De Povos Indígenas no Brasil
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RAPOSA SERRA DO SOL - Ministro diz que veio investigar tiroteio
07/05/2008
Autor: Loide Gomes
Fonte: Folha de Boa Vista
O ministro da Justiça, Tarso Genro, esteve ontem na terra indígena Raposa Serra do Sol. Ele visitou o acampamento instalado por indígenas ligados ao Conselho Indígena de Roraima (CIR), na fazenda Depósito, do rizicultor e prefeito de Pacaraima, Paulo César Quartiero. No local, nove indígenas foram feridos à bala na última segunda-feira. Ele disse que a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sai em 15 ou 30 dias.
A visita do ministro foi rápida. Ele chegou à Vila Surumu em helicóptero da Polícia Federal e seguiu de carro até o local da ocupação. Ele estava acompanhado do diretor-geral da Polícia Federal, Luis Fernando Corrêa, e do superintendente da PF em Roraima, José Maria Fonseca.
Tarso Genro disse que comunicou ao ministro Carlos Ayres Britto, do STF, a sua vinda a Roraima. Ayres Britto é o relator das 33 ações que questionam a demarcação da Raposa Serra do Sol.
Com forte aparato de segurança, ele disse aos cerca de 300 indígenas que veio a Roraima para fazer a investigação do ataque e responsabilizar as pessoas que cometeram este "incidente grave".
O ministro pediu calma aos indígenas. "Fiquem tranqüilos, não caiam em provocação e aguardem a decisão do Supremo. Quero que vocês saibam que a Polícia Federal e a Força Nacional de Segurança estão aqui para trazer estabilidade e tranqüilidade", disse.
Segundo ele, o governo está usando sua força institucional para suspender a proibição da retirada dos fazendeiros, dentro da lei, com ordem e tranqüilidade. "Acredito que em 15 ou 30 dias saia a decisão do Supremo", completou.
Genro foi recebido pelo tuxaua do Maturuca, Dejacir Melkior da Silva, 38 anos, que estava na coordenação da ocupação da fazenda de Quartiero. O tuxaua não sabia quem era o ministro. "Quem é o senhor e qual é o seu nome?", perguntou.
Depois que Tarso Genro se identificou, foi a vez do tuxaua discursar: "O sangue de dez de nós foi derramado, mas não é o fim, mas sim a nossa conquista. Queremos que se cumpra a lei, de acordo com o decreto de homologação da terra indígena".
O tuxaua disse que não se deixaria intimidar e que não desistirá de lutar pela posse da reserva. "Estamos dispostos a recuperar a terra-mãe que foi banhada pelo sangue dos nossos irmãos na lei ou na marra até o último índio", afirmou.
Indígenas narram confronto com funcionários de fazenda
As mulheres eram as que mais choravam, ontem, pelos ferimentos de seus maridos, filhos e irmãos. Janete Luis Pedro, 47 anos, mulher de uma das vítimas que foi levada para o hospital de Pacaraima na última segunda-feira, mostrou o local onde o marido foi ferido e disse ainda que ele foi espancado com o cabo de uma espingarda.
Segundo relato dos indígenas que estavam no local na hora do confronto com os funcionários de Quartiero, o ataque foi feito por dez homens, que deixaram as motos e uma caminhonete afastadas e foram a pé até onde o grupo estava reunido. Eles teriam chegado atirando e arremessado três bombas de fabricação caseira.
Ocupação ganha reforço, mas é desfeita pela Federal
A ocupação da fazenda de Quartiero ganhou reforço ontem, mas foi desfeita no final da tarde, após acordo das lideranças do movimento com a Polícia Federal. O grupo de cem índios que ocupou a área na segunda-feira aumentou para 300 ontem, entre homens, mulheres e crianças.
Eles construíram mais dez barracos de lona, somando dezesseis, e levaram telha para iniciar a construção de casas. Também começaram a queimar uma área para plantar mandioca e frutíferas.
Apesar do objetivo inicial de fixar moradia no local até a retirada dos não-índios, no final da tarde os indígenas saíram de dentro da fazenda, conforme informações do delegado Fernando Segóvia, coordenador da Operação Upatakon, que negociou a saída. Eles teriam transferido o acampamento para o outro lado da rodovia, conhecida como Estrada do Arroz. Da fazenda de Quartiero, foram cortados cerca de 300 metros de cerca.
Quartiero pede reintegração de posse e intervenção do Exército
O prefeito de Pacaraima, Paulo César Quartiero (DEM), despachou ontem normalmente da Subprefeitura no Surumu, antes de ser preso no final da tarde pela Polícia Federal. Em entrevista à Folha, ele informou que pediu a reintegração da posse de sua fazenda na Justiça Federal de Roraima e que também encaminhou ofício ao comandante-geral do Exército pedindo a intervenção dos militares na área.
Seu argumento é que a Polícia Federal e a Força Nacional de Segurança estariam "desqualificadas" para fazer a segurança pública no Surumu, "porque eles perderam a imparcialidade". "Eles são guardas particulares do CIR [Conselho Indígena de Roraima]", argumentou.
Ao apresentar sete flechas com ponta de metal que teriam sido disparadas contra seus funcionários no incidente de segunda-feira, que deixou nove índios feridos, ele disse que a responsabilidade é da Polícia Federal. "Eles é que vieram implantar o conflito no meu município".
Na opinião do rizicultor, a Polícia Federal teria sido aliada da invasão que os índios fizeram à sua fazenda, já que os policiais nada teriam feito para impedir a ocupação ou pelo menos acompanhar os indígenas quando cortaram a cerca. Além disso, a presença dos policiais no local poderia ter evitado o conflito.
Segundo Quartiero, os disparos foram feitos porque seus funcionários não podiam recuar. "Se nós fôssemos recuar, não estaríamos mais aqui, nem em Roraima. Quando a gente abraça um conflito e ele foge do controle, não se sabe o resultado. Há vítimas dos dois lados. Estamos recuando há trinta anos. Agora é a hora da reação. Nós não atacamos, apenas reagimos", disse.
A própria PF admite que mantinha apenas vinte policiais no Surumu anteontem, mas moradores da vila dizem que havia só dois agentes federais e quatro da Força Nacional de Segurança. Questionado sobre isso, o coordenador regional da Operação Upatakon 3, delegado Fernando Romero, disse que foi uma "surpresa" a ocupação feita pelos índios do CIR.
A visita do ministro foi rápida. Ele chegou à Vila Surumu em helicóptero da Polícia Federal e seguiu de carro até o local da ocupação. Ele estava acompanhado do diretor-geral da Polícia Federal, Luis Fernando Corrêa, e do superintendente da PF em Roraima, José Maria Fonseca.
Tarso Genro disse que comunicou ao ministro Carlos Ayres Britto, do STF, a sua vinda a Roraima. Ayres Britto é o relator das 33 ações que questionam a demarcação da Raposa Serra do Sol.
Com forte aparato de segurança, ele disse aos cerca de 300 indígenas que veio a Roraima para fazer a investigação do ataque e responsabilizar as pessoas que cometeram este "incidente grave".
O ministro pediu calma aos indígenas. "Fiquem tranqüilos, não caiam em provocação e aguardem a decisão do Supremo. Quero que vocês saibam que a Polícia Federal e a Força Nacional de Segurança estão aqui para trazer estabilidade e tranqüilidade", disse.
Segundo ele, o governo está usando sua força institucional para suspender a proibição da retirada dos fazendeiros, dentro da lei, com ordem e tranqüilidade. "Acredito que em 15 ou 30 dias saia a decisão do Supremo", completou.
Genro foi recebido pelo tuxaua do Maturuca, Dejacir Melkior da Silva, 38 anos, que estava na coordenação da ocupação da fazenda de Quartiero. O tuxaua não sabia quem era o ministro. "Quem é o senhor e qual é o seu nome?", perguntou.
Depois que Tarso Genro se identificou, foi a vez do tuxaua discursar: "O sangue de dez de nós foi derramado, mas não é o fim, mas sim a nossa conquista. Queremos que se cumpra a lei, de acordo com o decreto de homologação da terra indígena".
O tuxaua disse que não se deixaria intimidar e que não desistirá de lutar pela posse da reserva. "Estamos dispostos a recuperar a terra-mãe que foi banhada pelo sangue dos nossos irmãos na lei ou na marra até o último índio", afirmou.
Indígenas narram confronto com funcionários de fazenda
As mulheres eram as que mais choravam, ontem, pelos ferimentos de seus maridos, filhos e irmãos. Janete Luis Pedro, 47 anos, mulher de uma das vítimas que foi levada para o hospital de Pacaraima na última segunda-feira, mostrou o local onde o marido foi ferido e disse ainda que ele foi espancado com o cabo de uma espingarda.
Segundo relato dos indígenas que estavam no local na hora do confronto com os funcionários de Quartiero, o ataque foi feito por dez homens, que deixaram as motos e uma caminhonete afastadas e foram a pé até onde o grupo estava reunido. Eles teriam chegado atirando e arremessado três bombas de fabricação caseira.
Ocupação ganha reforço, mas é desfeita pela Federal
A ocupação da fazenda de Quartiero ganhou reforço ontem, mas foi desfeita no final da tarde, após acordo das lideranças do movimento com a Polícia Federal. O grupo de cem índios que ocupou a área na segunda-feira aumentou para 300 ontem, entre homens, mulheres e crianças.
Eles construíram mais dez barracos de lona, somando dezesseis, e levaram telha para iniciar a construção de casas. Também começaram a queimar uma área para plantar mandioca e frutíferas.
Apesar do objetivo inicial de fixar moradia no local até a retirada dos não-índios, no final da tarde os indígenas saíram de dentro da fazenda, conforme informações do delegado Fernando Segóvia, coordenador da Operação Upatakon, que negociou a saída. Eles teriam transferido o acampamento para o outro lado da rodovia, conhecida como Estrada do Arroz. Da fazenda de Quartiero, foram cortados cerca de 300 metros de cerca.
Quartiero pede reintegração de posse e intervenção do Exército
O prefeito de Pacaraima, Paulo César Quartiero (DEM), despachou ontem normalmente da Subprefeitura no Surumu, antes de ser preso no final da tarde pela Polícia Federal. Em entrevista à Folha, ele informou que pediu a reintegração da posse de sua fazenda na Justiça Federal de Roraima e que também encaminhou ofício ao comandante-geral do Exército pedindo a intervenção dos militares na área.
Seu argumento é que a Polícia Federal e a Força Nacional de Segurança estariam "desqualificadas" para fazer a segurança pública no Surumu, "porque eles perderam a imparcialidade". "Eles são guardas particulares do CIR [Conselho Indígena de Roraima]", argumentou.
Ao apresentar sete flechas com ponta de metal que teriam sido disparadas contra seus funcionários no incidente de segunda-feira, que deixou nove índios feridos, ele disse que a responsabilidade é da Polícia Federal. "Eles é que vieram implantar o conflito no meu município".
Na opinião do rizicultor, a Polícia Federal teria sido aliada da invasão que os índios fizeram à sua fazenda, já que os policiais nada teriam feito para impedir a ocupação ou pelo menos acompanhar os indígenas quando cortaram a cerca. Além disso, a presença dos policiais no local poderia ter evitado o conflito.
Segundo Quartiero, os disparos foram feitos porque seus funcionários não podiam recuar. "Se nós fôssemos recuar, não estaríamos mais aqui, nem em Roraima. Quando a gente abraça um conflito e ele foge do controle, não se sabe o resultado. Há vítimas dos dois lados. Estamos recuando há trinta anos. Agora é a hora da reação. Nós não atacamos, apenas reagimos", disse.
A própria PF admite que mantinha apenas vinte policiais no Surumu anteontem, mas moradores da vila dizem que havia só dois agentes federais e quatro da Força Nacional de Segurança. Questionado sobre isso, o coordenador regional da Operação Upatakon 3, delegado Fernando Romero, disse que foi uma "surpresa" a ocupação feita pelos índios do CIR.
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