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Roraima é arena sem touro, diz arrozeiro

13/04/2008

Autor: Kátia Brasil

Fonte: FSP, Brasil, p. A12



Roraima é arena sem touro, diz arrozeiro
Paulo César Quartiero, do DEM, vê vácuo de poder no Estado, mas nega explorar politicamente protestos em reserva indígena
"Pode ser que qualquer um se projete, até eu", afirma empresário que encabeça manifestações contra a ação da PF na Raposa/Serra do Sol

Kátia Brasil
Da agência Folha, em Pacaraima (RR)

Os protestos em Roraima contra a operação de retirada de não-índios da terra indígena Raposa/Serra do Sol anteciparam a disputa pelo governo do Estado em 2010.
À frente do movimento de resistência à retirada está o arrozeiro e presidente do DEM em Pacaraima (214 km de Boa Vista), Paulo César Quartiero, 55. O arrozeiro nega que esteja explorando os protestos politicamente, mas vê um "vácuo" de poder no Estado que pode ser preenchido por ele.
O vácuo, segundo Quartiero, é resultado da morte, em dezembro do ano passado, do governador do Estado eleito em 2006, Ottomar Pinto (PSDB). Em seu lugar assumiu o vice, o também tucano José de Anchieta Júnior.
"Roraima é um vácuo político. Morreu Ottomar e esse vácuo não foi preenchido por ninguém. Isso aqui é uma arena, até agora não apareceu o touro. Então pode ser que qualquer um se projete, até eu", afirmou ele à Folha na vila do Surumu, em Pacaraima, na última quinta-feira, um dia após o STF (Supremo Tribunal Federal) suspender a operação da Polícia Federal para a retirada dos não-índios.
Anchieta Júnior deve se candidatar à reeleição e provavelmente também vai explorar na campanha sua posição contrária à saída dos não-índios. O governo do tucano foi o autor do pedido de liminar que, acatado pelo STF, suspendeu a Operação Upatakon 3.
Romero Jucá (PMDB), outro possível nome para disputar o governo de Roraima, não pode se declarar contrário à operação por ser líder do governo Lula no Senado.

Indenização
Gaúcho de Passo Fundo, agrônomo e filho de agricultor, Quartiero chegou a Roraima na década de 70. Ele afirma que arrendou fazendas dentro da terra indígena em 1988 e 2002. Preside a associação local dos rizicultores e pede R$ 53 milhões de indenização do governo federal para desocupar as fazendas, localizadas em área que pertence à União.
Sua entrada na política se deu em 2005, quando assumiu a Prefeitura de Pacaraima, na fronteira com a Venezuela. Dois anos depois, teve o mandato cassado sob acusação de compra de votos. No mês passado, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) determinou sua volta ao cargo, o que deve ocorrer após a publicação da decisão.
Quartiero vem se projetando desde 2004 com ações contra a homologação contínua da reserva -algumas já até lhe renderam processos judiciais. O ápice da resistência, contudo, começou no último dia 31. Ele ficou 11 dias acampado em uma ponte na vila do Surumu, dentro da área indígena, para protestar contra a operação da PF. Chegou a ser preso por desacato e foi liberado após pagar uma fiança de R$ 500.
A defesa da Amazônia é um de seus argumentos contra a saída dos não-índios da reserva. Para ele, demarcações de terras indígenas em áreas de fronteira ameaçam a soberania nacional. "É um problema emblemático de defesa do território."
Na quinta, o cenário na vila do Surumu continuava tenso. A Folha identificou quatro seguranças com rádios rondando as casas dos índios. Segundo a PF, seguranças armados, militantes políticos, não-índios e índios contrários à homologação uniram-se a Quartiero nos protestos recentes. Ele nega participar de ações violentas.

FSP, 13/04/2008, Brasil, p. A12
 

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