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Funai apreende madeira de reserva

08/11/2001

Autor: Rodrigo Vargas

Fonte: Diário de Cuiabá-MT



Equipes de fiscalização da Fundação Nacional do Índio (Funai) apreenderam nos últimos dez dias 688 toras de madeira retiradas ilegalmente da Terra Indígena Vale do Guaporé, em Comodoro - 646 quilômetros a oeste de Cuiabá -, a maior das onze áreas da etnia nambikwara.

Duas operações foram realizadas na área de 242 mil hectares entre os dias 28 de outubro e 6 de novembro. A primeira descobriu 564 toras em cinco esplanadas, durante um trabalho de perícia que havia sido solicitado pela Polícia Federal - que investiga crimes relacionados com a exploração ilegal de madeira. A segunda resultou em outras 124 toras.

A novidade é que desta vez toda a madeira será leiloada, com renda revertida integralmente para projetos desenvolvidos nas aldeias. "Antes a Funai apreendia e, por falta de recursos para transportar, a madeira acabava apodrecendo nas esplanadas", relatou Benedito Araújo, chefe do Serviço de Meio Ambiente da Funai. "Com o resultado do leilão, vamos financiar o etno-desenvolvimento nas aldeias".

A idéia do leilão partiu do promotor de Justiça da comarca de Comodoro, Mauro Poderoso Júnior. "Ele nos deu um presente", comemorou o funcionário da Funai, que disse ter ficado surpreso com a solução encontrada. "Até mesmo o transporte da madeira será pago com a renda do leilão".

Desde que a exploração desordenada da madeira extinguiu os recursos das fazendas da região, as áreas indígenas se tornaram o último reduto de espécies nobres como o mogno. E, por isso mesmo, o alvo principal dos madeireiros. "Somente nesta operação, foram 24 toras de mogno, cujo corte é proibido por Lei", diz Araújo.

Na maior parte dos casos, o trabalho começa com o aliciamento dos índios. Os invasores oferecem carros, motos e gêneros alimentícios em troca de simpatia, ajuda e, obviamente, milhões de dólares em mogno, peroba, e cabriúva, entre outras espécies de grande valor no mercado.

É uma relação de troca que só se concretiza em função das péssimas condições de subsistência nas áreas nambikwara, onde é cada vez menor a oferta de caça e pesca. Na Vale do Guaporé, com 242 mil hectares, até mesmo árvores frutíferas, como o pariri, já estão sendo levadas pelos invasores.

A área é cercada por propriedades rurais. Há a suspeita de que muitas delas sejam usadas para "esquentar" a madeira retirada das aldeias. De lá, as toras seguem para as serrarias de Comodoro e Pontes e Lacerda. Com nota fiscal e plano de manejo.
 

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