De Povos Indígenas no Brasil
Notícias
Mortes nas aldeias caem
01/02/2009
Fonte: CB, Brasil, p. 14
Mortes nas aldeias caem
Embora assassinatos tenham sido reduzidos de 92 em 2007 para 60 no ano passado, número ainda é alto. Funai diz preparar novo esquema de segurança
Rodrigo Couto
Da equipe do Correio
"Meu pai foi assassinado a tiros em frente à casa da minha tia em 1998 e eu sofri um atentado em 2003, quando dois jovens indígenas morreram na mesma emboscada. Desde então, ando escoltado por dois policiais." O relato é do cacique Marcos Luidson de Araújo, líder dos xucurus, índios que vivem na Serra do Ororubá, agreste de Pernambuco. Outras cinco pessoas dessa etnia tiveram suas vidas tiradas. Relatos de ameaça vêm se tornando rotina entre os diversos grupos que vivem no território nacional. Estudo preliminar do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) revela que pelo menos 60 indígenas foram assassinados em 11 estados durante 2008.
O número é considerado alto tanto pela Fundação Nacional do Índio (Funai) quanto pelo Cimi. Apenas o Mato Grosso do Sul registrou 42 casos. Com quatro mortes, Minas Gerais é o segundo colocado, seguido do Maranhão (3), Pernambuco, Alagoas e Tocantins (dois assassinatos cada um). A versão final do levantamento deve ser divulgada entre março e abril.
Mesmo assim, é um resultado menos ruim do que o de 2007, quando ocorreram 92 assassinatos de indígenas - o número de casos identificados em 2008 é, aproximadamente, 35% menor.
No Mato Grosso do Sul, as mortes registradas no ano passado (42) são cerca de 20% menores do que o número de casos de 2007 (53).
"Apesar dessa ligeira redução, a situação do povo Guarani Kaiowá, que vive no MS, é muito grave", relata Roberto Liebgott, vice-presidente do Cimi, referindo-se à forte pressão de políticos e latifundiários do estado contra o início de estudos antropológicos para a identificação de terras para os guarani. "O governo federal tem sido negligente em relação à proteção e fiscalização das áreas indígenas. Falta pessoal e material para monitorar as aldeias", afirma.
Para tentar reduzir o número de assassinatos e atenuar o clima de tensão no MS, o diretor de Assistência da Funai, Aloysio Guapindaia, afirma que o órgão deve implantar no estado um projeto-piloto de um sistema de segurança pública até o fim do ano. "De forma integrada, as polícias (militar, civil e federal) e o Ministério Público Federal vão trabalhar para garantir a segurança nos territórios indígenas.
Posteriormente, pretendemos estender a iniciativa para os outros estados", promete.
Outra opção para melhorar a situação dos índios locais é a implantação de um programa de segurança alimentar. "Muitas aldeias não conseguem produzir a quantidade de alimentos necessária. Por isso, alguns integrantes decidem procurar outras áreas. A medida pode evitar que os índios se dispersem do seu território e fiquem fragilizados."
Falhas assumidas
Guapindaia reconhece que a estrutura da Funai é deficitária e que o órgão não atua de forma satisfatória. "A fundação foi sucateada ao longo dos anos e deu poucas respostas às reivindicações dos índios", admite. Além de um sistema integrado de segurança, o diretor garante que a fundação vai abrir um concurso público para preencher 3 mil vagas em 2009 e nos dois anos seguintes. "Até 2011, pretendemos contratar pessoal para melhorar a atuação em todo o país." O concurso, segundo Guapindaia, vai selecionar psicólogos, arquitetos, geólogos, antropólogos, assistentes sociais e engenheiros, todos especializados na área indígena.
Estimada em 736 mil índios, a população nacional está dividida da seguinte forma: 450 mil vivem em aldeias e outros 286 mil em centros urbanos. O dados são do censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) feito em 2000. Com 185 mil, o Amazonas é o estado que concentra a maior parcela de indígenas, seguido do Mato Grosso do Sul (75 mil).
"Os que vivem nas cidades sofrem duplamente. Primeiro, porque os municípios dizem que não têm qualquer responsabilidade sobre esses povos. E, do outro lado, a Funai afirma que a obrigação de garantir direitos básicos é das cidades. É um jogo de empurra que dificulta ainda mais a vida dessas pessoas", observa Roberto Liebgott.
Suicídios
A falta de assistência e a ausência de perspectiva são apontados pelo Cimi como as principais causas de suicídios entre os índios. Apenas no Mato Grosso do Sul foram 40 casos. Neste estado também se registraram 34 suicídios, um crescimento de mais 50% em relação a 2007, quando ocorreram 22 casos.
"Os jovens guaranis, na sua grande maioria entre 15 e 21 anos, são os que mais se matam por conta da incerteza em relação ao futuro. Não é uma questão de desespero, mas sim da cultura desta etnia", explica Liebgott. "Se eles não têm como garantir o sustento, preferem a morte", completa.
Violência
Apesar da redução dos assassinatos contra indígenas no ano passado, em comparação com 2007, os números ainda são considerados altos. Confira os estados onde ocorreram as mortes:
Estado Assassinatos
Alagoas 2
Amazonas 1
Amapá 1
Distrito Federal 1
Maranhão 3
Minas Gerais 4
Mato Grosso do Sul 42
Pará 1
Pernambuco 2
Roraima 1
Tocantins 2
Total 60
Fonte: Conselho Indigenista Missionário
CB, 01/02/2009, Brasil, p. 14
Embora assassinatos tenham sido reduzidos de 92 em 2007 para 60 no ano passado, número ainda é alto. Funai diz preparar novo esquema de segurança
Rodrigo Couto
Da equipe do Correio
"Meu pai foi assassinado a tiros em frente à casa da minha tia em 1998 e eu sofri um atentado em 2003, quando dois jovens indígenas morreram na mesma emboscada. Desde então, ando escoltado por dois policiais." O relato é do cacique Marcos Luidson de Araújo, líder dos xucurus, índios que vivem na Serra do Ororubá, agreste de Pernambuco. Outras cinco pessoas dessa etnia tiveram suas vidas tiradas. Relatos de ameaça vêm se tornando rotina entre os diversos grupos que vivem no território nacional. Estudo preliminar do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) revela que pelo menos 60 indígenas foram assassinados em 11 estados durante 2008.
O número é considerado alto tanto pela Fundação Nacional do Índio (Funai) quanto pelo Cimi. Apenas o Mato Grosso do Sul registrou 42 casos. Com quatro mortes, Minas Gerais é o segundo colocado, seguido do Maranhão (3), Pernambuco, Alagoas e Tocantins (dois assassinatos cada um). A versão final do levantamento deve ser divulgada entre março e abril.
Mesmo assim, é um resultado menos ruim do que o de 2007, quando ocorreram 92 assassinatos de indígenas - o número de casos identificados em 2008 é, aproximadamente, 35% menor.
No Mato Grosso do Sul, as mortes registradas no ano passado (42) são cerca de 20% menores do que o número de casos de 2007 (53).
"Apesar dessa ligeira redução, a situação do povo Guarani Kaiowá, que vive no MS, é muito grave", relata Roberto Liebgott, vice-presidente do Cimi, referindo-se à forte pressão de políticos e latifundiários do estado contra o início de estudos antropológicos para a identificação de terras para os guarani. "O governo federal tem sido negligente em relação à proteção e fiscalização das áreas indígenas. Falta pessoal e material para monitorar as aldeias", afirma.
Para tentar reduzir o número de assassinatos e atenuar o clima de tensão no MS, o diretor de Assistência da Funai, Aloysio Guapindaia, afirma que o órgão deve implantar no estado um projeto-piloto de um sistema de segurança pública até o fim do ano. "De forma integrada, as polícias (militar, civil e federal) e o Ministério Público Federal vão trabalhar para garantir a segurança nos territórios indígenas.
Posteriormente, pretendemos estender a iniciativa para os outros estados", promete.
Outra opção para melhorar a situação dos índios locais é a implantação de um programa de segurança alimentar. "Muitas aldeias não conseguem produzir a quantidade de alimentos necessária. Por isso, alguns integrantes decidem procurar outras áreas. A medida pode evitar que os índios se dispersem do seu território e fiquem fragilizados."
Falhas assumidas
Guapindaia reconhece que a estrutura da Funai é deficitária e que o órgão não atua de forma satisfatória. "A fundação foi sucateada ao longo dos anos e deu poucas respostas às reivindicações dos índios", admite. Além de um sistema integrado de segurança, o diretor garante que a fundação vai abrir um concurso público para preencher 3 mil vagas em 2009 e nos dois anos seguintes. "Até 2011, pretendemos contratar pessoal para melhorar a atuação em todo o país." O concurso, segundo Guapindaia, vai selecionar psicólogos, arquitetos, geólogos, antropólogos, assistentes sociais e engenheiros, todos especializados na área indígena.
Estimada em 736 mil índios, a população nacional está dividida da seguinte forma: 450 mil vivem em aldeias e outros 286 mil em centros urbanos. O dados são do censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) feito em 2000. Com 185 mil, o Amazonas é o estado que concentra a maior parcela de indígenas, seguido do Mato Grosso do Sul (75 mil).
"Os que vivem nas cidades sofrem duplamente. Primeiro, porque os municípios dizem que não têm qualquer responsabilidade sobre esses povos. E, do outro lado, a Funai afirma que a obrigação de garantir direitos básicos é das cidades. É um jogo de empurra que dificulta ainda mais a vida dessas pessoas", observa Roberto Liebgott.
Suicídios
A falta de assistência e a ausência de perspectiva são apontados pelo Cimi como as principais causas de suicídios entre os índios. Apenas no Mato Grosso do Sul foram 40 casos. Neste estado também se registraram 34 suicídios, um crescimento de mais 50% em relação a 2007, quando ocorreram 22 casos.
"Os jovens guaranis, na sua grande maioria entre 15 e 21 anos, são os que mais se matam por conta da incerteza em relação ao futuro. Não é uma questão de desespero, mas sim da cultura desta etnia", explica Liebgott. "Se eles não têm como garantir o sustento, preferem a morte", completa.
Violência
Apesar da redução dos assassinatos contra indígenas no ano passado, em comparação com 2007, os números ainda são considerados altos. Confira os estados onde ocorreram as mortes:
Estado Assassinatos
Alagoas 2
Amazonas 1
Amapá 1
Distrito Federal 1
Maranhão 3
Minas Gerais 4
Mato Grosso do Sul 42
Pará 1
Pernambuco 2
Roraima 1
Tocantins 2
Total 60
Fonte: Conselho Indigenista Missionário
CB, 01/02/2009, Brasil, p. 14
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