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 Arroz já é mais caro em Uiramutã

11/05/2009

Autor: EDILSON RODRIGUES

Fonte: Folha de Boa Vista - http://www.folhabv.com.br/fbv/noticia.php?id=61692




Donos de estabelecimentos comerciais e moradores de Uiramutã começam a perceber os primeiros reflexos na economia do município, com a saída dos produtores de arroz da reserva indígena Raposa Serra do Sol.

Segundo Expedito Oliveira Sousa, dono de um mercadinho e de restaurante no Uiramutã, o preço do fardo com 30 quilos de arroz custava R$ 50 e agora passou para 55 reais. O quilo do produto que era de R$2 passou para R$ 2,50.

"A tendência é que logo, logo, o preço do fardo suba para R$ 70, 80 e, consequentemente, vamos ter que aumentar o preço do quilo", afirmou Sousa, dizendo que quem é dono de restaurante terá que subir o valor da refeição e proprietário de comércio, o quilo do produto.

Sousa reconhece que com esta alternativa de aumentar os valores para venda ao consumidor, perderá clientes. "A saída dos arrozeiros está afetando, diretamente, microempresários do setor de gêneros alimentícios e os moradores da cidade, que daqui a alguns dias, acredito eu, terão que deixar o município", afirmou.

Como reflexo da situação, o comerciante disse que daqui a 10 anos, Uiramutã ficará desabitado porque a tendência é que tudo aumente de preço, enquanto o salário só tem reajuste a cada ano. "Ou o prefeito cria uma política para gerar emprego e renda, ou então as pessoas irão deixar a cidade", frisou Sousa.

Uma moradora e dona-de-casa do município, que pediu para não ser identificada, disse que está apreensiva com a situação e não sabe o que será daqui a alguns anos. Tanto que ela, o marido que trabalha na agricultura, e os filhos já pensam em sair de Uiramutã. "Estamos pensando em morar em Pacaraima ou Boa Vista", comentou.

TURISMO - Outro setor afetado com a demarcação e homologação da reserva indígena Raposa Serra do Sol é o do turismo. Pelo menos em Uiramutã, donos de pousadas comentam que o movimento de turistas caiu bastante.

"Como na entrada do Surumu e no Contão as pessoas estão sendo proibidas de entrar, ninguém se arrisca em vir conhecer as belezas naturais do Uiramutã, até porque muitos pontos turísticos estão dentro da Raposa Serra do Sol", disse o dono de uma pousada. Ele pediu para não ser identificado na matéria.

Por conta do fraco movimento que, segundo ele caiu em 80%, o empresário declarou que está pensando em vender o empreendimento, recém-construído, que tem sete quartos. "Vou esperar que as coisas melhorem. Caso contrário, deixarei o município", afirmou.

Entrar na reserva, só com autorização da Funai

Entrar em áreas localizadas dentro da Raposa Serra do Sol só com autorização da Funai (Fundação Nacional do Índio). Esta é a informação do indígena e coordenador de 18 comunidades indígenas Rosenildo de Oliveira, que fica de plantão em um posto na região do Surumu.

Em pontos que dão acesso à Raposa Serra do Sol, existem um delegado e policiais federais, além de um coordenador de comunidades indígenas, explicando como são os procedimentos para entrar na região.

Na quarta-feira (06.05), uma equipe de TV local e técnicos de duas instituições (Femact e Sebrae) foram barrados quando entravam na região do Surumu e no Município de Uiramutã.

Rosenildo de Oliveira disse que, como ainda é tenso o clima entre os indígenas favoráveis e contrários à demarcação, e agora com a retirada dos arrozeiros, a Funai determinou que seja proibida a entrada de qualquer pessoa ou instituição na região da Raposa Serra do Sol. "Esta decisão é da Funai e dos tuxauas das comunidades indígenas", frisou.

Os técnicos só entraram depois que explicaram para um delegado da Polícia Federal e ao coordenador Oliveira que estavam indo ministrar uma oficina sobre licenciamento ambiental, e que já havia sido pré-agendada com o prefeito de Uiramutã.

Também foi apresentado um cronograma do evento, mas a entrada só foi permitida logo após Oliveira recolher a relação com os nomes dos seis técnicos das duas instituições. "Seguir pela BR pode, mas desde que não se façam filmagens, fotografias ou entrevistas com os índios ao longo da estrada", ressaltou o coordenador das comunidades.

Segundo ele, para ter acesso às comunidades, é necessário apresentar um documento assinado pelo presidente da Funai em Roraima, explicando os objetivos da viagem à determinada comunidade indígena da Raposa. "Mesmo levando o documento, a Funai pode permitir ou proibir a entrada", comentou Oliveira. (E.R.)

Tuxaua diz que única mudança é na melhoria de vida dos índios

Se não fosse o aumento no preço do arroz, o cotidiano dos moradores de Uiramutã seria o mesmo. Enquanto alguns estão apreensivos porque não sabem como será a vida daqui para frente, o tuxaua de uma comunidade indígena no Uiramutã, Orlando Pereira da Silva, 63 anos, disse que não observa qualquer mudança ou motivos para preocupação.

Segundo ele, a única modificação que ocorreu desde a demarcação e homologação é que mudou para melhor a vida dos povos indígenas. "Antes, ninguém sabia de quem era a terra e agora, com esta decisão da Justiça, a terra é nossa e estamos trabalhando com mais segurança e responsabilidade. Estamos tendo uma visão mais de futuro", comentou o tuxaua.

Seu Orlando lembra que tinha oito anos de idade quando viu o primeiro branco chegar ao Uiramutã. Conforme ele, foi o cearense Samuel de Oliveira.

"Os brancos colocavam as coisas como queriam e nós tínhamos que aceitar. Eles trouxeram educação e saúde, mas nós já tínhamos saúde através dos remédios caseiros. Sem falar nas doenças e na poluição que mataram muito índio", comentou seu Orlando.

PROJETOS - O tuxaua Orlando afirmou que, com a retirada dos arrozeiros de dentro da Raposa Serra do Sol, os índios vão trabalhar com a criação de animais, peixe e mel.

Só que, para começar os trabalhos, seu Orlando comentou que os tuxauas vão se reunir com o presidente da Funai para solicitar projetos voltados para esses segmentos da agricultura.

PROIBIDO - Quanto à entrada de pessoas nas comunidades indígenas dentro da Raposa Serra do Sol, seu Orlando disse que a proibição é uma exigência dos tuxauas junto à Funai. "Isso é para evitar problemas, até porque tudo ainda é muito recente", ressaltou. (E.R.)
 

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