. Primeiro porque se tratam de ambientes ancestrais, com memórias vinculadas a tradicionalismos; segundo porque são sociedades complexas em sua cosmologia, sociopolítica, sexualidade e parentesco, além de demais esferas sociais; terceiro porque, como já se indicou, deve-se presumir alteridade no trato com a pessoa indígena porque estão em jogo saberes e fazeres históricos.
* Renan Albuquerque é professor e pesquisador do colegiado de jornalismo da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e desenvolve estudos relacionados a conflitos e impactos socioambientais entre índios waimiri-atroari, sateré-mawé, hixkaryana, junto a atingidos pela barragem de Balbina e com assentados da reforma agrária.
http://amazoniareal.com.br/politica-educacional-para-os-ticuna-de-vila-de-betania-no-amazonas/
Vila de Betânia é uma comunidade Ticuna que dispõe de razoável infraestrutura no Alto Solimões, mesorregião amazônica, em comparativo a demais aldeamentos orientados a partir de governança estatal, os quais possuem frágil acomodação de instituições públicas, como escola, praça, posto de saúde etc.
Na Vila, há ruas asfaltadas, atendimento médico, odontológico, residências, quadra poliesportiva, campos de futebol, comércios e escolas municipais e estaduais climatizadas. Além da esferal material, a comunidade procura estar envolvida com seu habitus, no sentido macro empregado por Pierre Bourdieu (1930-2002), mantendo relação comunal e de bem-estar.
Acerca do dia a dia escolar na localidade, durante a cheia a maioria do alunado deixa de ir à escola para tomar banho no rio, pescar e ir para a roça com os pais, fomentando envolvimentos socioculturais e familiares. No período da vazante (seca), a situação é amenizada.
A partir da observação, e ainda de acordo com a concepção de escola que respeita fatores culturais envolventes de indivíduos indígena, esse seria exemplo de postura acertada a adotar diante da realidade Ticuna, acoplando modelos educacionais a trajetórias de vida das pessoas.
Por outro lado, se a escola é considerada flexiva entre aldeados de Vila de Betânia, essa flexibilidade tende a fomentar controvérsias, tais como índices baixos em avaliações externas (estas frigorificadas em suas análises burocráticas); dificuldades na escrita e leitura do português; reprovação ou aprovação de alunos(as) sem conhecimento básico das disciplinas (organizadas segundo modelos de pessoas não tradicionais).
A essas questões, somam-se variáveis intervenientes relacionadas a homicídio entre jovens, consumo excessivo de psicotrópicos e álcool. São fatores concorrentes para rendimentos escolares ruins entre estudantes de diversas idades, sobretudo considerando-se que em ambientes indígenas Ticuna a idade de 11 a 12 anos já é considerada parcialmente emancipatória.
A partir da problemática descrita, observou-se a necessidade em 2013 da implantação de um Projeto Político Pedagógico (PPP) para a escola da Vila de Betânia, o que poderia ter entrado em vigor neste início de 2015. A atividade foi planejada a partir de leis socioculturais e considerando-se o status das pessoas que moram no lugar.
Elaborou-se, assim, planos de cursos diferenciados e calendários escolares de acordo com as tradições Ticuna. A proposta ainda está em análise pela Secretaria de Estado da Educação do Amazonas (Seduc) e há expectativas positivas de profissionais da instituição escolar indígena quanto à sua implantação.
A partir da proposta enviada, espera-se que similaridades e diferenças sejam problematizadas no intuito de identificar diagnósticos válidos para aquela área indígena. Primeiro porque se tratam de ambientes ancestrais, com memórias vinculadas a tradicionalismos; segundo porque são sociedades complexas em sua cosmologia, sociopolítica, sexualidade e parentesco, além de demais esferas sociais; terceiro porque, como já se indicou, deve-se presumir alteridade no trato com a pessoa indígena porque estão em jogo saberes e fazeres históricos.
* Renan Albuquerque é professor e pesquisador do colegiado de jornalismo da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e desenvolve estudos relacionados a conflitos e impactos socioambientais entre índios waimiri-atroari, sateré-mawé, hixkaryana, junto a atingidos pela barragem de Balbina e com assentados da reforma agrária.
http://amazoniareal.com.br/politica-educacional-para-os-ticuna-de-vila-de-betania-no-amazonas/
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