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OPERAÇÃO UPATAKON 3 - PF está fazendo levantamento de fazendas

02/04/2008

Autor: Andrezza Trajano

Fonte: Folha de Boa Vista




Mesmo com as manifestações realizadas na segunda-feira, por indígenas contrários à homologação e por rizicultores, para impedir a execução da Operação Upatakon 3, a ação da Polícia Federal continua visando a retirada de não-índios da terra indígena Raposa Serra do Sol.

A informação foi confirmada ontem pela manhã pelo coordenador do Comitê Gestor das Ações do Governo Federal em Roraima, Nagib Lima, após se reunir com representantes da Polícia Federal (PF), Fundação Nacional do Índio (Funai), Advocacia-Geral da União (AGU) e o Ministério Público Federal (MPF). O encontro aconteceu na sede do MPF.

Durante a reunião foi feita uma avaliação do desdobramento da operação realizada pela PF na segunda-feira, em Surumu, "deixando claro que a polícia apenas foi ao local para continuar com os trabalhos de levantamento das fazendas na região, e não para realizar a retirada dos não-índios".

"Foi uma reunião apenas esclarecedora. O trabalho da Polícia Federal continuará normalmente. Não existe nenhuma orientação do Governo Federal para que a Operação Upatakon 3 seja suspensa ou cancelada", frisou o coordenador.

Sobre a possibilidade de indígenas e arrozeiros bloquearem as vias de acesso ao Estado, Nagib foi enfático: "O governo não tolerará esse tipo de ação".

A informação de que a Upatakon 3 continua também foi confirmada pela Polícia Federal. De acordo a instituição, novos policiais vindos de outros estados chegaram ontem a Roraima e "outros mais chegarão nos próximos dias, até que o quadro de policiais necessário para agir na operação esteja completo". A Polícia Federal afirmou ainda que os trabalhos de planejamento e coordenação da operação e apoio à Superintendência Regional continuam normalmente.

Além dos trabalhos da PF, a advogada do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Joênia Wapixana, que participou da reunião, pediu aos demais representantes uma aceleração no processo de retirada dos não-índios da Raposa Serra do Sol, bem como proteção aos indígenas contrários à homologação que permanecem na área.

Manifestantes fazem novo bloqueio e planejam mais ações para hoje

A ponte do rio Cotingo, na Vila do Contão, foi bloqueada ontem por manifestantes contrários à homologação da terra indígena Raposa Serra do Sol. A ponte Araujinho, próxima da ponte de Surumu, que havia sido queimada parcialmente na segunda-feira, foi totalmente incendiada na madrugada de ontem. Com estas novas ações, o acesso à Vila Surumu ficou ainda mais prejudicado.

De acordo com os manifestantes, a passagem pela ponte do rio Contigo é proibida apenas para a Polícia Federal e demais órgãos federais. Ambulâncias, moradores e produtores têm livre acesso.

O presidente da Sociedade dos Índios em Defesa de Roraima (Sodiur), Lauro Joaquim Barbosa, que esteve ontem em Surumu, disse que sua visita era para "unir forças em favor do desenvolvimento da região". Ele anunciou que hoje trará 300 indígenas da Comunidade do Flechal para o Surumu, "integrando mais militantes na frente da resistência".

Também está confirmado para hoje o isolamento total de Surumu, pela via terrestre e fluvial. Manifestações na região Sul do Estado e o fechamento de estradas de Roraima permanecem confirmados.

O presidente da Federação das Associações de Moradores do Estado de Roraima (Famer), Faradilson Mesquita, que ontem se uniu aos manifestantes, afirmou que o movimento de resistência tem pessoal preparado para agir contra ação de retirada dos não-índios. "Aqui nós vamos fechar tudo. É só a Polícia Federal vir para cá que nós começaremos a luta. Para isso temos 400 homens, todos preparados", ressaltou.

Em Boa Vista, o presidente da Associação dos Criadores de Gado de Roraima, José Luiz Zago, disse que unirá todos os segmentos nas próximas horas, bloqueando todas as estradas principais e secundárias que dão acesso ao Estado.

"Essa não é uma causa de meia dúzia, é uma causa de todos de Roraima. Essas ações de agora representarão o desenvolvimento, emprego e futuro de Roraima. Não queremos prejudicar a população, mas é preciso agir e ampliaremos as atividades hoje", disse Zago.

CIR vai denunciar na PF ações terroristas na região

Indígenas da Comunidade do Barro, na Vila Surumu, que são favoráveis à homologação da terra indígena Raposa Serra do Sol, construíram duas barreiras para impedir o acesso de outros indígenas, não-índios e rizicultores na região.

Às 10 horas de hoje, representantes do Conselho Indígena de Roraima vão à Polícia Federal denunciar ações terroristas praticadas por pessoas ligadas supostamente aos produtores de arroz.

Conforme informações do CIR, manifestantes ligados aos arrozeiros explodiram a cabeceira da ponte do Surumu com dinamite, serraram a ponte do Igarapé Grande, em Normandia, com motosserra.

A entidade disse que existiriam 75 homens armados no Surumu passeando pela vila e que chegaram dois ônibus lotados de moradores do bairro São Bento para apoiar os arrozeiros.

"Estão fabricando bombas caseiras para esperar a PF e já explodiram quatro delas. Os índios do CIR fizeram uma barricada para se proteger na casa de apoio dentro da vila e os alunos estão entrincheirados na Missão Surumu", informou o CIR.

Os ligados ao CIR transportaram cerca de 200 índios da região das serras para dar apoio na Vila Surumu.
 

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