De Povos Indígenas no Brasil

Notícias

Índios criticam STF

18/04/2008

Fonte: CB, Brasil, p. 12



Índios criticam STF

Paloma Oliveto

Por menos de um minuto, a Justiça virou indígena. Burlando a segurança do Supremo Tribunal Federal, um manifestante do Acampamento Terra Livre conseguiu colocar um cocar na estátua que fica em frente ao prédio da mais alta Corte do país. Na semana passada, os ministros do STF suspenderam a operação de retirada dos não-índios da reserva Raposa Serra do Sol, que ocupa uma área de 1,7 mil hectares em Roraima. "Foi uma atitude irresponsável, uma vergonha nacional. O Supremo apoiou os terroristas", disse o presidente da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Jecinaldo Barbosa. Ele se refere ao grupo de rizicultores (plantadores de arroz) que se recusam a sair da reserva.

O ato encerrou oficialmente o Abril Indígena, que ocorre há três anos na semana antecedente ao Dia do Índio. Embora a pauta priorizasse as discussões sobre o Estatuto dos Povos Indígenas, parado há 14 anos no Congresso, a situação da Raposa Serra do Sol destacou-se durante o evento. Para os líderes dos índios de 20 estados que estiveram em Brasília, a possibilidade de revisão do processo de homologação da reserva poderá abrir precedentes e prejudicar a regularização das demais terras indígenas.

Antes da manifestação em frente ao STF, os índios fizeram um ritual de pajelança na área externa do Ministério da Defesa. Ao som do maracá, empunhando lanças, arcos e flechas, os índios repudiaram a declaração do general Heleno Pereira, comandante militar da Amazônia, que afirmou que a presença dos índios nas áreas de fronteira eram um risco à soberania nacional. "Queremos a punição do general. Nós, senhores, não somos uma ameaça ao nosso próprio país. Exigimos respeito e dignidade", disse Jecinaldo, que falava pelos índios no alto do carro de som. "Esses militares deveriam tirar os traficantes da fronteira e proteger os indígenas."

Depois da pajelança na Defesa, o grupo dirigiu-se ao Ministério da Saúde, onde nove policiais militares faziam a segurança do prédio, que ficou com as portas fechadas. Os índios levaram um caixão com a frase "Funasa mata povos indígenas". No microfone, vários manifestantes se revezavam, acusando o ministro José Gomes Temporão e o presidente da Funasa, Danilo Forte, de não impedir a morte de crianças indígenas. "A Funasa virou funerária dos povos indígenas. Mais de 300 crianças morreram entre 2007 e 2008 por falta de atendimento", disse Jecinaldo.

Na frente do prédio, os índios fizeram um ritual de lamentação pelas crianças mortas. Depois da dança, queimaram um boneco representando o ministro da Saúde. A saúde indígena foi um dos destaques do documento final do Acampamento Terra Livre, aprovado ontem pelos participantes. Eles pedem mais autonomia para os Distritos Sanitários Especiais Indígenas e o fim da municipalização dos recursos destinados à área. No documento, os índios afirmam que os povos estão morrendo por carência de atendimento na saúde básica e também no caso de doenças de média e alta complexidade.

CB, 18/04/2008, Brasil, p. 12
 

As notícias publicadas no site Povos Indígenas no Brasil são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos .Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.