De Povos Indígenas no Brasil
Notícias
Índios vivem de subemprego
22/10/2001
Autor: ARAÚJO, Rodrigo
Fonte: A Crítica, p. A-5 (Manaus - AM)
Documentos anexos
Eles deixaram suas tribos no interior do Estado em busca de uma vida melhor na capital. Longe de seu povo e de seus costumes, terminaram encontrando muitas dificuldades para se integrar em uma nova cultura. Para sobreviver no "mundo civilizado", os chamados "índios urbanos" tiveram que absorver alguns hábitos como trabalhar em troca de dinheiro para garantir o sustento de suas famílias.De acordo com estatísticas da Fundação Nacional do Índio (Funai), cerca de 10 mil índios vivem atualmente em Manaus. Sem qualificação profissional, a maioria vive hoje de subemprego. Os homens buscam os "bicos" fazendo serviço de pedreiro, carpinteiro e outras atividades braçais. As mulheres geralmente procuram trabalho em casas de família, onde são aproveitadas como empregadas domésticas.Foi o que aconteceu com Maria Gonçalves Lima, 26, da etnia baniua. Ela saiu de sua tribo em 1995 para trabalhar na casa da família de um militar, em São Gabriel da Cachoeira (a 858 quilômetros de Manaus). Dois anos depois, o militar foi transferido para São Paulo e ela teve que procurar outro emprego. "Uma família que estava mudando para Manaus me chamou para trabalhar na casa dela. Foi dessa forma que vim parar aqui", lembra.Maria conta que a mudança para a capital foi mais difícil do que sua transferência da tribo para São Gabriel da Cachoeira. "Lá eu ainda tinha contato com a minha família e, vez ou outra, conseguia visitar minha aldeia. Aqui ficou mais complicado por causa da distância", observa.Para Maria, o índio ainda encontra dificuldades na cidade grande. Com apenas quatro anos na capital, ela já entendeu que para conseguir melhorar de vida terá que buscar mais conhecimento. "Sem estudo ninguém vai pra frente. Estou fazendo um curso à noite para tentar concluir o 1o grau, que eu iniciei em São Gabriel da Cachoeira. Quero estudar para ser professora e voltar para ensinar as crianças da minha tribo", comenta.Manoel Luiz Gil da Silva, 42, da etnia sateré-maué, diz que o índio precisa "se virar" para conseguir sobreviver na cidade. Ele é presidente da Associação Estrela Sateré-Maué, fundada pelo grupo indígena que desde 1975 ocupa uma área no bairro da Redenção, na Zona Centro-Oeste. Segundo Manoel, das 18 famílias da comunidade apenas cerca de cinco pessoas estão empregadas. "O resto do grupo vai vivendo como pode, pegando um serviço de pedreiro aqui, limpando um terreno ali, ou seja, dependendo de bicos", afirma.Segundo Manoel, uma alternativa encontrada pela associação para amenizar a situação do grupo foi "comercializar" a cultura da tribo. Numa atitude que gerou muita polêmica no meio indigenista, os membros da comunidade passaram a realizar o ritual da tucandeira para turistas mediante o pagamento de "cachê". "Essa é uma tradição de nossa tribo que acontece toda vez que um jovem passa para a idade adulta. Na aldeia, o ritual é uma festa importante comemorada por todos, mas aqui na cidade virou uma forma de ganharmos a vida relembrando nossos costumes", avalia.Outra forma de ganhar dinheiro com a cultura sateré-maué é confeccionando artesanato. Manoel revela que a venda de colares, pulseiras e outros objetos não gera tanta renda, mas ressalta que é uma forma de garantir o mínimo para sobreviver. "As lojas que trabalham com venda de artesanato pagam pouco pelas peças. A gente só fatura mais alto quando vem algum grupo de turistas, porque eles reconhecem o nosso trabalho e pagam o preço justo."
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