De Povos Indígenas no Brasil
Notícias
Informação como moeda de troca
17/03/2010
Fonte: O Globo, Razão Social, p. 10
Informação como moeda de troca
Índios Suruis, do Pará, fazem parceria com o Google para ter visibilidade
Camila Nobrega
camila.alves@oglobo.com.br
Em tempos de valorização da floresta, não há mais pequenas especiarias que satisfaçam indígenas. E, diferentemente do que se pensa, eles não ficam mais apenas à espera de propostas, mas estão à frente de muitas negociações. É o caso dos representantes da aldeia dos Suruís, localizada no Pará, que estão pondo em prática uma parceria com a multinacional Google para divulgar mais informações sobre a cultura e os projetos no território indígena no mundo digital. Um único ponto, polêmico, ainda não foi aprovado no contrato: a divulgação de informações sobre o território dos Suruís, dentro da Amazônia brasileira, menina dos olhos do mundo todo frente à crise climática que se avizinha.
Há dois anos, um dos líderes da aldeia, Almir Suruí, fez um primeiro contato com representantes do Google, durante um seminário em São Francisco, nos Estados Unidos, já com o objetivo de pensar numa parceria no futuro.
A ideia, segundo Almir, era ampliar a gama de informações disponíveis sobre a aldeia na internet, como uma forma de proteger a cultura do povo indígena e divulgar projetos ligados à floresta, num momento em que tanto se fala em manejo e valorização da floresta em pé. A iniciativa, contou ele, faz parte de um plano do povo Suruí para os próximos 50 anos:
- Eu mesmo fiz o contato com o Google. Muita gente acha que os indígenas não têm capacidade de gerir o próprio território de forma responsável e respeitando o meio ambiente, mas nós somos capazes. Estamos apenas buscando parcerias para viabilizar nossos projetos. Hoje, passamos por muitas dificuldades e estamos apostando na comunicação como uma das estratégias para não deixar nossos objetivos morrerem.
Segundo Almir, os principais projetos da aldeia são os de reflorestamento e de manutenção da floresta em pé, em uma área determinada. O primeiro foi avaliado como possível gerador de créditos a serem negociados no mercado de carbono. Já o segundo se trata de uma negociação de projeto de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (REDD), um mecanismo que é apontado como um dos principais meios de negociação da floresta. O contrato só está atrasado por falta de regulamentação desse tipo de projeto, já que não se definiram regras na Conferência de Copenhague. Com os dois projetos, os suruís já estão preparando acordos que giram em torno dos US$ 120 milhões, num período de cerca de 30 anos.
Desde o fim do ano passado, as informações sobre os projetos passaram a ser inseridas no Google pelos próprios índios, com ajuda de monitores da empresa que visitam a aldeia para ministrar oficinas de inclusão digital. E, com isso, o número de empresas interessadas nos projetos aumentou sensivelmente. O único ponto que ainda não foi posto em prática, e por isso está em discussão, é a inclusão de informações referentes a atividades de desmatamento dentro do território suruí.
Segundo Almir, a divulgação de imagens e informações sobre o assunto ajudariam a conter o problema, mas o governo brasileiro ainda não autorizou a proposta.
- Não vamos divulgar informações que possam oferecer algum perigo. Mas o Google tem acesso a satélites que poderiam ser importantes no combate ao desmatamento.
Temos que ter muita cautela na hora de fazer negociações desse tipo. Temos apoio de consultores e advogados. A Funai poderia estar mais presente - disse.
Procurado, o Google afirmou apenas que o projeto está em andamento e que novas oficinas de inclusão digital serão feitas.
É preciso haver política pública
Especialista
Nathalie Beghin, consultora da Oxfam
Em relação ao estabelecimento de parcerias como a dos Suruís com o Google, a assessora de advocacia da Oxfam International. Nathalie Beghin lembra que, em primeiro lugar, a autonomia de decisão do povo deve ser mantida, já que eles gozam de um território particular. Ela afirma, porém, que é necessário haver um acompanhamento muito próximo por órgãos do governo em negociações desse tipo:
- Não se pode passar por cima da autonomia dos indígenas, mas é importante acompanhar, porque eles estão em desigualdade de condições frente a grandes empresas. Tanto em parcerias, como em projetos de créditos de carbono, é preciso haver política pública. É legítimo que eles busquem uma forma de visibilidade para proteger território e cultura, já que o governo não dá conta. Mas é um debate importante que temos que travar.
O Globo, 16/03/2010, Razão Social, p. 10
Índios Suruis, do Pará, fazem parceria com o Google para ter visibilidade
Camila Nobrega
camila.alves@oglobo.com.br
Em tempos de valorização da floresta, não há mais pequenas especiarias que satisfaçam indígenas. E, diferentemente do que se pensa, eles não ficam mais apenas à espera de propostas, mas estão à frente de muitas negociações. É o caso dos representantes da aldeia dos Suruís, localizada no Pará, que estão pondo em prática uma parceria com a multinacional Google para divulgar mais informações sobre a cultura e os projetos no território indígena no mundo digital. Um único ponto, polêmico, ainda não foi aprovado no contrato: a divulgação de informações sobre o território dos Suruís, dentro da Amazônia brasileira, menina dos olhos do mundo todo frente à crise climática que se avizinha.
Há dois anos, um dos líderes da aldeia, Almir Suruí, fez um primeiro contato com representantes do Google, durante um seminário em São Francisco, nos Estados Unidos, já com o objetivo de pensar numa parceria no futuro.
A ideia, segundo Almir, era ampliar a gama de informações disponíveis sobre a aldeia na internet, como uma forma de proteger a cultura do povo indígena e divulgar projetos ligados à floresta, num momento em que tanto se fala em manejo e valorização da floresta em pé. A iniciativa, contou ele, faz parte de um plano do povo Suruí para os próximos 50 anos:
- Eu mesmo fiz o contato com o Google. Muita gente acha que os indígenas não têm capacidade de gerir o próprio território de forma responsável e respeitando o meio ambiente, mas nós somos capazes. Estamos apenas buscando parcerias para viabilizar nossos projetos. Hoje, passamos por muitas dificuldades e estamos apostando na comunicação como uma das estratégias para não deixar nossos objetivos morrerem.
Segundo Almir, os principais projetos da aldeia são os de reflorestamento e de manutenção da floresta em pé, em uma área determinada. O primeiro foi avaliado como possível gerador de créditos a serem negociados no mercado de carbono. Já o segundo se trata de uma negociação de projeto de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (REDD), um mecanismo que é apontado como um dos principais meios de negociação da floresta. O contrato só está atrasado por falta de regulamentação desse tipo de projeto, já que não se definiram regras na Conferência de Copenhague. Com os dois projetos, os suruís já estão preparando acordos que giram em torno dos US$ 120 milhões, num período de cerca de 30 anos.
Desde o fim do ano passado, as informações sobre os projetos passaram a ser inseridas no Google pelos próprios índios, com ajuda de monitores da empresa que visitam a aldeia para ministrar oficinas de inclusão digital. E, com isso, o número de empresas interessadas nos projetos aumentou sensivelmente. O único ponto que ainda não foi posto em prática, e por isso está em discussão, é a inclusão de informações referentes a atividades de desmatamento dentro do território suruí.
Segundo Almir, a divulgação de imagens e informações sobre o assunto ajudariam a conter o problema, mas o governo brasileiro ainda não autorizou a proposta.
- Não vamos divulgar informações que possam oferecer algum perigo. Mas o Google tem acesso a satélites que poderiam ser importantes no combate ao desmatamento.
Temos que ter muita cautela na hora de fazer negociações desse tipo. Temos apoio de consultores e advogados. A Funai poderia estar mais presente - disse.
Procurado, o Google afirmou apenas que o projeto está em andamento e que novas oficinas de inclusão digital serão feitas.
É preciso haver política pública
Especialista
Nathalie Beghin, consultora da Oxfam
Em relação ao estabelecimento de parcerias como a dos Suruís com o Google, a assessora de advocacia da Oxfam International. Nathalie Beghin lembra que, em primeiro lugar, a autonomia de decisão do povo deve ser mantida, já que eles gozam de um território particular. Ela afirma, porém, que é necessário haver um acompanhamento muito próximo por órgãos do governo em negociações desse tipo:
- Não se pode passar por cima da autonomia dos indígenas, mas é importante acompanhar, porque eles estão em desigualdade de condições frente a grandes empresas. Tanto em parcerias, como em projetos de créditos de carbono, é preciso haver política pública. É legítimo que eles busquem uma forma de visibilidade para proteger território e cultura, já que o governo não dá conta. Mas é um debate importante que temos que travar.
O Globo, 16/03/2010, Razão Social, p. 10
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