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RAPOSA SERRA DO SOL - Escritor diz que área era um grande lago

02/06/2008

Autor: Shirleide Vasconcelos

Fonte: Folha de Boa Vista




O pesquisador Roland Stevenson, que pesquisa Roraima há duas décadas, afirma que há 700 anos a área que hoje compreende a terra indígena Raposa Serra do Sol, no Norte de Roraima, inundava completamente em períodos chuvosos. Ele sustenta a teoria de que toda a região era um grande lago. Com base nisso, garante que os índios da área moravam nas serras, por isso não teriam legitimidade para reivindicar a extensão de 1,7 milhão de hectares para a reserva, já que não atenderia ao pressuposto constitucional de histórica ocupação.

Stevenson relata que a pesquisa iniciada em 1987 contou com ajuda de dois geólogos do Amazonas e também foi baseada no depoimento de indígenas, que confirmam a existência do grande lago. "As marcas do nível da água naquele local existem até hoje", garante.

Na avaliação dele, os índios da Raposa da Serra do Sol não teriam porque reivindicar a área já que não moravam na planície. "Os indígenas mais velhos, com 70 ou 80 anos, sabem que a Raposa ficava inundada", afirma.

"Um deles foi Filismino (foto), com quem conversei durante a pesquisa. Ele falou que os avôs contavam que o local era um mar de tanta água que tinha", ressaltou. Conforme o pesquisador, ninguém morava debaixo da serra e até hoje os indígenas chamam o lavrado de ilha. Ele vai mais além. Garante que até a Pedra Pintada estava debaixo d’água naquela época.

Sobre o assunto, o professor de Geologia da UFRR (Universidade Federal de Roraima), José Augusto Vieira, confirma que existiu um grande lago naquela área, mas discorda do pesquisador estrangeiro que hoje mora em Manaus (AM) sobre o tempo estimado para existência do lago.

Na avaliação do geólogo, isso ocorreu há 180 milhões de anos, tendo como dados comprobatórios a Serra do Tucano, no Município de Bonfim, e o Morro do Redondo, onde há registro de rochas sedimentares e vulcânicas, além de camadas de sais. "Isso significa que naquela época o local tinha água salgada".

O professor Vieira garante que da forma como defende Stevenson o grande lago da Raposa Serra do Sol nunca existiu, pois não há registro geológico (rocha sedimentar) que sinalize isso. "Sempre existiram lagos isolados, como o Caracaranã", comparou.

Já o pesquisador Stevenson afirma que em 1902 toda a área que marca a região da Raposa Serra do Sol era um grande lago e o rio Branco era chamado de rio Parima (que significa grande lago). "O nome já diz tudo", ressaltou.

ABRANGÊNCIA - Conforme Stevenson, o lago não abrangia somente a área da Raposa Serra do Sol, mas passava pela Ilha de Maracá, no ocidente, até o leste do rio Essequibo, da Guiana. "Ele tinha 80 mil quilômetros quadrados", diz. A extinção do lago teria começado de forma progressiva há 700 anos.

Roland Stevenson não tem formação universitária e diz que o dinheiro gasto das pesquisas, quantificado por ele apenas como "milhões", saiu do próprio bolso, com a venda de suas obras e prêmios ganhos em concursos mundiais. Ele diz que é artista plástico e técnico agrícola. Os cursos foram feitos no Chile.

Stevenson publicou três livros sobre a Amazônia. Um deles é referente à pesquisa de Roraima, intitulado "Uma Luz nos Ministérios Amazônicos", lançado em 1995 (1ª edição) e republicado em fevereiro deste ano.

"Não fiz universidade, porém passei mais de 20 anos estudando antropologia física com o missionário Casimiro Bekstá, pesquisando todos os povos que habitaram o planeta", diz.
 

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