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Pajelança contra a malária

13/03/2005

Fonte: A Crítica, Cidades, p. A1,C4



Pajelança contra a malária
Índio contratado pela Fundação 0swaldo Cruz quer usar seus conhecimentos para erradicar a malária em Manaus

Omar Gusmão
Da equipe de A Crítica

Os conhecimentos tradicionais dos povos indígenas da Amazônia têm experimentado uma valorização crescente nos últimos anos. Prova disso é a contratação do pajé Gabriel Gentil, 51, para ser pesquisador da área de saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Militante da causa dos povos indígenas da Amazônia há trinta anos, o pajé tukano tem como projeto prioritário atualmente a erradicação da malária em Manaus por intermédio de rituais de pajelança.
"Sou um curador de doenças. Fui contratado na Fiocruz para fazer penetrar os conhecimentos tradicionais indígenas na questão da saúde em geral, sem discriminação de brancos ou índios. Somos todos brasileiros", diz Gentil.
Para quem pergunta de que forma o xamã pretende eliminara malária na cidade, Gabriel Gentil tem a resposta na ponta da língua. "Com arte indígena e pajelança. Vamos eliminara doença por meio de rituais, com ajuda das crenças espirituais", afirma.
De acordo com o pajé tukano, seu interesse pelo tema foi despertado pelo fato de que Manaus todos os anos, de janeiro a abril, é atacada pela doença. "0 Hospital Tropical enche de pessoas com malária", observa.
0 pesquisador pretende solicitar ao presidente da Fiocruz que envie uma carta ofício ao Ministério da Saúde para que órgãos como a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e a Secretária de Estado da Saúde (Susam), além de outros organismos que trabalham com o combate à malária, aceitem essa proposta indígena. "Vamos começar com pajés que moram em Manaus. De início, três tribos diferentes vão estar envolvidas: Tukanos, Dessanas e Tarianos", explica.
A explicação do pajé para a origem da malária em Manaus remete à milenar mitologia indígena e desafia quem está acostumado há séculos ao pensamento puramente racional. De acordo com Gabriel Gentil, as "doenças malárias" que atingem a população de Manaus moram nas cachoeiras Tarumã Grande e Tarumã' Pequeno. "Elas moram em potes de pedra que há nas cachoeiras", afirma.
0 xamã garante que os peixes, durante a piracema, abrem os potes e realizam rituais e danças. "A piracema dos peixes é o ritual deles", diz. É quando os peixes abrem os "potes de malária" e bebem daquela água, segundo Gentil, que ocorre a contaminação das águas da cidade. "A água desce, vai para a Ponta Negra, chega aos reservatórios da Água do Amazonas e abastece a cidade. Aí, as pessoas são contaminadas", diz o pajé, afirmando que essa é a ciência dos pajés indígenas.
Para o pajé, o resultado dos rituais vai poder ser conferido no próximo ano.

Em Números
28,9 mil casos de malária foram registrados em todo o Amazonas só nos primeiros meses de 2005. Em Manaus, no mesmo período, foram registrados 12 mil casos. 200 tipos de plasmodium causador da malária se desenvolveram durante o processo evolutivo.

Estudioso há 30 anos
Gentil se dedica a estudar, difundir e defender o conhecimento tradicional dos povos indígenas da Amazônia desde que tinha 21 anos. Atualmente com 51 anos, o pajé nasceu na aldeia Pari-Cachoeira, localizada próximo ao município de São Gabriel da Cachoeira. "Vivi lá até os 36 anos. Mas, depois que eu servi o exército, ficava para lá e para cá. No fim, acabei ficando na cidade". Depois que conseguir concretizar seu projeto de erradicação da malária, o xamã pretende se dedicara um projeto para combatera cesariana. "índio não faz operação no parto. Temos que unir nossas forças para não mais operar. A mulher sofre muito", garante.

A Crítica, 13/03/2005, Cidades, p. A1, C4
 

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